Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 4 de novembro de 2012

Mensagem ao Povo Americano

Americanos,

 A hora das grandes decisões está a chegar. Faltam poucas horas para que, mais uma vez, se abram as urnas e todos vós, de Washington ao Kentucky, exerçam o poder soberano do voto, para o lugar mais alto da nação — o cargo de Presidente dos USA.

 Falo-vos na qualidade de amigo, alguém que desde há muitos anos mantém pelo vosso país uma admiração especial, que por vezes se aborrece com as vossas escolhas e com a vossa orientação política, com o vosso capitalismo em certas circunstâncias feroz e desalmado, que ainda noutras ocasiões, vos tenta compreender e não consegue, que frequentemente acusa os vossos políticos de responsáveis por atrocidades, mas também o mesmo que se entusiasma com os fantásticos impulsos da grande nação americana nos domínios da Democracia e da Liberdade, com os avanços do vosso povo nos campos da investigação científica, da tecnologia espacial e da cibernética e se comove até às lágrimas com a grandiosidade e arrojo da vossa música, das artes, da literatura e do cinema; alguém que, como cidadão deste mundo, nos momentos difíceis ou em alturas de instabilidade global, clama, como muitos outros Estados, pela vossa proteção, se inspira na vossa experiência e anseia, tal como qualquer americano, que as coisas corram pelo melhor, e possam, dessa forma, estar ao lado e ser uma bandeira, um farol e um exemplo digno, para aqueles que ainda tateiam no escuro, à procura da luz que vocês, melhor que ninguém, estão aptos a proporcionar.

 Estão muitos de vós, neste momento, frente a um dilema: em quem devem votar. Dos dois lados vos solicitam que votem neles e no seu projeto, e, entre os dois, por vezes, o vosso coração ainda balança para lado incerto.

 Se vós, povo americano, me concederdes a suprema honra de convosco partilhar a ansiedade dos grandes momentos eleitorais, tomarei esta pequena ousadia de apontar-vos um caminho, que, considero, é para vocês a melhor escolha.

Penso, para mim, que Barack Obama é o candidato ideal para governar a América por mais quatro anos. Porque é um "self made man", bem ao gosto dos americanos, porque é dedicado, porque é um homem culto, moderado e generoso, e como já o demonstrou inúmeras vezes, tem lutado incansavelmente para que os mais desfavorecidos da vossa sociedade tenham acesso aos cuidados de saúde, como uma sociedade moderna e digna deve ter. Fez essa justa e importantíssima reforma e viu-a promulgada pelo Senado, como era o seu desejo e o de vários presidentes americanos antes dele. No campo da política económica, Obama recuperou a América do "crash" do setor bancário, após a queda do "Lehman Brothers". Efetuou a maior reforma do sistema financeiro e de Wall Street, desde a Grande Depressão, impondo regras que defendem o pequeno investidor dos riscos dos produtos tóxicos engendrados pelos bancos e pelos especuladores sem escrúpulos; manteve a economia americana no rumo certo, e soube exigir aos banqueiros refinanciados a devolução do dinheiro pago pelos contribuintes americanos.

Num dos períodos mais difíceis da história dos EUA, Obama compreendeu o enorme simbolismo das fábricas de automóveis e o valor que elas têm para a identidade coletiva dos americanos e não deixou morrer a industria automóvel; o slogan "GENERAL MOTORS IS ALIVE, BIN LADEN IS DEAD", é o verdadeiro retrato do mandato Obama.

Também demonstrou de forma categórica que defende os interesses nacionais, aquando do desastre na plataforma da BP, a Deepwater Horizon, em 2010, no Golfo do México, que afetou profundamente toda a costa do Louisiana, do "bayou" de New Orleans, à baía de St. Louis, no Missouri. Obama exigiu que a BP pagasse todos os prejuízos e indemnizações nas zonas afetadas pelo derramamento de petróleo, provocado pela rotura no poço.

Nos últimos dias o Presidentre soube acompanhar muito de perto os acontecimentos provocados pelo furacão Sandy, e segundo os relatos da imprensa teve um desempenho excecional; que por sinal foi amplamente elogiado pelo governador de New Jersey, Chris Christie, membro do partido rival, o Partido Republicano.

A sua atuação na política externa também tem sido de excelência. Dois exemplos apenas: a distensão das relações com Cuba, ao libertar vistos, remessas de dinheiro e viagens para essa ilha. Ao proporcionar a Cuba que enveredasse por um caminho de cooperação amigável. A bola está agora do lado do governo cubano, que teima em manter o isolamento contra toda a lógica racional.

O encerramento da prisão de Guantanamo, como foi a sua promessa na campanha pré-eleitoral de 2008, seria uma boa medida, mas traz consigo implicações de vária ordem, que escapam ao controlo do Presidente, temos de concordar. Barack Obama mandou regressar as tropas do Iraque e até 2014 as tropas americanas também sairão do Afeganistão. Por vontade sua terminou o tempo em que os homossexuais eram excluídos do exército e o célebre conceito "Don´t ask, Don´t tell", ficou enterrado para sempre neste mandato. Ao distanciar-se do primado da guerra, abriu uma nova perspetiva de paz e desenvolvimento, evitando gastos desmesurados para o orçamento da defesa e tragédias inimagináveis para as famílias americanas, ao mesmo tempo que canaliza esses recursos para projetos de criação de milhões de empregos dentro das fronteiras da Federação.

Ele estendeu a mão aos muçulmanos mais radicais, ao visitar a Universidade do Cairo, e aí proferir um eloquente discurso, logo depois da sua investidura como Presidente dos EUA; e soube manter o sangue frio de um verdadeiro general, ao comandar a incursão do comando "SEAL", dentro do Paquistão, na caça e morte de Bin Laden, sem parangonas, sem embandeirar em arco, nem usar a morte do maior inimigo da América como glória pessoal, e sem reivindicar para si próprio os louros da vitória.

Por tudo isto, ilustres amigos americanos, penso que deverão dar a Barack Obama a oportunidade e a honra para mais quatro anos de mandato. Será o justo prémio que poderão conceder, a quem durante todo este tempo não se afastou um milímetro que fosse dos propósitos da boa governação, dos valores familiares, de quem não se conhecem outros interesses para além dos deveres e obrigações do político para com a nação, e de lealdade ao povo americano.

So,
Vote Barack Obama

God Bless You, God Bless America
Thank You
J.L.F.

Nota sobre a Guiné-Bissau


Aquilo que se está a passar na Guiné Bissau é completamente inadmissível, revela um estado de desorientação e loucura generalizada da parte de alguns elementos do exército, que se entretêm a despoletar vinganças sangrentas para colmatar ódios antigos, motivados por disputas tribais e étnicas, esquecendo os interesses verdadeiros da população, que cada vez mais se afu

nda na fome, na miséria, no analfabetismo e nas doenças endémicas. A cólera, a sida e o paludismo grassam na região, a esperança média de vida desce para os quarenta e poucos anos e o atraso torna-se cada vez mais acentuado. Entretanto, a classe política e militar mais não faz do que provocar mortes em série, assassínios bárbaros e inomináveis.

O auto intitulado ministro dos negócios estrangeiros do governo de transição da Guiné Bissau tem proferido acusações muito graves, de extrema contundência e cinismo, contra o governo português, particularmente contra a nossa diplomacia e contra os serviços de informação portugueses. Acusações sem provas factuais nem documentação sustentada, sem notas diplomáticas nem memorandos comprometedores, sem testemunhos ou correspondência entre os intervenientes nas ações, de onde se possa deduzir alguma coisa, mas apenas com base em suposições e desconfianças. Ou será que exigir que provem o que dizem, é pedir demais a quem ainda se move dentro das velhas botas do tempo da guerrilha, da luta armada? Este indivíduo, vindo não se sabe de onde, palavroso e atrevido q.b., desenterrado de alguma trincheira de Madina do Boé, aparece em conferência de imprensa culpando Portugal de estar por detrás dos diversos golpes sangrentos, desde a morte de Ansumane Mané até ao assassinato de Nino Vieira. Se não fosse saber que só iria provocar mais isolamento, com o seu séquito de mais fome e miséria, atrevia-me a sugerir que fossem pedidas mais sanções e mesmo uma investigação às contas bancárias de alguns destes militares e o respetivo congelamento desses mesmos ativos; porque Portugal, livre da ganga colonial e já longe dos ciclos do Império, não pode permitir este tipo de acusações sem uma resposta forte e cabal. Ou então deixá-los com os seus esqueletos, com as suas obsessões e complexos, perpetuando-se em lutas fratricidas e paranoicas.

Quem começou por acusar Angola de interferência na estrutura militar, investe agora contra o pacífico Cabo Verde e contra os países da CPLP, após mais uma intentona igual à anterior, e à outra antes dessa, de proveniências difusas e com fins obscuros, está como que encostado à parede, chefiando um governo que ninguém reconhece e que cada vez se sente mais encurralado.

Culpar a diplomacia portuguesa de ingerência, de incitamento aos golpes de estado e à violência, é completamente descabido e insensato, extravasa os limites da razoabilidade e constitui uma falta de respeito por um parceiro, hoje considerado entre os países da CPLP como um irmão e companheiro de caminhada. Ver este dossier sob a perspetiva da traição permanente, só cabe na cabeça de frustrados e despeitados e apenas os conduz a maior isolamento e à total falta de credibilidade internacional. Ou será que o interesse de tudo isto radica na vontade de escapar à monitorização do tráfico de substâncias ilícitas?
Envolver e embrulhar o fugitivo ou refugiado, suposto responsável pela última tentativa de golpe, na bandeira portuguesa, entre agressões e insultos, apenas porque permaneceu algum tempo em Portugal após a intentona e daqui partiu para outro lugar qualquer, foi um ato de mau gosto, insultuoso e ignominioso e só classifica quem o faz, abaixo da linha, da fronteira entre aqueles que merecem a nossa consideração e os outros. Devemos dizê-lo alto e bom som.

Paulo Portas é o que é, um político europeu do sec.XXI, demasiado focado num tipo de democracia moderna (diplomacia económica, como ele diz), e que não sabe que o diálogo em África se inicia junto às raízes do imbondeiro. Este será o seu único pecado, podemos à vontade atribuir-lhe esses créditos. Mas entre isto e responsabilizá-lo por aquilo que se tem vindo a passar na Guiné, vai a distância da Terra à Lua, temos que frisá-lo. E estou tranquilo, para dizer o que digo, pois também o critico quando tenho que criticar. Podemos também acusá-lo de algum histerismo ou de certa ingenuidade, ou mesmo excessivo voluntarismo ao tratar com os africanos, na sua ânsia de justiça, ou melhor, com esta espécie de africanos. Porque não basta ter pele negra e nascer em África para nos auto rotularmos de mensageiros da negritude.

Somos africanos quando defendemos os valores da Liberdade e do Desenvolvimento, da sã convivência entre todos, dentro de África e dentro das fronteiras de cada país. O que eu queria mesmo, era ver estes senhores com bons projetos para o seu país, impondo-se pelo esforço e dedicação à causa do progresso e crescimento, e pela luta impiedosa contra o torniquete do subdesenvolvimento. Apenas isso e nada mais do que isso. Mas não é isto que hoje se passa na Guiné Bissau, sejamos muito claros. Na verdade, é fácil classificar o governo de Portugal de possuir atitudes colonialistas, quando o problema verdadeiro, hoje, na Guiné e noutros países de África, como a Nigéria (com recursos de petróleo que nunca mais acabam, e sobre a qual vimos há poucos dias um filme acerca da exploração desse ouro negro, à mão, pelos populares, que nem temos estômago para ver até ao fim), reside principalmente na vaidade e nos egos demasiado inchados, na falta de honestidade e de vergonha, e também na falta de capacidade para despir as vestes de colonizado; saber o que é colaboração e troca vantajosa de meios e "know-how"; exploração dos recursos do país para benefício dos cidadãos, humildade para analisar e copiar experiências com outros continentes mais avançados. Parece-me que esta é a incapacidade destes cavalheiros, militares e não só.

J.L.F.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Guiné-Bisssau: A Luta pela Liberdade


A “Marcha pela Paz”, da diáspora guineense, do passado sábado em Lisboa, veio demonstrar a maturidade deste povo que vem lutando pela democracia e pela liberdade no seu país. Os guineenses sabem exatamente aquilo que querem: a estabilidade e o progresso. Um caminho difícil, duro e agreste, mas que não passa por nenhuma forma de ditadura, nem civil nem militar. Quando em Portugal se comemora mais um 25 de Abril, o pensamento voa para África, para a Guiné-Bissau, gente trabalhadora e fraterna, do grande universo da língua portuguesa, mas que atravessa um momento sensível, uma fase extremamente complicada da sua história.
Que cessem os “putschs”, as intentonas armadas pelos generais de pacotilha, as detenções e os afastamentos forçados, os obuses e as Ak-47 dos tempos da guerrilha e que encontrem esse lugar de Paz e estabilidade. Só há uma escolha possível entre a Paz e a livre convivência e por outro lado a violência e a insegurança.

Portugal deve cumprir o papel de acicate, deve fazer despertar nos povos irmãos, que se encontram a lançar as raízes para um futuro de dignidade e prosperidade, o desejo pelo respeito das leis da república, pela Constitução, pelos direitos fundamentais e o afeto entre os cidadãos.

Alguém dizia há dias que em Angola vêm e ouvem com grande interesse os programas e debates sobre política da televisão portuguesa. Inclusivamente imita-se a postura, os tiques e até o respeito e carinho com que os portugueses se tratam entre si.

Pois é esse mesmo o papel que está reservado para Portugal. Deve ser o farol e o amigo sincero, onde os povos mais carenciados da CPLP podem encontrar o ombro amigo e o professor sábio que os aconselhem nos momentos difíceis, como é agora o caso da Guiné-Bissau.

Sem alaridos nem histerismos, deve colocar-se ao lado da ONU e das organizações africanas, não para ameaçar nem para impor, mas para mostrar os bens e as vantagens no exercício pleno da democracia.



 


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Linkin Park (Thirty Seconds To Mars - This Is War)




A Revolta da Deputada Cidinha Campos



Maria Aparecida Campos Straus, conhecida como Cidinha Campos é uma jornalista, atriz, radialista e política brasileira, filiada no PDT, desde 1990. É deputada estadual pelo Rio de Janeiro e é uma figura bem conhecida no Brasil.

Em 2010, Cidinha Campos tornou-se um fenômeno nas redes sociais Twitter e Facebook e no site Youtube, por conta de inflamados discursos proferidos da tribuna da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), sobre denúncias contra o também deputado estadual José Nader (PTB), que se auto indicou para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.  Cidinha acusa o parlamentar Nader e seus familiares pela prática de corrupção. (wikipedia)


É impressionante a proporção que pode tomar o monstro da corrupção alojado nas altas estrururas do Estado e a desfaçatez de quem faz do domínio público a sua coutada pessoal e dos seus familiares.
Aconteceu no Brasil, mas há em todo o mundo exemplos destes.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Pele de Um Lobo


O ex-inspetor da Polícia Judiciária e vice-presidente do Sporting Clube de Portugal, Paulo Cristóvão foi constituído arguido e sujeito a inquérito no âmbito de uma investigação de crime de denúncia caluniosa qualificada, na pessoa do árbitro assistente José Cardinal. Por esse motivo, auto suspendeu-se do cargo que ocupava no clube, com o fim, diz, de salvaguardar o bom nome da instituição, a que se dedica de alma e coração.

Paulo Cristóvão também foi arguido no caso Joana, em 2008, acusado de tortura, através de terceiros não identificados. Foi um dos inspetores envolvidos na investigação, tendo sido absolvido em sede de julgamento.

Em 2007 abandonou a P.J., após o caso Joana, tendo formado uma empresa de “Business Intelligence,”o que em linguagem normal significa que se dedica a espionagem de pessoas, perscrutando as suas vidas e os seus hábitos. Segundo a imprensa, esta firma prestava esse tipo de serviços ao Sporting, vendendo ao clube informação classificada, sobre jogadores e árbitros. Paulo Cristóvão é o“boss,” e tem alguns homens de mão para efetuar estas incursões clandestinas. Nada de outro mundo, diz o presidente do S.C.P. ─ Godinho Lopes. Segundo ele, o Sporting também tem uma empresa destas, para saber do comportamento de alguns seus colaboradores.

O processo começou por ser um possível caso de corrupção do auxiliar José Cardinal, depois de o árbitro ter recebido na sua conta bancária 2000 euros. A P.J. apurou que foi um dos colaboradores mais próximos do “big boss” e líder da claque do clube, quem depositou esse dinheiro na conta do árbitro, dias antes de um jogo entre o SCP e o Marítimo.

O Procurador-Geral da República, lesto e em fim de mandato, ufano e ansioso por mostrar trabalho, mostra-se à imprensa e declara que esta é mais uma prova de que, como sempre disse, também os dirigentes desportivos devem ser investigados tal como o cidadão comum.

Dificilmente haverá condenação alguma neste caso. Qualquer advogado estagiário minimamente conhecedor dos mecanismos processuais, percebe rapidamente que a montanha há-de parir um rato. O Código Penal português especializou-se em oferecer garantias e direitos excessivos a quem tem posses e pode contratar um defensor qualificado ou de nível elevado.

Mas agora Paulo Cristóvão está perante outro tribunal, porventura muito mais exigente: o da opinião pública, o dos seus concidadãos. Ele até pode ajudar à missa e tocar à concertina, lá na paróquia da sua aldeia, que não se livra da dúvida que paira sobre na mente do cidadão comum: porque é que o ex-detective parece sempre flutuar em terreno ambíguo, entre a lei pura e dura de um lado e a criminalidade comum do outro?

Já percebemos que não estamos propriamente perante o Capuchinho Vermelho. Parece-se com um lobo, tem pele de lobo e uiva como um lobo, então provavelmente é um lobo.

J.L.F.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tabu - Filme de Miguel Gomes



O terceiro filme do realizador Miguel Gomes, "Tabu", estreia  em Portugal, depois de ter sido premiado no Festival de Berlim, em Fevereiro.

"Tabu", realizado por Miguel Gomes, é uma co-produção entre Portugal, França, Alemanha e Brasil, e conta no elenco com Ana Moreira, Laura Soveral, Teresa Madruga e Carlotto Cota, entre outros.

O filme é uma saga a preto e branco, filmada em película, sobre um amor passado em Moçambique, há 50 anos, pouco antes da guerra colonial.

A primeira parte do filme, intitulada "Paraíso Perdido", é passada em Lisboa, relata a vida de três mulheres: Aurora (Laura Soveral), uma idosa temperamental, a sua empregada africana, Santa (Isabel Cardoso), e Pilar (Teresa Madruga), uma vizinha empenhada em causas sociais.

Na segunda parte, com o nome de "Paraíso", vemos a jovem Aurora (Ana Moreira) em África, mulher casada que trai o marido com o baterista de uma banda e comete um assassínio, no auge da tragédia amorosa.

O filme foi distinguido em Fevereiro, no Festival de Cinema de Berlim, com o prémio Alfred Bauer para a Inovação e com o prémio especial da crítica.


Aquele Querido Mês de Agosto - Filme de Miguel Gomes





 

Sinopse

No coração de Portugal, serrano, o mês de Agosto multiplica os populares e as actividades. Regressam à terra, lançam foguetes, controlam fogos, cantam karaoke, atiram-se da ponte, caçam javalis, bebem cerveja, fazem filhos. Se o realizador e a equipa do filme tivessem ido directamente ao assunto, resistindo aos bailaricos, reduzir-se-ia a sinopse: «Aquele Querido Mês de Agosto acompanha as relações sentimentais entre pai, filha e o primo desta, músicos numa banda de baile». Amor e música, portanto.

 

Bio-filmografia do realizador

Miguel Gomes, nasce em Lisboa em 1972. Estuda na Escola Superior de Teatro e Cinema e trabalha como crítico de cinema na imprensa portuguesa entre 1996 e 2000.
Realiza várias curtas metragens premiadas em festivais como Oberhausen, Belfort ou Vila do Conde e exibidas em Locarno, Roterdão, Buenos Aires ou Viena. Realiza em 2004 a sua primeira longa metragem, A CARA QUE MERECES. Em 2008, estreia o seu filme, AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO, na Quinzena dos Realizadores em Cannes, posteriormente exibido em mais de sessenta festivais internacionais onde recebe dezasseis prémios. São efectuadas retrospectivas do realizador, nomeadamente na Viennale (Aústria) em 2008, no Bafici (Argentina) em 2009 ou no Cinema Arsenal em Berlim (Alemanha) em 2010. Estreia a sua última longa-metragem,TABU, na competição oficial da Berlinale, onde recebe o prémio Aflred Bauer e o Fipresci.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Visões do Porto


Rua Cimo de Vila, Porto (Dez.2010)

Rua de Sta. Catarina, Porto (Dez.2010)

Rua de Sta. Catarina, Porto (Dez.2010)

Fotografias de J.L.F. com cãmara digital Canon

Visões do Porto


Rua Cimo de Vila, Porto (Dez.2010)

Rua de Sta. Catarina, Porto (Dez.2010)

Fotografias de J.L.F. com cãmara Canon digital

Visões do Porto


Igreja de Sto. Ildefonso, Porto (Dez.2010) 

Mercado do Bolhão, Porto (Dez.2010)

Fotografias de J.L.F., com Canon Digital

Visões de Lisboa

Elétrico de Lisboa, R. da Prata (8Abril 2012)

R. da Prata, Lisboa (8Abril2012)

Esplanada, Terreiro do Paço, Lisboa (8Abril2012)

Fotografias de J.L.F. c/ telemóvel Samsung

Visões de Lisboa



R. do Ouro, entrada para o elevador da Glória, Lisboa (8Abril2012)

R. do Ouro, Lisboa (8Abril2012)

Rio Tejo, Lisboa (8Abril 2012)
 Fotografias de J.L.F. c/ telemóvel Samsung



domingo, 8 de abril de 2012

Visões de Lisboa

Cais das Colunas, Terreiro do Paço (8Abril2012)


Praça da Figueira (8Abril2012)



Esquina da R. da Prata com a R. da Conceição (8Abril2012)

Fotografias de J.L. c/telemóvel Samsung

Visões de Lisboa

Terreiro do Paço, 8Abril2012 (fotografia c/telemóvel Samsung)

Rossio, 8Abril2012 (fotografia c/telemóvel Samsung)

Conceção Socrática


Há dias, no programa "Frente a Frente" da SIC, Ângelo Correia defrontava o líder da bancada parlamentar do Partido Socialista, Carlos Zorrinho. Falavam da situação interna do PS e A. C. apontou a mudança de liderança, como a principal causa das perturbações que o partido tem mostrado.

Assim, comparou a personalidade e o modo de fazer política do atual secretário-geral, com a do anterior, o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Refere o excesso de egocentrismo de Sócrates e para explicar o seu ponto de vista, não encontrou nada mais original do isto:

-“O PS no tempo de J.S. tinha uma conceção socrático-cêntrica, isto é, o centro do mundo, o centro do PS; a ideia era a imagem avassaladora, arrogante pouco dialogante do líder J.S… (Carlos Zorrinho não consegue esconder um sorriso irónico). Houve alguém que disse uma frase notável: J.S. tinha de si próprio uma noção tao forte e tao profunda, que ele nunca se designou na opinião pública, com o nome do pai ou da mãe, mas apenas pelo nome de si próprio. J.S. apenas, nunca o apelido do pai, ou o apelido da mãe; ou seja, é ele por ele, independentemente das suas origens e das suas raízes, ele é o centro do mundo, é a tal imagem socrático-cêntrica”.  

Não sei onde Ângelo Correia foi buscar estas teorias, este vocabulário “socrático” e estas análises pseudo freudianas da personalidade de J.S. Para um político que está preocupado com o estado da nação e imbuído do espirito de servi-la, o nome da mãe ou do pai, não têm relevância absolutamente nenhuma, a meu ver. Se J.S., na sua vida privada e de militante do PS, já era conhecido por esse nome, não sei por que carga de água haveria de ter mudado.

Não compreendo qual é o interesse para o país, que o primeiro-ministro use o nome do pai ou da mãe. Nos últimos anos do consulado de J.S., a sua vida familiar foi suficientemente verificada, até ao mais ínfimo pormenor e inspecionada à lupa, chegando ao ponto de serem analisadas as contas bancárias dos seus parentes mais chegados, com acusações de desvio de dinheiros para paraísos fiscais e fuga aos impostos. J.S. foi dos líderes políticos portugueses mais escrutinados e contra ele foi movida a mais feroz das campanhas, por parte da imprensa e da oposição. Não foi por não usar o apelido familiar que o antigo primeiro-ministro teve melhor ou pior desempenho, nem a avaliação do seu governo deixou de ser feita mais rigorosamente, por esse motivo.

 Não vejo realmente onde está a importância de trazer à colação os apelidos e a ascendência genealógica de um político.

J.L.F.

sábado, 7 de abril de 2012

Homofobia


Estou a fazer um esforço para tentar entender o que se passou com o músico jamaicano de "reggae", que está em Portugal. Mas então não é que foi permitido a este indivíduo fazer um concerto no Coliseu dos Recreios, sabendo-se que é um homofóbico  internacionalmente conhecido e que nos seus espetáculos insulta e pede a morte aos gays e a todos os que não seguem a sua orientação sexual?

 Não compreendo as autoridades. Por um lado dizem-se democratas e defensores da liberdade de pensamento e por outro, dão acolhimento a este tipo de comportamento público, por parte de quem incita à intolerância e à violência contra um grupo social do mais pacífico, correto e inofensivo que existe na nossa sociedade e que há demasiado tempo vem sendo desrespeitado e enxovalhado.

 Existe um vazio, quanto a este assunto, na legislação portuguesa. O IGAC (Inspeção Geral das Atividades Culturais), diz que não tem força legal para impedir esta forma de descriminação, baseando-se na lei em vigor, de 1995. Para a funcionária do IGAC, responsável pelo pelouro, existe a possibilidade de "eventualmente, suscitar, num futuro, que se crie algum mecanismo para impedir casos idênticos, conforme cita o "Jornal de Notícias." 
O DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal), também tem a mesma opinião e informa, segundo o JN, que não possui mecanismos legais para criar obstáculos à atuação do músico.
Há uma entidade em Portugal com poder para proibir a descriminação de género, mas não de sexo. A Comissão para a Igualdade de Género (CIG), dependente da Presidência do Conselho de Ministros, é um organismo que tem não só capacidade de aplicar contra ordenações, como é responsável pela aplicação do Plano Nacional da Igualdade, mas não se mostrou apto a resolver a questão, diz o JN.
Leio que Paulo J. Vieira, da Associação “Não te Prives” e que é um dos manifestantes à porta do Coliseu, invoca o artigo 13º da Constituição Portuguesa, que consagra a não-descriminação por orientação e chama a atenção para a sua violação, neste caso. Entretanto há um manifestante que é levado pela polícia, para a esquadra, para ser identificado.

 Acho isto tudo de uma grande indigência e não posso deixar de criticar a passividade das entidades oficiais. Não consigo compreender, como quem de direito, se escuse com uma lei de há quase vinte anos. O ramo dos espetáculos musicais tem estado muito ativo na última década, ou mesmo nos últimos vinte anos e é dos setores mais dinâmicos e em permanente mutação no mundo. Criatividade, modernização dos meios tecnológicos, transformação e inovação, são acontecimentos diários, mas parece-me que entre nós nos resumimos ao Pedro Abrunhosa, aos Ídolos, às imitações do António Sala e a pouco mais do que isso; ou a recebê-los cá e a tratar qualquer borra-botas estrangeiro, como lorde. Há exemplos de cidades como Málaga, Madrid, Valência, Barcelona, Toronto, Montreal, onde foram cancelados os concertos deste mentecapto. A Inglaterra e a Suécia chegaram mesmo a barrar a entrada no país, a este adepto da cultura “rastafári” e com uma certa interpretação radical da mesma. Pelo que sei, o maior ícone do “reggae” e do “rastafarismo”, Bob Marley, não seguia esta filosofia de exclusão e extermínio.

É completamente bizarro que após meses e meses de discussão, debate e aprovação do casamento homossexual, ninguém se tenha lembrado de criar um mecanismo, ou fazer uma simples apêndice à lei, contemplando também a discriminação sexual.

É caso para perguntar muito diretamente, o que andam estes senhores a fazer, a dormir? E também pergunto às associações de gays e lésbicas por que motivo se mostram sempre tão passivos e não criam um verdadeiro “lobby,” a fim de valer os seus direitos? Como é que deixam passar em claro este buraco na legislação?

Há uma linha de pensamento muito enraizada nas várias camadas da sociedade, na cultura popular, mas também entre as elites, que se isenta de tudo o que não nos diz diretamente respeito. Parece-me que alguém que não devia, está a confundir os conceitos e a entrar numa espécie de farsa, onde se tenta aparentar algo e depois se deixa acomodar num laxismo vergonhoso, do tipo “laissez faire, laisser passer” e vira a cara para outro lado, com a desculpa de que os outros também têm o direito de se manifestar.

É um pensamento errado e perigoso. Porque somos livres, implica que nos obrigamos a defender até às últimas consequência esse estado e não deixar que alguém venha vilipendiar e maltratar os nossos concidadãos. Quando nos declaramos democratas e acima de tudo defendemos os valores civilizacionais do séc.XXI, estamos automaticamente comprometidos e assumimos em toda a plenitude esse desiderato. Não podemos de modo algum cumprir uma metade e deixar a outra para quando nos apetecer. Isso não é absolutamente nada e dessa forma não se é democrata coisíssima nenhuma, nem aqui nem na Conchichina.

J.L.F.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um Manual de Maus Costumes


A arbitragem que calhou aos dois jogos do Benfica com o Chelsea, para acesso às meias-finais da “Champions”, foi um verdadeiro manual, um compêndio da arte de arbitrar tendenciosamente, favorecendo um dos lados.

Um penalty perdoado ao Chelsea, no primeiro jogo e a expulsão do lateral direito do Benfica, ontem, em Stamford Bridge, aos 39 minutos, para além de variadíssimos cartões amarelos logo à entrada, de um jogo pacífico e sem grau de risco elevado, condicionaram e prejudicaram francamente uma das equipas, neste caso o Benfica.

Duas arbitragens habilidosas e facciosas empurraram o Benfica para a porta de saída da Liga dos Campeões. É pena que uma entidade como a UEFA, que se presume pugnar pelo desportivismo e pelo “fair-play”, permita este tipo de atuação por parte da arbitragem, em dois jogos consecutivos, de uma competição que deveria ser exemplar e estar acima de interesses mesquinhos. Afinal, não sei o que ganha ao premiar o Chelsea do multimilionário Roman Abramovich. Ou haverá alguma ligação e negócios com o senhor Rupert Murdoch, “owner” da cadeia de televisão BSkytB?

Não quero falar em presentes, longe de mim, mas que este é uma oferta que o Chelsea não merece, isso é verdade. O Chelsea jogou mal, vagaroso e com uma atitude sobranceira. Valeu-se do empenho e da garra de jogadores como Ramirez e David Luís, que souberam imprimir qualidade a esta equipa em fim de ciclo. Frank Lampard é uma sombra do Lampard dos tempos de Mourinho, quando marcava o ritmo e a cadência do Chelsea.

O Benfica jogou bem, mesmo com uma defesa de recurso, com um trinco e um lateral esquerdo como centrais; pressionou o adversário e durante largos minutos tomou conta do jogo e mesmo a jogar com dez, terminou a partida na área do Chelsea, procurando o golo.

De lamentar no Benfica a falta de um playmaker com fôlego para 90 minutos, porque Pablo Aimar, pese embora toda a sua qualidade, já não tem essa pujança; e principalmente, de um ponta de lança de categoria inquestionável, porque Cardoso não é definitivamente o goleador que o Benfica precisa e Nelson Oliveira e Rodrigo ainda não são os “strikers” para resolver um jogo na alta competição. O Benfica necessita de um verdadeiro homem de área, com mobilidade e sentido do golo, sob pena de construir seis ou sete oportunidades e não acertar na baliza do adversário.
                                                                          J.L.F.                                                                                                                 

Aconteceu em Armamar


Aconteceu ontem, em Armamar, distrito de Viseu. Dois irmãos, operários da construção civil, trabalhavam nas obras de uma mercearia. Perto, havia uma câmara frigorífica, para conservação de fruta. Trata-se de uma câmara especial, de ar controlado, o que significa que lá dentro, só existe um por cento de oxigénio. Quer isto dizer que, em caso de entrada indevida, por assalto, ou desconhecimento do risco, é morte certa, sem apelo nem agravo.

Segundo os jornais, existem avisos de segurança e a porta de acesso está fechada à chave. Mas há uma janela lateral, uma portinhola, uma espécie de vigia, por onde eles espreitam para controlar a temperatura. A acreditar no que diz um funcionário da empresa, foi por aqui que os dois operários entraram para a referida câmara, com o intuito talvez, de matar a fome que lhes roía os estômagos. Não devem ter visto os avisos, pois não acredito que, se os tivessem lido, entrassem à mesma.

À primeira vista parece-nos que tudo está conforme a lei, mas talvez não seja bem assim. Este tipo de instalação, sem escapatória, nem recurso a alarme interior, mais se assemelha a uma ratoeira que a um verdadeiro local de trabalho. Conhecendo como conheço a nossa classe empresarial, e habituado a ver tanto encolher de ombros e lavar de mãos, tenho dúvidas que esta seja a melhor forma de manter em funcionamento um equipamento com estas caraterísticas.

Será que é exatamente isto que recomendam os preceitos de segurança para as câmaras frigoríficas? Se é, está mal, não deviam funcionar desta forma tão letal, sem margem para erros, sem uma pequena saída de emergência, nem oxigénio adicional, pois trata-se de homens e mulheres que no seu dia-a-dia de trabalho permanecem neste local e todos os cuidados são poucos, não devendo haver por isso lugar para estas autênticas armadilhas para lobos. Estará este género de dispositivo conforme as normas da UE? De tanto ver atropelos à lei e desrespeito pela legislação, fico bastante desconfiado.

Desta vez foram dois operários alheios à empresa, feitos ratoneiros de maçãs. Amanhã poderão ser outros, que se esqueçam das normas restritas e inadvertidamente entrem nesta morgue.

Deixo uma sugestão à ASAE: talvez seja altura para fazer uma vistoria completa, aos sistemas de segurança das câmaras de refrigeração e conservação de frescos, de norte a sul do país.

J.L.F.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Vítor, o Constâncio


Vítor Constâncio apareceu há dias; andava há algum tempo desaparecido. Esse mesmo, o tal que não se apercebeu da situação financeira do país, quando exercia funções de Governador do Banco de Portugal. Nem tão pouco, viu algo de anormal, no colossal buraco financeiro do BPN, quando tinha como missão a supervisão prudencial das instituições de crédito, a sua regulação e fiscalização, como proclamam os estatutos do BP. Diz-se por aí que nem atas havia das reuniões da direção do BPN. A farsa era total, completa.

Como prémio pela excelência do desempenho, passou-se para Bruxelas, para o Banco Central Europeu, pois que Portugal escaldava de incertezas. Sentava-se ao lado de Jean- Claude Trichet, quando este anunciava semanalmente as subidas das taxas de juro e o país abria a boca de incredulidade. Ele, o eterno pajem, dizia que sim, concordava com o chefe e lá vai mais uma subida.

Para mostrar que existe e que ainda tem voz, fez uma suave e discreta declaração, a modos de aviso à navegação, esfregando as mãos de prudência, e coçando o queixo caído de tanta ponderação; anunciou o que todos já sabemos: que talvez, poderá ser que sim, vamos a ver, só o futuro dirá…

Mas agora a política do BCE é outra e é um outro, o seu senhor, o seu amo. Mario Draghi, o italiano, é de opinião que se devem baixar os juros para assim dinamizar as economias da zona euro. E também não o quer para nada, já não o leva pela trela às reuniões, nem aos briefings com a imprensa. E como alguém já disse, nem tão pouco lhe dá a palavra.

Veremos qual é a próxima jogada desta excelsa personagem.

J.L.F.




Até quando?


O fim do 13º e do 14º mês deverá durar até 2013, enquanto durar o programa de ajustamento, mas na apresentação da mais recente avaliação da implementação deste programa por Portugal, Peter Weiss, o chefe adjunto da missão da “troika”, não descarta a possibilidade de tal medida vir a assumir carácter permanente.

Mas então até quando é que vai o mandato da “troika”? Quando é que recuperaremos a autonomia sobre as nossas finanças públicas? Como é que o sr. Peter Weiss, que apenas é um funcionário do triunvirato que gere Portugal, durante a vigência do memorando de entendimento, mas com poder limitado, apenas durante este tempo, se atreve a fazer considerações desta natureza?

Será que quando acabarmos de pagar os colossais juros e formos outra vez donos e senhores das nossas contas, estes senhores continuarão a mandar nos ordenados dos funcionários públicos? Terão eles alguma coisa a ver, se em Portugal se paga mais um mês ou dois, para além do que eles pagam nas suas terras? Mas que é que o sr. Peter Weiss tem a ver com isso?
 
Olhe, sr. Weiss, vá mamar  na quinta pata do cavalo de D. Pedro!

J.L.F.

A Intentona


Todos nós conhecemos a genialidade do prof. Marcelo. Tem uma inteligência fulgurante, tipo relâmpago. Nada todos os dias, no Guincho, à hora do almoço; basta-lhe quatro horas de sono por noite; é ambidextro a escrever, é capaz de ler em diagonal, dita dois textos ao mesmo tempo. É um opinion maker e comentador televisivo da mais fina água. Tanto discorre sobre política, como fala sobre futebol, ou sobre pintura, como disserta sobre direito, do alto da cátedra de professor universitário.

É também praticante de karaté e acaba de aplicar um golpe em cutelo, na direção do Partido Socialista. Descobriu o pintelho na cabeça de um careca e levou a uma crise de nervos a bancada parlamentar do PS, que já os tinha em pedaços.

No comentário de domingo, o prof. Marcelo acusa António José Seguro de “golpada” por ter efetuado uma alteração dos estatutos, visando o prolongamento do mandato do secretário-geral, violando assim uma norma que obriga a um mandato do congresso, para concretizar tal manobra. “O pior é que as pessoas vão pensar: se o homem faz isto enquanto é líder da oposição, o que fará quando for primeiro-ministro?”, questionou Marcelo Rebelo de Sousa.

Depois, experimenta outro golpe de karaté, um soco com o punho fechado – o kara zuki: diz Marcelo que nem Sócrates na sua melhor forma conseguiu tal façanha.

Mas vai mais fundo e sentencia a vítima com um morote zuki (com os dois punhos fechados) direto ao plexo solar de António J. Seguro: explica a verdadeira motivação da intentona. Seria para cortar o caminho a António Costa e afastá-lo de uma possível candidatura a secretário-geral do PS.

 Convenhamos que além de genial é maquiavélico, este professor. Com três golpes de karaté põe em debandada e à beira do "knockout" a ala segurista do PS.

J.L.F.

Na Flórida, vale a "Shoot First Law"


No estado da Flórida, nos USA, existem leis curiosas, sobre o uso de armas de fogo e a legítima defesa.

É permitido a qualquer cidadão atirar a matar, desde que tenha indícios “razoáveis,” indicando uma ameaça contra si mesmo ou outras pessoas. É a designada “Shoot First Law”.  Nos termos da lei, basta que a pessoa se sinta ameaçada ou que entenda que a sua vida está em perigo para ter o direito de matar.
 
Na morte de Trayvon Martin, a polícia nem tentou prender George Zimmerman, o homem que disparou sobre ele.  Declarou à imprensa que, se o prendesse, poderia ser processada, por infringir a lei do estado a  "Stand Your Ground Law" (Lei não ceda terreno).

Esta lei do estado da Florida, aprovada em 2005 pelo então governador Jeb Bush (irmão do ex-presidente George Bush) e subsequentemente copiada por mais 15 estados americanos, mudou o conceito de legítima defesa, seguindo os preceitos de uma outra lei, conhecida como "Castle Doctrine" (Doutrina do Castelo), e "Defense of Habitation Law" (Lei da Defesa da Habitação). A doutrina da legítima defesa previa que a pessoa tinha a obrigação de recuar antes de usar "força fatal", e só poderia usá-la como último recurso. A "Castle Doctrine" estabeleceu que o cidadão, quando é ameaçado dentro de sua casa, não tem de recuar coisa nenhuma. Pode matar, com garantia da imunidade prevista no princípio da legítima defesa. A doutrina, com raízes na "Common Law", prescreve que a casa é "o castelo do cidadão".

A "Stand Your Ground Law" absorveu esse conceito e o estendeu para virtualmente qualquer lugar no estado — a rua, o campo de basquete, o bar, o restaurante, a calçada pela qual o estudante Trayvon caminhava com um lanche e um refrigerante, que comprara na loja, enquanto falava com a namorada pelo celular e usava o capuz da jaqueta sobre a cabeça, porque chovia.

Depois de aprovada, a lei ganhou rapidamente um apelido: "Make my Day Law" (em tradução livre, "Lei Ajude-me a Ganhar O Dia").. Pela lei da Flórida, basta que o autor do crime forneça à polícia uma argumentação plausível para sustentar a legítima defesa. A acusação não pode, obviamente, contestar com a versão da vítima.

Para um grande número de americanos, essa lei da Flórida passou dos limites. E, recentemente, ganhou mais um apelido dos seus oponentes, segundo o site da MSNBC: "Shoot First Law" (Lei Atire Primeiro) — apelido derivado da expressão "atire primeiro, pergunte depois", que muitas vezes foi atribuída, nos filmes de "western", aos bandidos mexicanos. Para um colunista do jornal Orlando Sentinel, os habitantes da Flórida estão revivendo o Velho Oeste.

De acordo com o New York Times, um levantamento de 65 casos semelhantes ocorridos na Flórida que resultaram em mortes revelou que, em 57 deles, sequer houve indiciamento criminal. Em sete outros, a denúncia foi apresentada à Justiça, mas os réus foram absolvidos. A Suprema Corte da Flórida já decidiu que, com base nessa lei, os juízes podem rejeitar as denúncias, antes mesmo de iniciar o julgamento. Isso porque, segundo a Corte, a lei dá ao réu o que se chama de imunidade verdadeira.

A venda de armas cresceu substancialmente na Flórida, e nos outros estados que copiaram a lei, depois da aprovação da "Stand Your Ground Law". A lei foi aprovada graças, em boa medida, ao forte lobby da National Rifle Association (NFA), a associação americana que reúne os fabricantes de armas dos EUA . A organização,  considerada o grupo mais influente de lobby por parlamentares e assessores do Congresso dos EUA, segundo uma pesquisa da revista Fortune, declara-se defensora dos direitos de porte de arma, garantidos pela Segunda Emenda da Constituição do país.

O procurador-geral do estado da Flórida, Willie Meggs, que lutou contra a aprovação dessa lei quando ela foi proposta, disse ao New York Times que as consequências da "Stand Your Ground Law" têm sido "devastadoras" em todo o estado. Contou que a lei tem sido usada por membros de gangues em guerra com outros gangues, traficantes em guerra com outros traficantes, bem como por namorados ciumentos em bares, que usam revólveres, facas e até mesmo um quebrador de gelo, como já aconteceu, para matar os seus desafetos. E relatou que o estado perdeu um caso contra um homem que já estava no seu carro para ir para casa, mas, com muita raiva por causa de uma discussão com outro homem que havia sentado no seu veículo, pegou numa arma no porta-luvas, abriu a porta, desceu, caminhou até perto dele e matou-o com um tiro.

J.L.F.


sábado, 31 de março de 2012

"Elogio ao Amor", por Miguel Esteves Cardoso


“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


Miguel Esteves Cardoso


quinta-feira, 29 de março de 2012

The shooting of Trayvon Martin




A morte de um adolescente afro-americano na Florida está a gerar um debate sobre o estado das relações raciais na América na era Obama.
A morte do adolescente Trayvon Martin continua a agitar a sociedade norte-americana. O jovem afro-americano, de 17 anos, foi morto na noite de 26 de Fevereiro com uma bala no peito disparada por George Zimmerman, um voluntário que fazia a vigilância nocturna num condomínio privado em Sanford, nos subúrbios de Orlando.
Trayvon acabara de sair de uma loja de conveniência, não estava armado e vestia uma camisola com capuz.
Ontem, o congressista do Partido Democrata Bobby Rush, eleito pelo estado do Illionois desde 1993 e antigo membro do grupo Panteras Negras na década de 1960, encenou um protesto em pleno Congresso, ao discursar vestido com um capuz e óculos escuros. "A discriminação racial por parte das autoridades tem de acabar, sr. presidente", declarou o congressista, afirmando depois que "o facto de alguém usar um capuz não faz dele um vadio".


Trayvon Martin, de 17 anos, foi morto numa noite chuvosa quando saiu de casa para ir a uma loja de conveniência. George Zimmerman, o voluntário encarregado da vigilância nocturna de um condomínio privado em Sanford (um subúrbio de Orlando), suspeitou de Trayvon e alertou a polícia. A polícia disse-lhe que ia enviar um agente e pediu-lhe para não fazer nada. Mas Zimmerman seguiu Trayvon. Zimmerman diz que Trayvon tentou atacá-lo. Zimmerman estava armado, Trayvon não. As únicas coisas que tinha consigo eram o pacote de rebuçados e a lata de chá gelado que comprara na loja de conveniência. Trayvon morreu com uma bala no peito.

Zimmerman, de 28 anos, alegou ter atirado em legítima defesa. A polícia disse não ter encontrado nenhum indício que demonstrasse o contrário e deixou Zimmerman partir sem sequer incriminá-lo. Caso encerrado.

Isto aconteceu há quase um mês, a 26 de Fevereiro. Mas o que começou por ser uma história de crime local adquiriu proporções nacionais na última semana. Trayvon Martin era negro, George Zimmerman é branco. A sensibilidade racial do caso trouxe ao de cima memórias da era dos direitos civis na América. Na quarta-feira, os pais de Trayvon, Tracy Martin e Sybrina Fulton, participaram numa marcha com cerca de mil pessoas em Nova Iorque, muitas delas encapuzadas, numa homenagem a Trayvon, que usava uma camisola com capuz na noite em que foi morto. Objectivo: exigir a investigação do caso. Na quinta-feira à noite, umas 30 mil pessoas concentraram-se em Sanford. Há várias concentrações do género noutras cidades americanas anunciadas no Facebook para os próximos dias. Uma petição lançada pelos pais de Trayvon no siteChange.org tinha até ontem quase um milhão e meio de assinaturas e o número estava a crescer rapidamente.

Anteontem, na sua primeira página, o Washington Post referia-se ao início de um movimento.

O Departamento de Justiça, chefiado pelo afro-americano Eric Holder, decidiu investigar os acontecimentos, incluindo a forma como as autoridades locais actuaram. E ontem o Presidente garantiu que o caso será investigado até às últimas consequências. "Se eu tivesse um filho, ele seria parecido com o Trayvon", disse Obama.

A raça importa
"Isto é mais um exemplo de como a América não vive numa era pós-racial", diz ao PÚBLICO Andra Gillespie, professora de Ciência Política na Emory University, na Georgia (Atlanta), especializada em questões raciais. "Toda a gente pensava que quando o Presidente Obama fosse eleito ia ser o fim do racismo e a questão da raça deixaria de ter importância. Mas a raça importa e custou a vida a este jovem."

Não existem muitos detalhes sobre o que aconteceu na noite de 26 de Fevereiro. George Zimmerman, o homem que disparou sobre Trayvon Martin, nunca falou publicamente sobre o caso. Sabe-se que mudou de casa depois de, alegadamente, ter recebido ameaças de morte. O seu pai, Robert Zimmerman, enviou uma carta ao jornal Orlando Sentinel negando acusações de que George é racista. Ele nota que George é um hispânico "com muitos familiares e amigos negros" e que "seria a última pessoa a discriminar alguém por qualquer razão".


A polícia de Sanford divulgou publicamente a gravação do telefonema que George Zimmerman fez para o 911 nessa noite - e que tem alimentado o debate sobre se a sua actuação foi ou não motivada por questões raciais. No telefonema, Zimmerman descreve "um tipo muito suspeito", que "parece estar a preparar alguma ou estar sob o efeito de drogas". Mas o comportamento de Trayvon não parece  particularmente suspeito ou ameaçador. Zimmerman diz que "está a chover e ele está a andar e a olhar em volta". A certa altura, Zimmerman nota que Trayvon começou a correr. "Você está a segui-lo?", perguntam-lhe do outro lado da linha. Zimmerman responde afirmativamente. "OK, não precisamos que faça isso." Essa é a mesma gravação que a CNN tem dissecado nos últimos dois dias, para tentar determinar se Zimmerman murmurou ou não um particular epíteto racista durante o telefonema. Apesar dos esforços, o resultado não é conclusivo. Mas, para muitos comentadores afro-americanos, o caso tem um ar de familiaridade. "Para qualquer homem negro na América, do milionário ao mecânico, a tragédia de Trayvon Martin é pessoal. Podia ter sido eu ou um dos meus filhos. Podia ter sido qualquer um de nós", escreveu Eugene Robinson, colunista do Washington Post. Touré, um escritor e jornalista que publicou recentemente um livro sobre a América pós-racial, comentou na revista Time: "A masculinidade negra é uma condição potencialmente fatal."

Numa altura em que o racismo é socialmente condenado, o caso Trayvon Martin parece reflectir um factor mais enraizado na cultura popular americana: a percepção de um negro como uma figura ameaçadora. "Os Estados Unidos têm uma história infeliz de discriminação racial, em que os negros são vistos como sendo mais propensos à criminalidade. Por isso, mesmo que tenham um comportamento normal e rotineiro, têm de lidar com o estereótipo de que estão prestes a cometer um crime", diz Andra Gillespie. Charles Blow, um colunista do New York Times, chamou-lhe "o fardo dos rapazes negros". É por isso que alguns pais afro-americanos ensinam os seus filhos adolescentes a não correr em público com algo nas mãos - para que ninguém pense que cometeram um roubo.

O Departamento de Justiça decidiu abrir o seu próprio inquérito em conjunção com o FBI, depois de as críticas dirigidas ao Departamento de Polícia de Sanford terem subido de tom nas últimas semanas. Mas especialistas notam que muito dificilmente o caso poderá ser julgado como um crime federal. A lei federal de 1964 penaliza crimes de ódio motivados por questões raciais, mas o homicídio de Trayvon Martin não parece aplicar-se a nenhum dos cenários previstos, nota ao PÚBLICO Stephen A. Saltzburg, professor na Faculdade de Direito da Universidade de George Washington.

Um tribunal local da Florida também está a analisar o caso - um grand jury deve pronunciar-se a 10 de Abril sobre a eventual abertura de um processo judicial. Saltzburg acredita que a intenção do Departamento de Justiça é, sobretudo, pressionar o estado da Florida. "O Governo federal está a tentar que a Florida faça o que deve fazer. É verdade que o chefe da polícia de Sanford resolveu tirar uma licença sem vencimento hoje? Quer dizer que está a resultar."

O chefe da polícia Bill Lee anunciou quinta-feira que se ia afastar temporariamente das suas funções. Horas depois, o governador da Florida, Rick Scott, anunciou que o procurador estadual encarregado do caso também se tinha retirado e indicou o nome da nova procuradora.
A morte de um adolescente afro-americano na Florida está a gerar um debate sobre o estado das relações raciais na América na era Obama.

In "Publico" 29.03.2012

Morreu Millôr Fernandes, aos 87 anos, no Rio de Janeiro


Millôr Fernandes

Biografia
Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto de 1923, contudo foi registrado em 27 de maio de 1924. Por isso, em diversos lugares, o ano de nascimento aparece como 1924. Perdeu o pai dois anos após seu nascimento e a mãe cerca de seis anos depois. "Tive a sensação da injustiça da vida e concluí que Deus em absoluto não existia", escreveu sobre a infância na capital carioca.

Em 1938, deu início a sua carreira de jornalista, como repaginador da revista O Cruzeiro. No mesmo ano, escreveu o conto A Cigarra, ganhou um concurso da revista e foi promovido para o arquivo. Mais tarde, assinava a coluna Poste Escrito, sob o pseudônimo de Vão Gogo. Dirigiu também a revista em quadrinhos O Guri e Detetive, de contos policiais.

Em 1940, começou a colaborar com com seção As garotas do Alceu, como colorista. Em 1942, fez sua primeira tradução literária, do romance A estirpe do dragão, da americana Pearl S.Buck. Em 1946, lançou Eva sem costela - Um livro em defesa do homem, sob o pseudônimo de Adão Júnior. No nao seguinte, sua participação na revista O Cruzeiro já atingia a marca de dez seções por semana. Em alta, encontrou-se com Walt Disney, Vinicius de Moraes, César Lates e Carmen Miranda nos Estados Unidos, em 1948.

No ano seguinte, assinou seu primeiro roteiro para o cinema, com Modelo 19, filme que ganhou cinco prêmios Governador do Estado de São Paulo, entre eles Melhores diálogos para Millôr. Em 1951, lançou a revista Voga, que não fez sucesso. Em 1955, dividiu com o desenhista americano Saul Steinberg o primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, na Argentina. Nesse ano escreveu as peças Bonito como um Deus, Um elefante no caos, que lhe rendeu um prêmio de Melhor Autor pela Comissão Municipal de Teatro, e Pigmaleoa.

Em 1962, na edição de 10 de março de O Cruzeiro, passou a assinar como Millôr. Em 1969, foi um dos fundadores do jornal O Pasquim. Um ano depois, deixa a revista e começa a trabalhar no jornal Correio da Manhã. Em 1974, lançou a revista Pif-Paf, que fechou em seu oitavo número, por problemas financeiros. No ano seguinte, escreveu para Fernanda Montenegro a peça É..., que se tornou o seu grande sucesso teatral.

Em 1996, passou a colaborar com os jornais O Dia, O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Ao longo se sua carreira, escreveu mais de 30 livros em prosa, três de poesia, além de mais de quinze peças para teatro. Depois de colaborar com os principais jornais brasileiros, passou a escrever para a revista Veja em setembro de 2004. Ele deixou a revista em 2009.


                                                                                      


Morreu Chico Anysio


Chico Anysio

O humorista brasileiro Chico Anysio morreu aos 80 anos de idade devido a problemas cardíacos, anunciou o Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.
 
Anysio, conhecido pelos mais de 200 personagens que criou, como o professor Raimundo e o vampiro Bento Carneiro, estava internado desde 22 de dezembro devido a uma hemorragia digestiva que foi seguida de infeção pulmonar e complicações renais.
Em 65 anos de carreira, Chico Anysio tornou-se um dos maiores humoristas do Brasil, com destaque na televisão, no teatro, no cinema e na rádio.

Rádio e TV

"Foi no Rádio Guanabara, ainda nos anos 50, que os seus tipos cômicos começaram a surgir. Até o “talento para imitar vozes”, como o proprio Chico descreveria em seu site, evoluir para a televisão. A estreia aconteceu em 1957, na extinta TV Rio, no programa “Aí vem dona Isaura”. Foi lá que o Professor Raimundo teve sua primeira aparição no vídeo, como o tio da protagonista que vinha do Nordeste — até então o programa só havia sido veiculado pelo rádio.

“Até tinha uma coisa de sentar para criar, mas uns nasceram pela voz, outros pelo tipo, pela personalidade, pela caracterização. Sempre fiz questão de que eles fossem encontrados sem que eu estivesse presente. Que alguém dissesse: "'Na minha terra, tem um Pantaleão. No Rio tem muito Azambuja’”, explicou o humorista ao “Estado de S. Paulo”, em 2009.

Num tempo em que ainda não existiam contratos de exclusividade, Chico pôde fazer participações especiais em programas de outras emissoras e em chanchadas da Atlântida.
O “Chico Anysio Show”, seu primeiro programa de humor, foi lançado no início da década de 60. Foi ao ar pela TV Rio, depois pela Excelsior e em 1982 voltou a ser exibido pela Rede Globo — onde o humorista já trabalhava desde 1969.
Mas foi na Globo que teve seus programas humorísticos de maior sucesso e onde desenvolveu a maioria de seus personagens. Entre as atrações, destaque para “Chico city” (1973-1980), “Chico total” (1981 e 1996) e “Chico Anysio show” (1982-1990).

Alguns desses personagens quase que se misturam à história da televisão brasileira, como o ator canastrão Alberto Roberto, o pão-duro Gastão Franco, o coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho ranzinza Popó, o alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e o revoltado Jovem."

terça-feira, 27 de março de 2012

James Cameron desce ao vale Challenger Deep, na Fossa das Marianas


           James Cameron junto ao submersível a Sul de Sidney

O realizador dos filmes “Titanic” e “Avatar”, James Cameron, regressou são e salvo, de uma viagem à fossa das Marianas, o ponto mais profundo do oceano a 11 quilómetros, no âmbito da expedição Deep Sea Challenge.
Cameron, explorador da National Geographic, tornou-se no primeiro homem a viajar sozinho a uma zona tão profunda dos oceanos, ao vale Challenger Deep na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico.

A bordo de um submersível com oito metros de comprimento, especialmente concebido para o efeito, Cameron desceu 11 quilómetros - para recolher dados científicos e espécimes e captar imagens do fundo do mar -, numa viagem que demorou 2h36. De acordo com a National Geographic Society, Cameron atingiu os 10.898 metros de profundidade a 26 de Março, às 7h52 locais (ou domingo, dia 25 de Março, às 21h52, hora em Portugal). “Chegar ao fundo nunca soube tão bem. Mal posso esperar para partilhar convosco aquilo que estou a ver", disse Cameron, através de uma mensagem no Twitter.

A viagem de regresso à superfície demorou 70 minutos. A chegada aconteceu às 2h00 (hora em Portugal), a 500 quilómetros a Sul da ilha americana de Guam.

Depois de anos de preparação, a equipa de Cameron - composta por engenheiros e investigadores - conseguiu começar a explorar parte da Fossa das Marianas, com 2400 quilómetros de extensão no fundo do Oceano Pacífico. A expedição continua o trabalho de Don Walsh e Jacques Piccard, os primeiros homens a descer até esta região, a 23 de Janeiro de 1960. Mas o batiscafo "Trieste" utilizado nessa altura não permitia a captação de imagens nem de amostras e Walsh e de Piccard estiveram apenas 20 minutos no fundo do oceano.

Cameron manobrou o submersível por regiões inexploradas para captar imagens para um documentário que terá como principal objectivo promover a exploração e a descoberta científica dos oceanos. “Existe valor científico nas imagens captadas na Fossa das Marianas”, contou Cameron à National Geographic pouco antes do mergulho.

“Será algo totalmente diferente daquilo que já alguma vez vimos, a bordo de outros submarinos ou veículos operados remotamente”, comentou Doug Bartlett, biólogo marinho no Instituto Scripps de Oceanografia em San Diego, na Califórnia.

O submersível utilizado estava equipado com várias câmaras e um braço robotizado para recolher rochas e animais. O material recolhido poderá ajudar a compreender melhor os sismos que causam tsunamis devastadores e as forças tectónicas que ajudam a dar forma ao planeta e conhecer a fauna que sobrevive naquelas regiões inóspitas. "É possível que o Deep Sea Challenger regresse das profundezas do oceano com imagens e amostras de animais que nunca vimos", escreve a National Geographic em comunicado.

Para Cameron, chegar ao ponto mais profundo do planeta tem sido um desejo de há muito tempo. "A imaginação alimenta a exploração", comentou. "Temos de imaginar que é possível antes de partirmos e conseguirmos lá chegar."

A revista National Geographic vai publicar os resultados desta expedição, depois de analisadas as amostras e os espécimes recolhidos, informa a instituição em comunicado.

A expedição é um projecto conjunto de Cameron, da National Geographic e da Rolex. O principal parceiro científico é o Instituto Scripps de Oceanografia em San Diego.