Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Um exemplo



O assunto não merece mais que duas ou três linhas e talvez interesse apenas àqueles que, tal como eu, gostam do pontapé na bola, vibram com a “affición” e não perdem uma boa alfinetada, nem uma boa polémica acerca deste ou daquele tema do dia.

 Mas pode não ser assim tão despiciendo e talvez afinal valha a pena tecer algumas observações.

 Admiro José Guilherme Aguiar, não só pelos extensos conhecimentos que tem sobre o futebol - dentro e fora do terreno de jogo, sobre a arbitragem, acerca dos bastidores do jornalismo e do direito desportivo e do mundo mais escorregadio e viscoso que é o autoritário e burocrático universo da FIFA - mas também pelo indefetível amor ao seu clube, o Futebol Clube do Porto. Tudo isso abona a seu favor e é com os ouvidos bem abertos que me apresto a ouvi-lo quando fala, nas inúmeras mesas redondas e conferências em que participa.

 Mas desculpe-me que lhe diga, respeitável amigo, parece-me que esse amor já lhe tolda a visão e lhe torce a perspetiva, inibindo-o de discernir de forma escorreita e isenta.

 Vem isto a propósito, de algumas considerações que proferiu sobre Eusébio, no último programa da televisão, “O Dia Seguinte.” Disse então que condena Eusébio porque, num dos muitos programas que a TV portuguesa fez, dedicando-lhe bastantes horas em entrevistas e reportagens - assaz carinhosas por sinal - por ocasião do seu 70º aniversário, Eusébio teria confidenciado para todo o país, que num dos últimos jogos da sua carreira, quando representava outras cores, havia-se recusado a marcar golos contra o Benfica, o seu clube do coração e teria mesmo enfrentado o treinador, que teimava em fazê-lo entrar para dentro do campo. Andou pelo campo, talvez meia hora ou menos e fingiu que jogava, completamente desinteressado do jogo.

Eusébio chegou ao Beira-Mar para encerrar a carreira, cansado, espremido e massacrado até ao osso, pois nessa altura só Eusébio valorizava o clube e o país, colocando este mesmo país no mapa do mundo.

 Gostava que as gerações mais novas, que hoje idolatram Cristiano Ronaldo, olhassem para a espetacular carreira de Eusébio e para o seu infindável palmarés desportivo, ao serviço do Benfica e da Seleção Nacional. Dizia Eusébio, há tempos, que quando suava de dores e tinha que entrar em campo infiltrado, restava-lhe apenas morder a toalha, que ainda hoje é o seu fetiche e amuleto da sorte, e fosse o que Deus quisesse. Lembro-lhe que as graves lesões que foi colecionando e as sete (leiam bem, sete) operações aos joelhos, transformaram um desses mesmos joelhos numa invulgar e rara massa disforme que ainda hoje o impedem de andar normalmente como qualquer um de nós é capaz. Tudo de uma forma desinteressada, sem olhar a vantagens, nem contratos, apenas para servir Portugal e o seu clube de sempre, o Benfica.

 Comparar o choro de Rui Costa quando, pela Fiorentina, marcou um golo ao Benfica e chorou, chamar a isso absoluto desportivismo e por outro lado, apelidar de anti-ética a “gaffe” de Eusébio, dizendo que como desportista era sua obrigação marcar, ou por outro lado, não se gabar de o ter feito, é pura redundância e enferma de uma ótica doentia, desculpada apenas pela sua cegueira clubista. Equiparar a habilidade ronceira ao fulgor do génio em movimento, do instinto puro de um dos mais perfeitos matadores que a história do futebol já produziu, é, do meu ponto de vista, ter vistas curtas e apenas alcançar a estreita orla do mediano e do medíocre.

 Se toda esta disponibilidade e sofrimento não lhe dão o direto de emitir humildemente qualquer “blague” mais ou menos espirituosa, sem que os arautos das virtudes e dos bons costumes se apressem a escalpelizar e criticar, então muito mal estamos, que não sabemos reconhecer nem diferenciar o simples e passageiro ídolo, do mito, da verdadeira matéria do mito, de que são feitos os nossos sonhos. Falar de Eusébio é entrar no domínio dos símbolos, do eterno e do incomensurável e dos mitos apenas nos recordamos a sua força e a sua destreza com o arco, no salto ou no pentatlo, como os deuses e os atletas da antiga Atenas.

 Portanto caro amigo, Guilherme Aguiar, não lance sombras onde apenas reside a luz dos grandes astros iluminados e procure que essa luz irradie outros, com o seu exemplo de abnegação e patriotismo, coisa que bastante falta faz hoje em dia.

 J.L.F.


sábado, 28 de janeiro de 2012

Astrologia Criminal





Uma nota boba, mas que tem implicações interessantes. A polícia de Chatham-Kent, uma unidade administrativa em Ontario, Canadá, publicou os signos do zodíaco de todos aqueles presos no ano de 2011. E deu “vitória” ariana. Em último lugar deu sagitário, que ou seriam os mais pacíficos ou, na opinião de um astrólogo consultado pelo jornal, mais hábeis em escapar das forças de lei e ordem.

Bom, em primeiro lugar note-se que não houve nenhum esforço de calcular se a diferença entre os signos é significante (a amostra, afinal, não é das maiores: 1986 pessoas foram presas na região ao longo do ano). Independentemente disso, a ideia por trás da pesquisa é boa. Se os signos fazem diferença no caráter dos indivíduos, essas diferenças devem se traduzir em ações. Um signo, digamos, mais impetuoso, terá, em média, mais indivíduos que agem impetuosamente do que outro signo, digamos, mais meditativo.

Portanto, é possível testar empiricamente as afirmações da astrologia. Muitos astrólogos vêem com apreensão esses exercícios; o signo solar sozinho não diz muita coisa, diz um dos consultados pelo jornal. Mas por acaso dizem algo, por menor que seja? Se sim, então será possível medir seu efeito nos grandes números.

O grande problema da previsão astrológica acerca do indivíduo é que ela dá apenas tendências e estruturas básicas de comportamento, que podem inclusive ser contrabalanceadas por tendências contrárias ou pela decisão pontual do agente. É, portanto, impossível testá-la no caso particular, posto que as condições da vida humana não são as de um experimento controlado. Mas nas grandes populações as particularidades dos casos individuais se cancelam e prevalecem as tendências.

Dado que a astrologia tem se colocado como ciência, ou seja, não como um saber arcano e esotérico, os astrólogos deveriam ser os primeiros a querer testar suas previsões. As informações das quais ela tira conclusões são, ademais, perfeitamente observáveis e de fácil acesso (o mapa astral de cada um é função da data, hora e local de nascimento; todos eles presentes nos registros públicos de todo cidadão), não há nenhum empecilho a se realizar testes empíricos.

O bom de estudos estatísticos é que eles prescindem de explicar o porquê. Pode parecer uma deficiência, e é de fato quando queremos descobrir a causalidade que liga dois fenômenos correlacionados. Mas para estabelecer se existe correlação é um método muito apropriado. Seriam as características do signo explicadas pelo efeito gravitacional dos planetas e estrelas? Talvez por alguma outra energia natural não conhecida ou pouco estudada? Quem sabe se trata de algo verdadeiramente sobrenatural? Não importa. Para começar a especular sobre isso é preciso antes saber se existe de fato alguma relação observável entre a configuração celeste no momento do nascimento e o caráter do indivíduo que está nascendo. E isso a estatística nos permite avaliar plenamente.

Um estudo como esse da prisão canadense pode ser refinado: considerar apenas os criminosos violentos, por exemplo, e levar em conta não apenas o signo mas o signo junto do ascendente (ou quantas outras sutilezas astrológicas se quiser). É possível também testar as teses particulares que os astrólogos sustentam. Se Marte é um planeta que induz à violência, então é de se esperar que, tudo o mais constante, as pessoas que têm Marte como planeta relevante em seu mapa astral (confesso minha ignorância ao falar do tema) apresentem, em média, mais comportamentos violentos; algo facilmente testável. Testes semelhantes podem ser feitos para vários outros comportamentos e variáveis, como o desempenho profissional.

A grande questão, contudo, permanece: estarão os astrólogos dispostos a encarar os possíveis resultados negativos de estudos desse tipo? Ou reverterão a uma versão não-científica da astrologia, que depende de intuições e leituras pessoais do próprio astrólogo, e cujas previsões acerca do temperamento e caráter do indivíduo são, na prática, impossíveis de se testar? E, por outro lado, se os resultados forem consistentemente positivos, estará a comunidade científica pronta a aceitar mais uma ciência?


Transcrito do site brasileiro "Dicta&Contradicta", post de 9jan2012

domingo, 22 de janeiro de 2012

O que é ouvir Bill Evans



É madrugada em New York City. Desci agora na 42nd Station. Está frio e o nevoeiro não deixa ver nada. Vou para Greenwich Village, mas resolvi parar um bocado aqui, frente ao Hudson River para respirar um pouco. O nevoeiro de NYC é uma coisa única. Mais uns dias e ninguém consegue andar nas ruas. A neve vai tomar conta de tudo. Vim de Harlem e esteve uma noite fantástica, divinal. Passei algumas horas a ouvir jazz. Parker ainda é quem domina tudo, mas morreu há alguns dias. Coltrane anda por aí, a tocar o sax melhor que nunca e também é supremo. Como ele bem diz, num dos seus temas: “A Love Supreme”. Mas vim de um pequeno tugúrio lá, em Harlem e vi um miúdo de 22 anos, com uns óculos que lhe tapam a cara e uns olhos bicudos que duvido que vejam alguma coisa. Ainda estou zonzo de tanta música! Está completamente pedrado. É um branquinho que me derreteu os neurónios. Chama-se Bill Evans e tem uma técnica e uma cultura de jazz como nunca vi! Uma sensibilidade para a música de NYC e dos nossos irmãos blacks, como eu nunca pensei ouvir. Parece um” nigger”, man! Tocou este “I will say goodbye” e quem disse goodbye à vulgaridade e ás coisas que não prestam fui eu. Agora encontrei alguém que sabe realmente transmitir este ambiente de NYC ao piano.  É do outro mundo, este miúdo. Caí de joelhos com tanto feeling e tanta musica junta. Se puderem não percam. È Bill Evans.
J.L.F.







sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"ESCREVO-TE COM O FOGO E A ÁGUA.", por António Ramos Rosa



Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te
no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.

O que procuro é um coração pequeno, um animal
perfeito e suave. Um fruto repousado,
uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado,
uma pergunta que não ouvi no inanimado,
um arabesco talvez de mágica leveza.

Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,
o grande sopro imóvel da primavera efémera

António Ramos Rosa

"O QUE TENTAM DIZER AS ÁRVORES", por António Ramos Rosa






Árvores

O que tentam dizer as árvores
no seu silêncio lento e nos seus vagos rumores,
o sentido que têm no lugar onde estão,
a reverência, a ressonância, a transparência
e os acentos claros e sombrios de uma frase aérea.
E as sombras e as folhas são a inocência de uma ideia
que entre a água e o espaço se tornou uma leve integridade.
Sob o mágico sopro da luz são barcos transparentes.
Não sei se é o ar se é o sangue que brota dos seus ramos.
Ouço a espuma finíssima das suas gargantas verdes.
Não estou, nunca estarei longe desta água pura
e destas lâmpadas antigas de obscuras ilhas.
Que pura serenidade da memória, que horizontes
em torno do poço silencioso! É um canto num sono
e o vento e a luz são o hálito de uma criança
que sobre um ramo de árvore abraça o mundo.

António Ramos Rosa, Animal Olhar, Árvores, p. 84

sábado, 14 de janeiro de 2012

Registo de Interesses


                     
simbolos maçónicos

Quanto a mim, esta história do registo de interesses para verificação de incompatibilidades dos titulares de cargos públicos e a obrigação de declararem a sua filiação maçónica, não passa de folclore e de música para entreter os incautos. É uma cínica ideia, jogada à praça pública, para desviar as atenções e apenas para lançar cortinas de fumo sobre as verdadeiras questões.

Por este andar, trataremos os políticos como meras crianças irresponsáveis ou inimputáveis, coisa que eles declaradamente não o são.

O nó do problema coloca-se quando perguntamos o que andam estes sujeitos a fazer lá metidos dentro, à volta de símbolos anacrónicos e estapafúrdicos? Porque não há inquéritos rigorosos por parte do Ministério Público? Porque é que não há uma investigação séria, exaustiva, competente e permanente, a nível nacional, a estas Lojas e Ordens que proliferam pelo país? Porque não há coragem para penetrar a fundo no amago destas casas e casinhas, centros nevrálgicos de muito tráfico de influencias que envenenam a sociedade portuguesa? Porque é que nunca há suspeitas sobre estas associações com nomes esquisitos e hábitos restritos? Serão eles melhores que o comum dos mortais? Porque é que um simples comerciante, feirante ou empresário não vende uma agulha que não tenha à perna toda a ASAE , como um enxame de abelhas à volta do mel, enquanto estes cavalheiros se passeiam, ostensivamente, cantando e rindo, trambicando tudo e todos? Porque é que não se acaba de uma vez com esta mentalidade de quintalinhos e terrenozinhos, destes senhores grão-mestres, saudosistas, oligárquicos e feudais?

Não é a maçonaria que faz o homem; a maçonaria e as religiões, as crenças e as seitas existem há centenas e há milhares de anos e nem por isso o Homem melhorou a sua índole. Cada vez há uma maior diversidade de cultos religiosos, prometendo o céu e a Terra e não há notícia de que a evolução do Homo Sapiens esteja a caminhar no sentido do seu aperfeiçoamento intrinseco ou da pureza de princípos. Não seremos mais ou menos responsáveis por pertencermos à Irmandade maçónica, assim como não sou melhor por ser católico ou protestante, xiita ou salafita, budista ou espiritualista.

Não é por andar de esquadro e compasso (símbolos maçónicos) na mão a medir os meus atos que serei melhor indivíduo, nem amanhã me tornarei um homem probo, se me converter ao Islão ou for para as Testemunhas de Jeová.

A liberdade de associação, de religião, de expressão e a livre opção política devem ser princípios estritamente respeitados, sendo por conseguinte inegociáveis. Um país livre deve ter como lei fundamental o respeito pelas opções de consciência dos seus cidadãos.

Nos EUA, a primeira emenda, que faz parte da lei fundamental e da constituição americana defende exatamente esse direito. Aliás é, em torno dessa lei básica que os Pais da Nação edificaram a grande nação americana:

Retirei da Wikepédia alguns excertos da Constituição do EUA para melhor ilustrar estas considerações:

A Primeira Emenda (a I Amendment) da Constituição dos Estados Unidos da América impede, textualmente, o Congresso dos Estados Unidos da América de infringir seis direitos fundamentais. O Congresso passa a ser impedido de:

Estabelecer uma religião oficial ou dar preferência a uma dada  religião( a "Establishment Clause" da primeira emenda, que institui que institui a separação entre a Igreja e o Estado)

"O congresso não deve fazer leis a respeito de se estabelecer uma religião, ou proibir o seu livre exercício; ou sobre o direito das pessoas de se reunirem pacificamente”

Mas não é por atribuirmos ao cidadão plena liberdade de escolhas e pensamento, que quem de direito deve afrouxar a vigilância e fiscalização sobre estas organizações de entreajuda suspeita.

Prefiro que se legisle no sentido inverso: aqueles que incorrerem em faltas graves passíveis de causar prejuízo ao país serão criteriosamente investigados, julgados e condenados com agravamento das penas, devido à situação de exceção em que nos encontramos.

Comparo esta situação do registo de interesses para os maçónicos, à legislação sobre as armas nos EUA. Muito sucintamente, digo que lá, a lei autoriza a posse armas, bastando para isso que comprovem ter o cadastro limpo. Em contrapartida há penas pesadas para os crimes de sangue.
Porque não seguir este princípio, salvando as devidas proporções? A Constituição dos EUA diz, na sua Segunda Emenda, sobre o direito de possuir uma arma: "Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido   


                                               **************

Estamos, portanto, perante uma situação dúbia, de contornos pouco claros. Não há vontade política nem jurídica para mexer seja no que for. Há forças demasiado poderosas e gente muito bem colocada na hierarquia do Estado, que se deixa capturar pela troca de favores e benesses, para que alguma coisa seja feita, tendo por finalidade o desmantelamento do monstro multicéfalo.

Entretanto, vai-se gastando milhões e milhões de euros em reportagens de televisão, em diretos ou talk shows, cobrindo e dando voz a declarações vazias e sem sentido, apenas para gastar tempo e entreter o pobre pacóvio, o bom do Zé Povinho.

J.L.F.




sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Wynton Marsalis & Jazz At Lincoln Orchestra. Guest Chick Corea. Festival Jazz des Cinq Continents


jazz at Lincoln Center


Lealdade Maçónica




O professor José M. Anes é um homem com uma grande nobreza de caráter, que não haja a mais pequena dúvida. É o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo. Pertence à maçonaria e foi grão-mestre da Grande Loja Regular de Portugal. Apadrinhou Jorge S. Carvalho - o espião de quem se fala, suspeito de tráfico de influências - na sua entrada como membro da “società”. Até aí tudo bem. Não lhe fez o devido inquérito interno, como é uso e é da praxe entre os maçons, nos seus ritos iniciáticos; saltou o regulamento da Ordem, como ele mesmo admitiu. Também não é por aí. Mas já há algum tempo que estava desiludido com o seu pupilo, por saber que este usava e abusava do alto cargo que desempenha, dentro dos serviços secretos da República, o SIED. Tinha demasiados sonhos de grandeza e usava esse cargo e a própria maçonaria, em “benefício dos seus interesses pessoais e privados”, assim disse José M. Anes, que sabia há muito de tudo isto. Deixou passar os meses e os anos, ajudou a criar e alimentou o monstro. Nada disse, fez que nada se passava. Também, que diabo, qualquer um fecha os olhos a estas minudências!

 Mas há um tempo para tudo e finalmente chegou o tempo do sr. presidente. Cheio de problemas existenciais e de consciência, num ato heroico e de grande verticalidade, despe o avental e as vestes maçónicas, autossuspende-se do cargo na Loja Regular e vem falar à imprensa, para defender a maçonaria e acusar o seu pupilo. E o que diz? Apenas aquilo que todos já sabemos e que já anda espalhado pelos quatro cantos da nação, por tudo quanto é pedra da calçada. Que o espião Carvalho andava há algum tempo a pisar o risco.

Ora bem, sr. Dr., mas então não acha que está com os tempos trocados? Se o acusasse de má conduta ética e propusesse o seu afastamento, há um ou dois anos, ou mesmo quando começou o inquérito parlamentar onde ele agora está a ser ouvido, o circo era outro. Mas o sr. não é garganta funda, e  então vem falar numa altura em que se bate na maçonaria com todas as ganas, vem para limpar o bom nome da Orden, da sua Loja, e o seu, vem apenas defender o seu quintalinho, o seu terrenozinho. Ora,abóboras! Não considera que deveria ter estabelecido um fio condutor, entre o alto cargo que ocupa e aquilo que sabe e que vem prejudicando o país, tendo como base ou ponto comum, o seu sentido patriótico ?

Não acha, sr. presidente, que tem o passo e o compasso trocados? Veja que agora a dança é outra e já não estamos na era do foxtrot, ou das valsas vienenses. É que o tempo agora, é de vampiros, sr. presidente! Há-os por todo o lado, no cinema, na literatura, na televisão, nas altas esferas do governo e até apadrinhados por si. E já agora pergunto: sabe de mais algum caso, no ventre da baleia, dentro da Irmandade. Será este, caso único, ou teremos mais declarações a conta-gotas?

Cada vez se torna mais atual a canção de Zeca Afonso. “Os Vampiros”: Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada”.

Esse sim, estava bem à frente, e nunca trocou o passo!


J.L.F.

Jan.2011





terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O que o Facebook não é




                                    INSIDE THE FACEBOOK


Quando Mark Zuckerberg e os seus amigos da Universidade de Harvard, nos USA, inventaram o Facebook, tinham nas mentes a ideia de usar este programa como um meio de ligar os estudantes entre si, tornar mais fácil a comunicação e o convívio, através de mensagens, no “campus”, nos refeitórios, nos dormitórios ou em casa. De tal maneira foi aceite, que hoje, todos o sabemos, é o mais visitado website mundial na Network. Presidentes da república, empresas, jornalistas, gestores ou meros divulgadores de produtos, ninguém dispensa uma página atualizada no Face. Devido ao seu alto grau de eficácia e poder de interação instantânea, rapidamente podemos enviar fotos, textos e comentários. Ditadores e governos autoritários já caíram dos pedestais e, onde e quando menos se espera, projetam-se e armam-se revoluções através do Facebook. É portanto um espaço livre e amplamente democrático, onde a liberdade de expressão, que é a trave mestra e baliza fundamental numa sociedade civilizada, circula infinitamente, transmitindo e espalhando informação, arte e cultura, para aqueles que se tornam usuários e querem participar a nível global.

Também poderá funcionar (porque não?) como meio de sedução, para namoros, para pedidos de casamento, para gestos e atos apaixonados, conversas prolongadas ou curtas, particulares ou em grupo, enfim, é todo um mundo de fruição e prazer que poderemos extrair desta poderosa ferramenta.

 Mas o que o Facebook não é, nem será nunca, é um instrumento de terror, e de atemorização. Nem tão pouco poderemos permitir que a bestialidade e a sordidez dos mentecaptos saia dos subterrâneos infetos para enlamear quem trabalha e vive com dignidade, e apenas pretende desfrutar de tão fascinante tecnologia, nas suas horas livres e nos seus momentos de lazer, com todo o direito que lhe é devido. Incapacitar e impossibilitar alguém, através do medo, da chantagem e da pressão - resultando daí efeitos traumatizantes - de aceder ao Facebook, de aqui ter a sua página e poder conviver com os seus amigos/as ou admiradores/as, é, pela natureza   profundamente injusta que tal ato demonstra, o gesto mais ignóbil e antissocial que me foi dado presenciar. É digno apenas das ditaduras militares que no passado imperavam pela América do Sul. Mas há indivíduos que, rejeitados, não conseguem medir a verdadeira pulsação da Liberdade e se entretêm a manifestar os seus instintos bárbaros, expondo sem vergonha, os mais vis impulsos básicos e primitivos. Certamente não foi para estes seres pré-históricos, de casco bífido, a exalarem enxofre, que o Facebook foi feito. Para se entender e viver em pleno sec. XXI, precisamos pelo menos de não confundir os membros superiores com os inferiores e endireitar o tronco, para podermos caminhar. Aliás, nada que se traduz por avanço civilizacional, deveria ser posto ao alcance destes algozes, de tais usurpadores dos bens públicos. Eles, apenas serão merecedores de convívio, mas na mais baixa e degradante condição humana, dentro de espaços gradeados, amontoados entre dezenas de facínoras da sua igualha.

Queluz, 9 de Dez. 2011

J.L.F.



                                           

                                                                                                              

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Real eo Imaginário


"O fanatismo próximo do fantasmagorismo, toma o imaginário pelo real e as fantasias pela verdade".

D.Manuel Clemente (Bispo do Porto)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão


10 de dezembro 1948

A Mulher Feliz, por António Ramos Rosa



desenho de António R. Rosa
Está de pé sobre as brancas dunas. As ondas conduziram-na
e os ventos empurraram-na. Está ali, na perfeição redonda
da oferenda. E como que adormece no esplendor sereno.
Diz luz porque diz agora e és tu e sou eu, num círculo
só. Está embriagada de ar como uma forte lâmpada.

É uma área de equilíbrio, de movimentos flexíveis,
um repouso incendiado, a vitória de uma pedra.
Abrem-se fundas águas e um novo fogo aparece.
Que lentas são as folhas largas e as areias!
Que denso é este corpo, esta lua de argila!

Nua como uma pedra ardente, mais do que uma promessa
fulgurante, a amorosa presença de uma mulher feliz.
Nela dormem os pássaros, dormem os nomes puros.
Agora crepita a noite, as línguas que circulam.
Crescem, crescem os músculos da mais íntima distância.

desenho de António R. Rosa

                                                                         


David laChapelle@2007; Rape of Africa

Aventais há muitos



Aventais há muitos. Por mim, esses cavalheiros da maçonaria até podem sair à rua vestidos com um belo fato de quinhentos e muitos euros e colocar-lhe um avental por cima - tapa vergonhas - bordados à mão pelas amantes, com rosas chá e exalando bafientos odores a cânfora e naftalina. Há-os de todas as qualidades e feitios. À “chef”, com a tradicional colher de pau, para dona de casa, mais ou menos berrantes, para ferreiros, pintores, para tratadores de cavalos, para sopradores de vidro, o que há de aventais por aí… Até podem andar em casa nuzinhos em pelo só com o avental por cima, com a salsicha gravada a cozinhar para o namorado, como nos mostra o cinema americano em estereótipos de casais “gays”. Já agora acrescentem-lhes e pendurem-lhes ao pescoço aqueles colares e adereços estapafúrdicos e desatualizados, que são os símbolos das lojas maçónicas.

  O que me incomoda mesmo, é quando os políticos que nos governam, combinam estratégias de fidelidade de grupo, à revelia do Parlamento, oposição e governo, nessas casas, em reuniões secretas, em jantares privadíssimos, inquiridos e inquiridores, investigados e investigadores, sujeitos a compromisso de juramento, no âmbito das comissões parlamentares de inquérito, envolvendo interesses avultados no domínio da comunicação social e das polícias secretas de investigação externa. O perigo de tudo isto resvalar para um estado oligárquico e plutocrático é  evidente. Aliás, há muito que já navegamos nessas águas pantanosas.

 A sacrossanta oposição socialista desempenha um papel cada vez mais angelical e vazio. Faz que diz mas não diz. Parece que vai mas não vai, fica-se pelos curros, deixa-se estar por trás das baias. António José Seguro é o ator ideal para este papel discreto de “supporting role”


J.L.F.

As Gueixas