Estou a fazer um esforço para tentar entender o que se passou com o músico jamaicano de "reggae", que está em Portugal. Mas então não é que foi permitido a este indivíduo fazer um concerto no Coliseu dos Recreios, sabendo-se que é um homofóbico internacionalmente conhecido e que nos seus espetáculos insulta e pede a morte aos gays e a todos os que não seguem a sua orientação sexual?
O DIAP (Departamento
de Investigação e Ação Penal), também tem a mesma opinião e informa, segundo o
JN, que não possui mecanismos legais para criar obstáculos à atuação do músico.
Há uma entidade em Portugal
com poder para proibir a descriminação de género, mas não de sexo. A Comissão para a Igualdade de Género (CIG),
dependente da Presidência do Conselho de Ministros, é um organismo que tem não só
capacidade de aplicar contra ordenações, como é responsável pela aplicação do
Plano Nacional da Igualdade, mas não se mostrou apto a resolver a questão, diz o JN.
Leio que Paulo J. Vieira, da Associação “Não te Prives” e que é um dos
manifestantes à porta do Coliseu, invoca o artigo 13º da Constituição
Portuguesa, que consagra a não-descriminação por orientação e chama a atenção
para a sua violação, neste caso. Entretanto há um manifestante que é levado
pela polícia, para a esquadra, para ser identificado.
É completamente bizarro que após meses e meses
de discussão, debate e aprovação do casamento homossexual, ninguém se tenha
lembrado de criar um mecanismo, ou fazer uma simples apêndice à lei,
contemplando também a discriminação sexual.
É caso para perguntar muito diretamente, o que andam estes senhores a fazer, a dormir? E também pergunto às associações de gays e lésbicas por que motivo se mostram sempre tão passivos e não criam um verdadeiro “lobby,” a fim de valer os seus direitos? Como é que deixam passar em claro este buraco na legislação?
Há uma linha de
pensamento muito enraizada nas várias camadas da sociedade, na cultura popular,
mas também entre as elites, que se isenta de tudo o que não nos diz diretamente
respeito. Parece-me que alguém que não devia, está a confundir os conceitos e a
entrar numa espécie de farsa, onde se tenta aparentar algo e depois se deixa
acomodar num laxismo vergonhoso, do tipo “laissez faire, laisser passer” e vira
a cara para outro lado, com a desculpa de que os outros também têm o direito de
se manifestar.
É um pensamento errado e
perigoso. Porque somos livres, implica que nos obrigamos a defender até às
últimas consequência esse estado e não deixar que alguém venha vilipendiar e maltratar
os nossos concidadãos. Quando nos declaramos democratas e acima de tudo
defendemos os valores civilizacionais do séc.XXI, estamos automaticamente
comprometidos e assumimos em toda a plenitude esse desiderato. Não podemos de
modo algum cumprir uma metade e deixar a outra para quando nos apetecer. Isso
não é absolutamente nada e dessa forma não se é democrata coisíssima nenhuma,
nem aqui nem na Conchichina.
J.L.F.
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