Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 31 de julho de 2011

A Mão de "Lula"

Segundo o Globo, quem tenta segurar Jobim é o ex-presidente Lula. Ele defendeu o ministro em evento no Rio:
Lula sai em defesa de ministro e tenta convencer Dilma a não demitir Jobim

Como sempre faço quando posso e tenho tempo, dou uma passagem rápida pelos títulos dos fantásticos jornais brasileiros on-line e por vezes não me agrada o que vejo, que me desculpem os meus amigos brasileiros.
Tem-me chamado a atenção a hiperactividade do ex-presidente Luís Inácio “Lula” da Silva. Penso que exagera no voluntarismo que se impõe, quando tenta ajudar e aconselhar a Sra. Presidenta Dilma Rousseff.

Todos os dias a imprensa brasileira dá voz à interferência e à actividade, não direi na sombra, mas demasiado interventiva do ex-presidente na acção governativa. Será que Lula da Silva ainda mantém algum cargo oficial em Brasília, no Palácio do Planalto ou junto da Sra. Dilma Rousseff ?
Comparo com o“modus operandi” dos ex-presidentes em Portugal. O Dr. Jorge Sampaio, antecessor do Presidente Cavaco Silva, só de longe em longe vem deixar uma opinião - embora sejam de forças políticas diferentes e adversários, devo dizer- sobre a actividade do governo ou da presidência e muito menos vem tentar influenciar, (embora seja conselheiro de um órgão superior que é o Conselho de Estado, por inerência) a actividade governativa.

O Dr. Mário Soares, que eu saiba, nunca tentou interferir na presidência do Dr. Jorge Sampaio, sendo do mesmo partido político; e ainda o mesmo Mário Soares, um dos principais intervenientes no processo de descolonização, ex- primeiro ministro e ex-presidente da República reeleito, e o grande impulsionador da entrada de Portugal na CEE, raramente (embora se saiba da sua forte influência do na vida política portuguesa) aparecia de forma tão declarada e ostensiva ao lado de José Sócrates, o antigo PM (estes da mesma cor política), como o faz o ex-presidente Lula da Silva.
A meu ver, embora todos saibamos que é o seu mentor e amigo privilegiado, estes gestos impetuosos, francos e abertos, apenas menorizam a Presidente, passando-lhe um atestado, não digo de incompetência, mas de fraqueza e menoridade política. Já é altura da Presidenta caminhar sozinha, e do presidente Lula passar o seu tempo na pesca e perto dos seus netos, numa bela casa de campo, junto a um lago, ou na praia, a desfrutar a recompensa pelos muitos e tumultuosos anos de luta política. Bem o merece. Ou será este "The South American Way", como dizia a canção da fabulosa Carmen Miranda?

José Luis Ferreira

Os equívocos de Pacheco Pereira

Pacheco Pereira, no seu blog "O Abrupto," escreveu em 23.07.2011

Custa-me ver muitas pessoas, incluindo numa afirmação recente o Presidente da República, dizer que Nelson Mandela foi “sempre” um homem de paz, "sempre" um partidário de métodos pacíficos de luta política, uma espécie de Gandhi moderno. Devemos imenso a Mandela no período a seguir à sua libertação, e aí sem dúvida ele fez muito por uma transição pacífica, onde as mortes que ocorreram (a maioria delas no conflito com o Inkhata de Buthelezi) não são de sua responsabilidade. Se há Prémio Nobel da Paz bem merecido é o seu. Porém, Mandela tem uma longa carreira política antes da sua prisão e mesmo como dirigente do ANC na prisão, teve especiais responsabilidades no Umkhonto we Sizwe, o braço armado do ANC, que conduziu uma luta violenta contra o regime do apartheid, tudo menos pacifista. “Sempre” partidário de métodos pacíficos, não é, pura e simplesmente, verdade.

Pacheco Pereira parece estar mais uma vez, a cometer um equivoco. A África do Sul e o mundo devem a Mandela não só pelo que ele fez depois da sua libertação, pois conseguiu unir as várias etnias e tendências políticas, tendo por consequência travado um processo que se poderia descontrolar e transformar o país num autêntico pântano de sangue, como antes foi a figura inspiradora de toda a luta de libertação, não só na África do Sul, como em toda a África e no Mundo.

Nelson Mandela era o presidente honorário do ANC e também o comandante em chefe do Umkhonto we Sizwe, e todas as acções armadas contra o regime racista tinham a sua aprovação, genericamente falando. A partir da prisão de Roben Island Mandela era o farol que iluminava todos aqueles que queriam partir as grilhetas que os amarravam aos regimes coloniais. P. P. deve compreender isso. Senão nunca há-de entender a luta de libertação dos povos sujeitos a dominação imperial ou colonial. Como vê, então, os movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas? Deveriam também fazer como Gandhi ou Martin Luther King, que advogavam o pacifismo?
Será que P. P. não consegue estabelecer um paralelismo entre a luta de libertação por métodos violentos e as acções que em 1640 levaram os conjurados portugueses a sacudirem o jugo dos espanhóis, resultando daí a morte do traidor Miguel de Vasconcelos, fiel ao trono dos Habsburgo em Madrid, e todas as consequências políticas e militares resultantes daí, do envolvimento do estado português para expulsar os holandeses de Angola e as guerras do Brasil contra os estados vizinhos, mormente a guerra do Paraguai?

E a Revolução Francesa ? E a Revolução de Outubro na Rússia? E a Guerra da Independência dos EUA? E a Guerra da Secessão nos EUA? E a Segunda Grande Guerra não foi feita para destruir e aniquilar o invasor nazi? Não foram estas guerras violentas mas legítimas?

Em “Cry the Beloved Country,” obra-prima da literatura mundial dos anos quarenta que vossa mercê bem conhece, tenho a certeza, Alan Paton começa por evocar o sagrado solo sul-africano. Pois é por esse mesmo solo sagrado que Nelson Mandela deu os melhores anos da sua vida. E é por esse solo sagrado que a violência é legitimada. Não queira confundir a violência altruísta da luta por um ideal, pelo amor à pátria e contra os abusos extremos contra o homem e a sua dignidade, com a violência das ruas, daqueles que matam por um par de “blue jeans”, por um relógio ou por uma mão cheia de anéis e pulseiras de ouro. Da mesma forma que eu considero da mais elevada postura moral a defesa intrasigente da sagrada terra portuguesa.

Também me custa ver como P. P. não consegue compreender que não havia outro caminho, senão o da violência, para conseguir remover o regime de P.W. Botha (Die Groot Krokodil, o grande crocodilo, como era chamado em afrikaans). Como queria que fosse? Como ele faz, sentado à volta de uma mesa, filosofando e esgrimindo flores de retórica com luvas de pelica, com o seu maciço ventre sobrealimentado, ostentando as cores rosadas dos ambientes super protegidos da Assembleia da República ou dos lugares luxuosamente estufados do Parlamento Europeu? Ou como fez o Estado Novo que se aliou, à revelia do resto do mundo, vergonhosamente, ao regime sul-africano?

P.P. tem de compreender que o mundo não é um jardim de crisântemos, poucas vezes acontece como em Portugal, uma Revolução dos Cravos e não basta estar atrás de uma mesa, a debitar palpites e opiniões muito bonitas (que eu gosto) e muito bem fundamentadas, para mudar o mundo.
Parece-me que por vezes distrai-se e acontecem-lhe falhas de memória…mas cá estamos nós para avivar-lhe estas coisas.

José Luis Ferreira

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Noruega não é um exemplo de tolerância, de democracia e de respeito pelos direitos humanos

por Ricardo Santos Pinto











Anda tudo muito espantado pelo facto de o brutal acto de Anders Breivik ter acontecido na Noruega, um país tão tolerante e onde a democracia funciona de forma tão exemplar.
Não é verdade que a Noruega seja esse exemplo de tolerância e de respeito pelos direitos humanos. Aliás, o regime político norueguês está muito longe da perfeição e, tal como acontece em todos os países onde o capitalismo selvagem assentou arraiais, soçobrou de forma clara face ao poder do dinheiro e dos interesses dos grandes grupos económicos. Já abordei, em tempos, o caso Jan Fredrik Wiborg, um engenheiro civil assassinado, presumivelmente pelo Estado norueguês, em 1994. Na altura da morte, num hotel de Copenhaga onde a queda acidental de uma janela era impossível, Wiborg transportava uma pasta de documentos comprometedores para o Governo norueguês, documentos esses que provavam a falsificação de informações na escolha da localização do novo Aeroporto de Oslo. Uma longa reportagem da imprensa da época demonstra que Wiborg morreu a lutar contra os Ministérios, as Agências Estatais e o Parlamento norueguês.

«Os noruegueses étnicos
em breve serão a minoria» -
 capa do jornal Finans
Nesse mesmo post, dava conta de que o Wikileaks revelou, em 2010, o nebuloso negócio da compra de 48 aviões F-35, em 2008, pelo Estado norueguês a uma empresa americana, em detrimento de um concorrente sueco e de um consórcio europeu. A troca de mensagens diplomáticas é reveladora da teia de interesses que então se formou para condicionar a decisão política que foi tomada. Em ambos os casos, o Partido Trabalhista, social-democrata, estava no Governo. Em 1994, a primeira-ministra era Gro Harlem Brundtland, em 2008 era Jens Soltemberg, o actual primeiro-ministro.
No que diz respeito ao sistema político do país, a actual composição do Parlamento é a melhor prova da falta de tolerância de parte significativa do povo norueguês. O segundo Partido mais votado nas últimas Legislativas, em 2009 (como já o fora em 2005), foi o Partido do Progresso – o FrP – com mais de 600 mil votos, correspondentes a mais de 24%. Elegeu 41 deputados.
Ora, o FrP é um Partido de Extrema-Direita, que contesta a entrada de imigrantes no país e que rejeita em absoluto o auxílio social para refugiados e trabalhadores que chegam de forma ilegal à Noruega. Tem uma posição claramente pró-Israel e pretende um maior controle da ajuda governamental aos países em desenvolvimento. Aliás, é o Partido onde militou durante 7 anos Anders Breivik, que ali ocupou vários cargos de confiança. À beira do FrP, até o CDS parece eivado de valores altamente democráticos. 

Quando 25% da população de um país vota neste tipo de ideias racistas e xenófobas, dificilmente poderemos estar a falar de uma sociedade tolerante e atenta aos direitos humanos.
Não é só nas eleições, infelizmente, que a sociedade norueguesa evidencia o seu carácter racista. Nos últimos anos, os episódios de discriminação e violência contra imigrantes, em especial muçulmanos, têm aumentado de forma preocupante. Através de grupos de extrema-direita e, pior ainda, através do próprio Estado.
Essa discriminação começa, frequentemente, na fronteira. Aí, os funcionários do organismo equivalente ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras utilizam técnicas específicas, baseadas na raça, para revistar membros de minorias étnicas. Não porque haja suspeitas acerca de determinada pessoa, mas apenas porque essa pessoa não é caucasiana.
Quanto aos Centros de Acolhimento de Imigrantes, onde são albergados todos aqueles que esperam por uma autorização de residência (que chega a demorar, quando chega, 18 meses), caracterizam-se, sobretudo na área de Oslo, pelas más condições que apresentam. A revolta dos detidos é frequente e até o Centro Norueguês contra o Racismo foi da opinião de que os incidentes que vão surgindo não são uma surpresa.
Porque uma criança nascida na Noruega não se torna automaticamente norueguesa, havia nos inícios de 2010, segundo o ACNUR, quase 3 mil apátridas no país. Desses, 95% eram palestinianos, os restantes essencialmente bálticos. Muitos deles tiveram de renunciar à sua Nacionalidade para obterem a Nacionalidade norueguesa, mas esta, por algum motivo, foi-lhes retirada, daí serem apátridas, bem como os seus descendentes nascidos em solo norueguês.
Hoje em dia, o aumento de obstáculos à entrada de muçulmanos no país, sobretudo palestinianos (no passado, foram afegãos, somalis, iraquianos, chechenos, sérvios do Kosovo e eritreus) levou mesmo Kari Partapuoli Helene, Presidente do Centro Norueguês contra o Racismo, a dizer que «um dos grupos mais vulneráveis da sociedade mundial está agora a começar a ser um dos grupos mais marginalizados da sociedade norueguesa.»
Ainda no que diz respeito ao racismo latente nos serviços públicos do país, originou uma grande controvérsia a morte de uma imigrante sexagenária, por ataque cardíaco, depois de nove chamadas para o 112 que não obtiveram resposta. Em vez de enviarem uma ambulância, os operadores chamaram primeiro a Polícia. Acabaram absolvidos, apesar de fortemente criticados pelo organismo ministerial respectivo e apesar de terem sido acusados de violar a lei.
Em Maio de 2010, a autorização de funcionamento de uma escola primária muçulmana provocou uma forte revolta na cidade de Oslo, cujas autoridades chegaram a recorrer da decisão. Isto num momento em que já existiam quase cem escolas cristãs no país.
Na sequência do caso Ali Farah (muçulmano deixado ao abandono no centro da cidade pelos serviços de Emergência Médica), a LDO – Equality and Anti-Discrimination Ombud – fez um levantamento geral do trabalho contra a discriminação no sector governamental. Quase um terço das empresas estatais nem sequer respondeu.
Antes ainda de entrar nos grupos de extrema-direita que espalham o terror e a violência junto das comunidades islâmicas, não faltam os exemplos de discriminação racial na sociedade civil norueguesa. Diversos estudos e estatísticas têm-no comprovado.
Um estudo de 2009 mostrava que os noruegueses têm mais medo dos muçulmanos do que do aquecimento global e da crise financeira mundial. Metade dos entrevistados não-muçulmanos acreditava então que os valores do Islão são incompatíveis com os valores fundamentais da sociedade norueguesa. O que é profundamente errado no caso dos muçulmanos noruegueses, que se preocupam menos com a religião (apenas 18% participam em cerimónias religiosas) do que aquilo que os restantes noruegueses pensavam (o estudo revelou que a maior parte da população acreditava que 62% dos muçulmanos frequentava as mesquitas do país).
Aliás, a maior parte dos inquiridos acredita que apenas 37% dos muçulmanos do país querem uma maior integração na sociedade norueguesa, quando na realidade esse número é de 94%; e pensam que 65% dos muçulmanos noruegueses consideram imoral a sociedade do país, quando afinal só 15% dos muçulmanos têm essa opinião.
A maior parte dos entrevistados acredita que 43% dos muçulmanos querem introduzir a Sharia na Noruega e que 64% querem sanções mais severas para a publicação de desenhos e fotografias ofensivas (contra respectivamente 14% e 42% na realidade).
A conclusão do estudo foi evidente: «O povo em geral é profundamente ignorante sobre as atitudes de seus concidadãos muçulmanos. O facto é que a religiosidade forte e aversão à sociedade norueguesa só será expressa por uma minoria muçulmana.»
O medo de que os imigrantes venham a dominar a Noruega é tanto que o jornal Finans (na imagem) fez as contas e chegou à conclusão de que em 2030 o número de imigrantes em Oslo será superior ao número de nativos. No texto da reportagem, diz-se textualmente: «O problema é que há menos cultura norueguesa. Os políticos não vêem os desafios com os quais nossos filhos serão confrontados». E os desafios dos «nossos filhos», para o jornal, são coisas tão caricatas como as crianças norueguesas não conseguirem fazer amizades na creche e os seus amigos imigrantes não comparecerem, apesar de convidados e apesar de não haver porco na mesa, às suas festas de aniversário.
Os próprios políticos não se têm coibido de discutir abertamente as suas preocupações relativamente à diluição da cultura norueguesa através do aumento da imigração vinda de países com valores e religiões diferentes. A maior parte desses políticos pertencem a Partidos de Direita e muitos deles ao FrP, a que já me referi anteriormente.
No campo do emprego, a discriminação contra os imigrantes é evidente e atinge também os seus descendentes nascidos na Noruega.
Um estudo recente demonstra que os filhos de imigrantes, mesmo os nascidos no país, têm mais dificuldade em encontrar emprego (taxa de desemprego de 7,3 %) do que noruegueses «puros» com as mesmas qualificações (2,2%). Uma outra conclusão desse estudo é paradigmática: os candidatos a emprego com primeiro ou último nome que pareça ser muçulmano continuam a ser muito menos propensos a receber respostas aos seus pedidos de emprego.
Segundo um estudo da Universidade de Oslo, de 2008, um imigrante africano com o mestrado de uma universidade da Noruega e notas tão boas como as de um norueguês tem apenas 30% de hipóteses de conseguir um emprego depois de terminar os estudos. As próprias rendas das casas são mais elevadas em cerca de 10% para os grupos minoritários.
A já referida Kari Partapuoli Helene, presidente do Presidente do Centro Norueguês contra o Racismo, tem dedicado parte do seu tempo a avaliar a discriminação contra os palestinianos a residir na Noruega. São dela as palavras que se seguem: «A sociedade em geral olha para as minorias com desconfiança. Especialmente vulneráveis são os de origem muçulmana. Mas quão perigosa é realmente uma menina muçulmana que estuda medicina? Que ameaça aos valores da Noruega constitui um rapaz muçulmano estudando para ser polícia ou carpinteiro? Que isto seja a mensagem de hoje: Como toda a gente, estes jovens têm um direito absoluto a ser considerado, tratados e respeitados como indivíduos e como os noruegueses.»
Já depois do ataque de Anders Breivik, é um dos jornais noruegueses mais importantes, o Aftenposten, que reconhece o peso do racismo na Noruega de hoje e em tudo o que tem vindo a acontecer: «O medo é aumentado pela mistura potencialmente explosiva de recessão económica, aumento do racismo e um sentimento anti-islâmico ainda mais forte.»
O racismo e a discriminação contra os imigrantes são visíveis, como já disse, nas mais diversas áreas da sociedade norueguesa. Aliás, é usual os noruegueses receberem na sua caixa de correio panfletos anónimos de grupos de extrema-direita.
Apenas alguns exemplos. O Centro Norueguês contra o Racismo fez um teste à noite de Oslo através de uma visita a 5 estabelecimentos de diversão. E chegou à conclusão de que, em 3 desses estabelecimentos, grupos de jovens que não pareciam ser de origem norueguesa foram rejeitados, enquanto que os grupos étnicos de jovens noruegueses nos mesmos locais foram imediatamente admitidos. Alguns dos jovens envolvidos começaram por sua própria iniciativa a recolher uma amostra maior. O ministro da Inclusão e Igualdade condenou publicamente o racismo em casas nocturnas e a LDO abriu um inquérito. Em Outubro, a LDO concluiu a sua investigação, que culminou com a conclusão de que 6 bares e discotecas discriminavam os clientes em função da raça. Apesar de recomendarem que fosse retirada a esses estabelecimentos a licença da venda de álcool, como prevê a Lei, a verdade é que não houve relatos de licenças retiradas durante o ano.
No futebol, tornaram-se alvo de grande polémica os actos de racismo contra um jogador norte-americano, o defesa-central Robbie Russel, a jogar no Sogndal. Num jogo contra o Brann, os adeptos desta equipa cuspiram e insultaram-no ao longo de todo o jogo, tendo chegado mesmo a agarrá-lo pela camisola quando ele se aproximou da linha lateral. Todas estas acções foram acompanhadas ao longo do jogo por hinos racistas.
Em Maio de 2010, chegou ao Tribunal para a Igualdade o caso de uma mulher que se recusava a trabalhar com uma agente imobiliária muçulmana e que exigia uma agente cristã ou não-muçulmana para avaliar a sua casa. O Tribunal determinou que foi um acto discriminatório perante a lei.
Alex Falcão, um brasileiro imigrado na Noruega, publicou em 3 de Janeiro de 2011 um texto de opinião no Aftenposte que começa com a frase «Imigrantes ou Seres Humanos». Depois de relatar o preconceito que sente diariamente, apesar de todos os esforços de integração, acusa os noruegueses de dividirem a sociedade entre «eles» e «os outros», ou seja, os noruegueses e os imigrantes. Conta até que uma vez foi intimidado por um grupo de jovens em Oslo que gritavam «morte aos imigrantes».
No que toca ao sistema de ensino, Alex Falcão refere que os livros escolares em que se aprende o norueguês são praticamente uma lavagem cerebral e são concebidos de forma a abafar outras culturas. Conta mesmo o caso de uma aluna norueguesa que se recusou a fazer dupla com uma colega num exame de primeiros socorros só porque ela era estrangeira.
Com este tipo de mentalidade, que se vai generalizando, não admira que a violência contra os imigrantes não tenha parado de aumentar nos últimos anos. E se no caso de Anders Breivik ainda não se esclareceu cabalmente se foi um acto isolado ou de um grupo organizado, a verdade é que na Noruega não faltam exemplos dos dois géneros. Desde as agressões a imigrantes, praticadas por indivíduos racistas, até a um sem-número de assassinatos, perpetrados por organizações de extrema-direita, as ocorrências são quase diárias.
Os Centros de Acolhimento, pela sua natureza, costumam ser alvos preferenciais de indivíduos isolados ou de grupos organizados. Um dos casos mais conhecidos ocorreu em Outubro de 2009, quando alguns jovens atiraram pedras através duma janela num centro em Fossanaasen. Um bilhete com símbolos nazis foi anexado às pedras com a mensagem: «Vão para casa, para o vosso país.» No mês anterior, o Centro de Namsos fora atacado três vezes. Símbolos nazis foram atirados para o interior, notas com mensagens racistas foram deixadas na porta de entrada do centro e três janelas foram partidas. Na mesma altura, um centro de refugiados em Sjoholt foi atacado com armas de fogo. Ninguém ficou ferido, mas as balas entraram pelas janelas.
O caso Ali Farah foi um dos que deu brado na Noruega. Somali de nascença, mas com Nacionalidade norueguesa, estava com a família num piquenique quando foi agredido na cabeça por um homem a quem se dirigiu com o objectivo de solicitar que parasse com o comportamento desordeiro. Sangrava abundantemente quando chegou a Ambulância. Ao ser levantado do chão, urinou involuntariamente, o que fez com que o paramédico lhe chamasse porco e se recusasse a transportá-lo, preferindo chamar a Polícia antes de ir embora. A polémica na imprensa foi enorme e vários políticos verberaram o comportamento racista dos paramédicos. Estes foram suspensos e multados, mas ilibados na Justiça.
Nos últimos anos, vários foram os assassinatos por motivos raciais ou religiosos. Por ordem cronológica, temos em primeiro lugar Arve Beheim Karlsen, morto em 23 de Abril de 1999. Nascido na Noruega, mas de origens índias, afogou-se no rio Songdal ao fugir de dois jovens que corriam atrás dele com ameaças de morte e insultos racistas, entre os quais a frase «vamos matar o nigger». O Tribunal reconheceu as motivações racistas mas recusou-se a relacionar essas motivações com a morte de Arve Karlsen e condenou os dois jovens a 1 e 3 anos de prisão.
Benjamim Hermansen foi morto em 26 de Janeiro de 2001 e foi provavelmente o homicídio que mais agitou a sociedade norueguesa. Filho de pai ganês e mãe norueguesa, mestiço, tinha apenas 15 anos. Foi esfaqueado até à morte, em Oslo, por dois indivíduos do grupo neo-nazi BootBoys, que foram condenados a 17 e 18 anos de prisão. Ficou provado que os assassinos tinham saído de casa com o objectivo de encontrar um estrangeiro e encontraram-no junto a um parque de estacionamento.
Foram organizadas várias marchas de homenagem ao jovem. A 27 de Janeiro de cada ano, é entregue o Prémio Benjamim Hermansen. O álbum «Invicible», de Michael Jackson, foi-lhe especialmente dedicado. Ao invés, Clara Dorothea Weltzin, uma mulher de Oslo de extrema-direita, deixou em testamento 250 000 coroas norueguesas a um dos assassinos.
Mahmed Jamal Shirwac foi morto em 23 de Agosto de 2008. Taxista somali, pai de 6 filhos, foi morto em Trondheim com 13 tiros. O autor do crime, membro de um grupo neo-nazi, espalhava pela internet o seu ódio racial e assumia que iria matar muçulmanos se alguma ocasião se proporcionasse.
«Ambos morreram como vítimas de ódio contra a pele, e contra a religião. Benjamin e as outras vítimas merecem mais de nós do que tochas. A sua memória merece a nossa fidelidade, a sua morte, os nossos esforços incansáveis para proteger o direito de todos a uma vida de paz e segurança em um país que pertence a todos nós», referiu a propósito destes assassinatos a já referida Presidente do Centro Norueguês Anti-Racismo.
No meio disto tudo, a Polícia norueguesa conseguiu notar nos últimos anos apenas um ligeiro aumento da actividade de grupos extremistas de direita e chegou a sugerir que o movimento seria fraco, sem um líder e com pouco potencial de crescimento. Quanto ao líder, parece que já está encontrado.
O mais engraçado de tudo – embora não tenha graça nenhuma – é que a Noruega trata mal os imigrantes, mas não trata melhor determinadas camadas da sua população, como é o caso das mulheres. Um país que se ufana da igualdade concedida às mulheres em todos os sectores da sociedade mas que, na prática, não as protege devidamente.
O crime de violação é o melhor exemplo da afirmação anterior. A situação é de tal forma grave que a Amnistia Internacional já teve de repreender por diversas vezes as autoridades do país. Nos últimos anos, a situação tem-se agravado, com um aumento de 30% das violações consumadas. 45% das vítimas têm menos de 20 anos. No entanto, com mais ou menos provas, só 16% dos casos é que chega a Tribunal e só 12% dos violadores são condenados.
Segundo diversos estudos realizados na Noruega, a violação não é uma prioridade para as autoridades de investigação policial. Os suspeitos raramente são interrogados e, quando o são, o interrogatório é pouco exaustivo e mal planeado. A cena do crime é investigada em apenas metade das denúncias. As provas forenses muitas vezes não são usadas.
Como não podia deixar de ser numa sociedade com as características da norueguesa, a percentagem de mulheres violadas pertencentes a grupos minoritários é anormalmente elevado.
Segundo a Amnistia Internacional, os países nórdicos não lutam o suficiente contra a violência sexual, sendo que na Finlândia a situação ainda é mais grave do que na Noruega. Um dos relatórios produzidos pela AI é elucidativo: «Apesar dos progressos realizados para a igualdade entre os homens e as mulheres em numerosos domínios das sociedades nórdicas, quando se trata de violação, as disposições penais não continuam adequadas para proteger. A violação e as outras formas de violência sexual continuam a ser uma realidade alarmante que afecta as existências de milhares de jovens raparigas e mulheres, a cada ano em todos os países nórdicos».
Curiosamente, ainda há bem pouco tempo acabou por ser condenada a pena de prisão uma mulher norueguesa por ter violado um homem, fazendo-lhe sexo oral enquanto ele estava a dormir. Deve ser a tal igualdade entre homens e mulheres de que os noruegueses se ufanam.
Embora muito mais houvesse para dizer, já não fica dito pouco. Ainda assim, fica dito o suficiente, em minha opinião, para se poder chegar à conclusão de que a Noruega é um país muito pouco recomendável no que diz respeito à tolerância, à democracia e aos direitos humanos.
Perguntar-me-ão se um louco como Breivik não poderia aparecer em qualquer país do mundo. Talvez, não sei. Mas o que sei é que as características políticas e sociais da Noruega tornaram-se o viveiro ideal para o desenvolvimento da sua ideologia. E sei também que o acto de Anders Breivik, apesar das proporções, não foi um acto isolado. Definitivamente, ele não está sozinho.


Extraído do Blog "CINCO DIAS"
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Oslo, a tragédia


Como é que a literatura nórdica nos avisou do que poderia acontecer em Oslo? Um bom artigo do El Pais.

Qué hubiese dicho Wallander?
Por Guillermo Altares

Si hay un fenómeno que ha marcado el mundo editorial mundial en los últimos años es el boom de las novelas negras nórdicas. Son países muy diferentes y también son autores muy diferentes; pero tienen características en común, los países y los escritores. Los estados nórdicos han sido siempre un ejemplo de sociedades extremadamente avanzadas: en los derechos de las mujeres o en su capacidad para acoger refugiados, en su apuesta por la justicia social, sus sistemas de salud… Como ha escrito el periodista Misha Glenny, “Noruega es el único país del mundo que utiliza sus inmensas reservas de petróleo para ayudar a los desposeídos del mundo, el país más admirable”. Sin embargo, las novelas negras que producen estos países reflejan una profunda inquietud, un sentimiento extremo de que algo va mal. Los autores más famosos, Henning Mankell y su detective Kurt Wallander y el fallecido Stieg Larsson y su extraño mundo de hackers, periodistas, asesinos, violadores y sádicos de todo pelaje, reflejan en sus libros ese malestar, ese mal que ha aparecido el viernes en el centro de Oslo y en la isla Utoya.“La pérdida de la inocencia”, titulaba esta mañana una de sus piezas la BBC sobre la tragedia noruega. En realidad, los países nórdicos perdieron su inocencia el 28 de febrero de 1986 cuando, a la salida de un cine de Estocolmo, el primer ministro sueco Olof Palme fue asesinado. Ni siquiera llevaba escolta, ni coche oficial. El asesinato, sobre el que siguen quedando demasiados cabos sueltos, conmocionó al mundo. Suecia nunca se recuperó. Utoya, Oslo representan un paso más en la pérdida de la inocencia, en el alejamiento del sentimiento de utopía. Pero muchos de nosotros ya lo habíamos leído, en Larsson o en Mankell, en la historia de aquel muchacho que se disfrazaba de indio y cometía asesinatos (La falsa pista), en los horrores que relataron una y otra vez.
“Escribo en la tradición literaria más antigua, la que utiliza el espejo del delito y del crimen para reflejar la sociedad. ¿De qué hablaban las tragedias griegas sino de crímenes? Cuando me preguntan cuál es la mejor historia criminal, siempre contesto que Macbeth, de Shakespeare”, señaló Mankell en una entrevista con este diario. “Son los otros quienes han inventado que Suecia es una utopía. Luchamos contra los mismos problemas que en España o Portugal, con la única excepción de que nosotros nunca hemos tenido una dictadura. En mis libros intento dar una imagen más real de Suecia. Es una de las sociedades más decentes en que se puede vivir”, proseguía el autor.
El cansado inspector sueco, que se alimenta de comida basura y de tragarse los malos rollos del mundo, simboliza como nadie la lucha contra las pulsiones oscuras de una sociedad sólo aparentemente perfecta. Una de las cosas que más chocan al lector español cuando se entra por primera vez en la serie Wallander, publicada en España por la editorial Tusquets, es que todo el mundo se habla de tú, de hecho, el traductor tiene que explicarlo en una nota a pie de página. No puede haber un símbolo más potente de hasta qué punto pretender ser una sociedad igualitaria. Pero luego están los malos tratos contra las mujeres o el tráfico de inmigrantes. De hecho, uno de los fenómenos políticos más preocupantes que se han producido en los últimos en ese rincón nórdico de Europa es el auge de los partidos de ultraderecha. Un personaje como Anders Behring Breivik, de 32 años, el presunto asesino, podría haber aperecido en cualquiera de sus libros.
El islandés Arnaldur Indridason, la noruega Anne Holt (que también fue ministra de Justicia), la pareja Maj Sjöwall y Per Wahlöö que revolucionó la novela negra nórdica en los setenta, el veterano escritor noruego Kjell Askildsen, Asa Larsson y su Aurora boreal, Jens Lapidus con Dinero fácil, son otros autores de la fiebre nórdica. Aunque el mayor éxito lo logró un periodista de investigación, Stieg Larsson, que murió antes de conocer el impacto mundial que iban a tener sus libros. Milenium, tres volúmenes de casi mil páginas cada uno, refleja incluso con más oscuridad que Mankell ese malestar en el paraíso del frío: torturas, magnates siniestros, asesinatos, venganzas nunca olvidadas. Pero Larsson, que como reportero conoció muy de cerca los círculos de la ultraderecha nórdica, describió sobre todo una sociedad que se alejaba lentamente de la utopía para sumergirse en la realidad de un mundo herido y violento. En el fondo, nos cuentan que no existen sociedades perfectas, sólo seres humanos.

EL PAIS

domingo, 24 de julho de 2011

Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

António Ramos Rosa
A meu favor

A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.


Alexandre O´Neill

Islândia mais confiante depois de controlar dívida pública

O regresso bem sucedido da Islândia ao mercado de obrigações deve-se à reduzida dívida pública, ajudada pela recusa em resgatar os bancos que faliram, justificaram economistas islandeses.   

A 9 de Junho, a Islândia emitiu bilhetes do tesouro no valor de mil milhões de dólares (704 milhões de euros) a uma taxa de juro de 4,993 por cento com maturidade de cinco anos, considerado pelo governo um "marco" para o país.

A procura foi duas vezes superior à oferta, um sinal de que os investidores acreditam que a economia do país está a dar bons sinais e que é diferente da crise de países como a Grécia ou Portugal, sustentou Vilhjalmur Bjarnason, à agência Lusa.
"Os principais problemas na Islândia estão no sector privado e não no sector público, enquanto que no sul da Europa o problema é a dívida pública", lembrou este professor na Universidade de Reiquiavique.
A OCDE estima que a dívida pública chegue ao auge este ano e corresponda a 83 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), que no ano passado se ficou pelos 1540 mil milhões de coroas islandesas (9,3 mil milhões de euros).
Também "ajudou que o governo não tenha assumido as obrigações dos bancos" que colapsaram em 2008, explicou, cujos activos no estrangeiro superavam na altura dez vezes o PIB.
"O tamanho dos bancos que caíram tornou impossível ao país cobrir a dívida", concordou Ludvík Elíasson, economista chefe do MP Bank.
O resultado foi uma contracção da economia, cujos bancos agora quase não têm operações no estrangeiro, e uma concentração nas actividades produtivas.
A produção de energia e alumínio e as pescas são as bases económicas do país de 320 mil habitantes cuja riqueza em recursos naturais é também uma atracção para os turistas.
O aumento das exportações, ajudado pela desvalorização da coroa islandesa, sustentou um crescimento de dois por cento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2011.
Depois das recessões de 2009 e 2010, previsões oficiais apontam para que a economia cresça 2,5 por cento este ano e 3,1 por cento em 2012.
Elíasson afirma que "foi importante ter ajuda externa" do FMI, que providenciou um empréstimo de 2,1 mil milhões de dólares (1,48 mil milhões de euros).
Um grupo de países nórdicos avançou com 2,5 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros).
O país iniciou recentemente negociações formais sobre a adesão à União Europeia mas a perspectiva de adoptar a moeda única divide os dois economistas.
"Não é uma solução imediata mas faz sentido porque a Islândia faz parte da Europa", defendeu Bjarnason, que afirmou que muitas empresas já usam outras divisas nas suas contas.
A "opinião pessoal" de Ludvík Elíasson é que não existem "grandes vantagens na adesão à UE ou euro" e que ter moeda própria "é melhor e mais adequado à nossa economia".

In C.M. (24.7.2011)

O web site partido do monstro da Noruega, onde ele expõe a sua ideologia e instiga à luta contra a proliferação do Marxismo e à Islamização da Europa

http://www.document.no/

O Vídeo do partido do monstro da Noruega onde se instiga à luta contra a Islamização da Europa




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A Noruega chora os seus mortos

Decididamente, a Democracia e a Civilização não deveriam ser extensivas a estes monstros. Por mim, estes partidos extremistas e radicais nunca deveriam ser legalizados; Não podemos oferecer Liberdade às bestas e à selvajaria. Para eles nada. Não concebo que uma seita de indivíduos, que se intitula de partido político e que na sua génese se constituem como adeptos do escorraçamento de um grupo social, ou de uma classe, se mantenha livre e se permita que cheguem a este extremo. Deviam ser permanentemente monitorados e seguidos, até por uma força especial participada a nível mundial e criada propositadamente com a finalidade de prever atentados nas cidades do mundo livre. J.L.F.

O Projecto de George Clooney para monitorar o Sudão em tempo real

sexta-feira, 22 de julho de 2011

FOME




Este é o nosso rosto. É aqui onde caem as máscaras. Daqui não há mais fuga possível. As nossas costas bateram contra a parede. Todos somos culpados. A nossa passividade, o nosso egoísmo quando disputamos os míseros tostões e os níqueis provenientes do produto da venda das minas de fragmentação e das “kalashnikovs,” quando nos quedamos mudos e não gritamos em uníssono, que isto não pode continuar e nos escondemos nunca é nada connosco e viramos a cara e não saímos à rua feitos loucos porque não podemos suportar mais este peso e esta dor na consciência porque somos homens e temos medo de enfrentar os poderosos e temos vergonha da esmola que damos que nunca chega para nada e as nossas mãos se abrem e se fecham de rubor tamanha e sórdida é a nossa alma por o permitir e conseguimos adormecer não sei como e olhamos para o lado e há alguém que também não pensa e vive amedrontada pois vivemos num "Matrix", e todos os dias inventamos novas teorias religiões teoremas fórmulas axiomas certezas, as mais modernas e sofisticadas armas porta aviões submarinos atómicos, Marte dentro de dez anos, vamos ao fundo dos oceanos e aos cumes da Terra, num mundo cibernético computorizado digitalizado tudo ao alcance no "hipermarket" anestesiados pela sociedade de consumo; mas ele continua com o bracinho estendido com a gamela na mão ajoelhado aos meus pés rogando uma côdea de pão ou arroz e não aprendemos que por cada lágrima de um menino que nasce e morre algumas horas depois arfando por uma gota de água mais distante é o nosso caminho para o paraíso e mais nos afundamos no pântano e já não somos nada apenas seres bestializados animalizados pela disputa de um naco de carne crua pestilenta abutres brutalizados pelo luxo inaudito e pelo comodismo e somos canibais e nos esquecemos daquele pequeno rosto negro ou menos negro de ébano e dizemos tanta coisa e nunca nada acerca deste menino que me queima o coração de remorso e logo mais uma vez ajoelho-me e rezo a Deus mas mais uma vez vou negá-lo esta noite e me esqueço daquela mão que treme de fraqueza e Deus também se esqueceu dele temos os dois fraca memória dizem que são provas para a Humanidade mas que Deus cruel é este, que se alimenta da carne macia deste menino,dos seus frágeis ossinhos em formação destas órbitas aterrorizadas assustadas vidradas apagando-se e baixando cabisbaixas humildes obedientes pelo peso da morte.

J.L.F.

A Esquerda "Caviar"

A esquerda portuguesa, (B.E), a "esquerda caviar," anacrónica e passadista, sem idéias, fora de moda, desactualizada, disputa até ao mais ínfimo tostão as migalhas do orçamento do estado. Tentam colar a si a imagem de preocupação social. É uma autêntica tragicomédia. De tão ridiculos dão-me vontade de rir. Rio-me até à náusea, ou às lágrimas. São uma tristeza. Vir nesta altura com motivos de Abril leva o mesmo caminho dos "Homens da Luta", na Eurovisão. Estão condenados ao fracasso e à derrota antecipada e anunciada.
J.L.F.

O Caos Sistémico

Parece-me que se aliviou um pouco a pressão sobre os países em dificuldades na zona Euro. Logo pela manhã as bolsas europeias abriram em alta, e os juros da dívida pública desceram satisfatoriamente. Há agora uma espécie de Plano Marshall alemão, para ajudar a Grécia a sair do garrote e tirar a cabeça do cepo. Percebemos que ao encostar à Itália, a crise das dívidas soberanas entrou na zona vermelha de alto risco, o “dead line,” correndo o perigo eminente de provocar o caos sistémico em toda a UE.

A Alemanha ganhou, ao conseguir que os privados, os bancos, (no caso da Grécia) participassem na ajuda aos fundos, que por sua vez serão aumentados, os prazos de pagamento dilatados e as taxas de juros ficarão mais baixas, pela parte do FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira). Do lado da Alemanha haverá uma intervenção efectiva no apoio, consultoria e estímulos à economia grega.

O fundo europeu de resgate está agora autorizado, a comprar dívida pública aos investidores no mercado secundário, depois de emitida pelos países.

Mas regressemos um pouco ao passado, para vermos bem como Portugal chegou a esta triste situação. Pego em dois ou três jornais diários e retiro alguns dados:
Em 14 de Setembro de 2008, nos EUA, o Lehman Brothers faliu despoletando consigo a crise global e pondo a nu as debilidades e fragilidades de alguns países. De seguida, em Janeiro de 2009 (apenas quatro meses depois), a agência de notação financeira “Standard & Poor’s” reduziu o “rating” da dívida pública portuguesa para o nível mais baixo, desde que começou a analisá-la, no inicio da década de 90. Mas só 540 dias depois do início das convulsões mundiais, em Março de 2010, o governo descobriu que havia problemas e anunciou a austeridade do PEC 2010-2013, que emendaria por várias vezes, até pedir ajuda externa em Abril de 2011.

A atitude dos dirigentes portugueses, quero dizer, nós, tem sido, ao longo do últimos vinte anos, de puro caminhar nas nuvens, longe do planeta Terra e longe dos índices verdadeiros da sua produção nacional, ou do seu produto interno bruto. Desde construções megalómanas como a sede da Caixa Geral de Depósitos, na Av. João XXI, até algumas estações do Metropolitano de Lisboa, como o Colégio Militar, com azulejos de Manuel Cargaleiro e Vieira da Silva, até poesia incrustada nas paredes do metro, a estátuas de mármore de mulheres típicas de Lisboa em tamanho real, tudo foi pouco para mostrar o novo-riquismo português.

Passeio por Estocolmo, desço na estação do “Tunnelbana,” em “Maria Torget” e o que vejo? Uma estátua da respeitável senhora, decerto a patrona do lugar, por cima de um bloco de pedra, com não mais de um metro de altura e em bronze vulgar. Curioso, quero mais e calcorreio Estocolmo á procura de estações, que, li algures, imitam grutas directamente escavadas na rocha. Como é possível? Deve ser giro. E é. Vou apalpar. È tudo feito em gesso cartonado, paredes cobertas por cartão prensado e pintadas à mão, rústico. Ora nem mais. Não foi gasto ali mais de dez mil krones. E são um país rico. Com uma boa segurança social, bons ordenados, futuro garantido etc, etc.

Londres. Olho para as estações do “Underground”. Estão cobertas de imagens, sim, mas de publicidade para render dinheiro e pagar a despesa do “Underground” gigantesco da City of London, ou da City of Westminster.

Portugal tem de mudar muito, e principalmente a nível de mentalidades. Há uma lenga-lenga típica nos portugueses e que repetem até à exaustão: é a de que somos um país pobre. Pois é, mas não mais que a Suíça e que a Holanda, cujo território é menos de metade de Portugal e apenas tem os canais, as tulipas e as vaquinhas malhadas. No entanto têm um bom nível de vida, bastante superior ao nosso. Mas não têm feriados em barda como nós, nem pontes de cinco dias, nem greves, porque se chega a um acordo social com vista ao interesse de todos. A Suíça inventou o sistema dos bancos e dos depósitos, e as contas secretas, Londres é uma off-shore, na sua City, a Holanda tem bancos e instituições financeiras de nível mundial.

Portugal é um país rico!

Portugal tem uma orla marítima com dezenas de praias agradabilíssimas, tem vinho, vinhas, vinhedos e regiões demarcadas com fartura, fruta de qualidade, boas adegas especialistas em óptimos azeites e de nível internacional, tem um interior com vários microclimas, desde o calor alentejano ao frio e à neve da serra (entreguem, por hipótese, apenas, a serra da estrela a um suíço, proprietário de algum hotel nos Alpes Suíços, para explorar e vão ver o que é desenvolvimento); tem gado com fartura, cavalos de raça, tem um território com tamanho e condições ideais para progredir, não tem disputas territoriais, não é como a Irlanda dividida e em permanente conflito violento entre católicos e protestantes, tem espaço, paz e tempo para atrair o investimento, então porque não o faz?

Hoje já não há desculpa para ninguém, é impossível continuar a fazer o papel de coitadinho de nós, deste cantinho á beira-mar. Da próxima, se próxima houver, de certeza que a Alemanha não virá em nossa ajuda. Parece-me que a União Europeia não estará mais disponível para suportar o défice destes países.

José Luis Ferreira
Queluz, 22Julho2011

A União Europeia na História

A União Européia (UE) é de longe o império mais popular e mais bem sucedido da História, pois não domina, mas disciplina.
P. Khanna

Responsáveis porquê?

É preciso desmistificar e desmontar rápidamente a idéia que alguns querem fazer passar, de que a comunidade cigana tem alguma responsabilidade no descalabro económico de Portugal. Encabeçar qualquer lista de incumpridores fiscais em Portugal, com a comunidade cigana, é falsear o problema, é desonesto e é um exercício de tapar o sol com a peneira. É um verdadeiro acto de preconceito.
J.L.F.

Amor à vista

Coisa interessante de se ver é como o Presidente de Angola, o eng. José Eduardo dos Santos, de formação marxista, se relaciona tão bem com a direita portuguesa. Desde o prof. Cavaco Silva, de quem ele tanto gosta, (e que eu sei), até a Paulo Portas, agora, é sempre com a direita portuguesa que o governo de Angola tem os seus momentos mais intensos.
J.L.F.
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.
Sá de Miranda

Amor à vista?

Como as coisas mudam...! Gostei de ver Paulo Portas, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, antes feroz crítico do governo de Angola, e que agora aperta a mão vigorosa e amigávelmente ao Presidente José Eduardo dos Santos. "Realpolitik" à portuguesa... de qualquer forma fico satisfeito!
J.L.F.

Vícios e mais vícios

Existe em Portugal uma certa mentalidade, demasiado enraizada na cultura portuguesa e que nunca assume culpas de nada (qualquer dia falo nisto com mais tempo). Os culpados nunca somos nós. São sempre eles, os outros e se possível com as minorias étnicas à cabeça e os imigrantes em segundo. Esquecem que diariamente usam mil subterfúgios para fugir aos impostos até nos actos mais comezinhos como comer no restaurante, onde imediatamente se pede a factura sem IVA, esquecem os esquemas e truques onde o português é useiro e vezeiro em enganar o Estado, esquecem a sua passividade, a sua falta de arrojo e a ausência de criatividade clássica, o síndroma do velho do Restelo, que desconfia do novo e se agarra ao passadismo, o medo visceral ao estrangeiro, o seu complexo e subserviência a este, que os leva a emigrar e fazer os trabalhos de serviçal ao passar a fronteira, a ambiguidade entre o ser europeu ou não o ser, a sua dependência dos subsídios do governo, a sua difícil convivência com o sucesso, a crónica inveja ao bem sucedido, a fraca cultura, a iliteracia, o fraco sistema educativo, a sua elite política débil e canhestra, sem coragem, sem carisma e mal formada pelos seus próprios tutores, a sua velha dependência das riquezas do Império, etc, etc,etc.
Por agora fiquemos por aqui...

J.L.F.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Corno de África atravessa a pior seca dos últimos 60 anos

                                                                      

Os países do Corno de África são: Djibouti; Eritreia; Etiópia; Somália.

O Corno de África atravessa a pior seca das últimas seis décadas. As crianças são as mais vulneráveis. Diz a UNICEF que dois milhões de crianças sofrem de subnutrição e necessitam de ajuda urgente para sobreviverem. 500 mil estarão mesmo em risco de vida.

Doze milhões de pessoas passam fome no Corno de África devido à seca e à guerra, alertou na terça-feira um economista da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Segundo Shukri Ahmed, as populações de Djibouti, da Etiópia, do Quénia, da Somália e do Uganda têm necessidade de uma "ajuda alimentar imediata".

Na semana passada, o Programa Alimentar Mundial estimara que dez milhões de pessoas tinham necessidade de ajuda alimentar, o que representava um aumento de quatro milhões face à estimativa anterior.

A Somália é o país mais afectado pela fome e pela seca. Milhões de somalis encontram-se em situação de "emergência humanitária" e as crianças são as que mais sofrem. A situação, na Somália, ganha ainda maiores contornos com a guerra civil que se vive no país desde há 20 anos.

A ajuda humanitária, que agora entrou neste estado, teve a autorização da guerrilha islâmica Al-Shabab. Um grupo que controla uma parte da cidade de Mogadíscio e ainda a maior parte do centro e sul do país. A autorização da Al-Shabab dura apenas 10 dias.

Os somalis não param de abandonar o país. No mês de Junho, 54 mil fugiram da Somália em direcção ao Quénia e à Etiópia


O meu Blog

Trópico de Capricórnio é o meu Blog. É assumidamente pirata, é vadio, percorre a estúrdia e a crápula da noite. Rouba textos aqui e ali, como qualquer vulgar ladrão de bicicletas, depois copia e descreve o que vê.

O Trópico também é transcontinental, gosta de viajar, de saber, informa-se quando não sabe, e vai errando a cada passo. Dá erros de ortografia, pouco sabe de História, mas tem muitas histórias para contar. Anda por aí, vagueando, não quer ser inteligente nem é dono da razão mas observa, reflecte e está sempre do lado dos fracos. Para o Trópico isso é fundamental, é mesmo a sua pedra de toque.

Daquilo que sabe, o Trópico tenta passar para outros, porque sabe o valor da palavra, da imagem e da coisa escrita. O Trópico é o mensageiro, o Pony Express, pois acha que se a notícia não chega, o Pony Express oferece-se para levar.

Este é o Trópico, nem bem nem mal, crítico, sempre, chato e aborrecido, mas de uma coisa não abdica: a livre expressão, o seu direito de comunicar e de emitir opinião. Ou por outras palavras, o seu inviolável direito à indignação, como bem disse um grande político.

J.L.F.

Defende Robert Fishman:Portugal não precisava de ajuda externa e agências de "rating" têm de ser travadas (act.)


O sociólogo Robert Fishman escreve no "The New York Times" sobre o "desnecessário resgate de Portugal" e acusa as agências de notação financeira de distorcerem a percepção que os mercados tinham da estabilidade do País.

Portugal não precisava deste resgate. Foi sobretudo a especulação que precipitou o País para o pedido de ajuda externa. O culpado não foi o governo, mas sim a pressão das agências de “rating”. É esta a opinião de Robert Fishman, professor de Sociologia na Universidade de Notre Dame, num artigo hoje publicado no jornal “The New York Times”.

Na opinião de Fishman - que escreveu, em conjunto com Anthony Messina, o livro intitulado “The Year of the Euro: the cultural, social and political import of Europe’s common currency” -, a solicitação de ajuda externa à UE e ao FMI por parte de Portugal deverá constituir um aviso para as democracias de todo o mundo.

A crise que teve início no ano passado, com os resgates da Grécia e da Irlanda, agravou-se, constata o professor. “No entanto, este terceiro pedido nacional de ajuda não tem realmente a ver com dívida. Portugal teve um forte desempenho económico na década de 90 e estava a gerir a sua retoma, depois da recessão global, melhor do que vários outros países da Europa, mas sofreu uma pressão injusta e arbitrária por parte dos detentores de obrigações, especulações e analistas de “rating” da dívida que, por razões ideológicas ou de tacanhez, conseguiram levar à queda de um governo democraticamente eleito e levaram, potencialmente, a que o próximo governo esteja de mãos atadas”, salienta Robert Fishman no seu artigo de opinião publicado no jornal norte-americano.

O sociólogo adverte que “estas forças do mercado, se não forem reguladas, ameaçam eclipsar a capacidade de os governos democráticos – talvez até mesmo o norte-americano – fazerem as suas próprias escolhas em matéria de impostos e despesa pública”.

"Crise em Portugal é completamente diferente"

Apesar de as dificuldades de Portugal se assemelharem às da Grécia e da Irlanda, uma vez que os três países aderiram ao euro, cedendo assim o controlo da sua política monetária, o certo é que “na Grécia e na Irlanda, o veredicto dos mercados reflectiu profundos problemas económicos, facilmente identificáveis”, diz Fishman, realçando que “a crise em Portugal é completamente diferente”.

Em Portugal, defende o académico, “não houve uma genuína crise subjacente. As instituições económicas e as políticas em Portugal, que alguns analistas financeiros encaram como irremediavelmente deficientes, tinham alcançado êxitos notáveis antes de esta nação ibérica, com uma população de 10 milhões de pessoas, ser sujeita a sucessivas vagas de ataques por parte dos operadores dos mercados de obrigações”.

“O contágio de mercado e os cortes de ‘rating’ , que começaram quando a magnitude das dificuldades da Grécia veio à superfície em inícios de 2010, transformou-se numa profecia que se cumpriu por si própria: ao elevarem os custos de financiamento de Portugal para níveis insustentáveis, as agências de ‘rating’ obrigaram o País a pedir ajuda externa. O resgate confere poderes, àqueles que vão “salvar” Portugal, para avançarem com medidas de austeridade impopulares”, opina Robert Fishman.

“A crise não resulta da actuação de Portugal. A sua dívida acumulada está bem abaixo do nível de outros países, como a Itália, que não foram sujeitos a avaliações [de ‘rating’] tão devastadoras. O seu défice orçamental é inferior ao de vários outros países europeus e tem estado a diminuir rapidamente, na sequência dos esforços governamentais nesse sentido”, refere o professor, que fala ainda sobre o facto de Portugal ter registado, no primeiro trimestre de 2010, uma das melhores taxas de retoma económica da UE.

Em inúmeros indicadores – como as encomendas à indústria, inovação empresarial, taxa de sucesso da escolaridade secundária e crescimento das exportações -, Portugal igualou ou superou os seus vizinhos do Sul e mesmo do Ocidente da Europa, destaca o sociólogo.

Porquê os "downgrades?"

“Então, por que motivo é que a dívida soberana portuguesa foi cortada e a sua economia levada para a beira do precipício?”, questiona-se Fishman.
Na sua opinião, há duas explicações possíveis. Uma prende-se com o cepticismo ideológico do modelo económico misto de Portugal, com o apoio aos empréstimos concedidos às pequenas empresas, de par com umas quantas grandes empresas públicas e um forte Estado Providência, explica.

A outra explicação está na “inexistência de perspectiva histórica”. Segundo Fishman, os padrões de vida dos portugueses aumentaram bastante nos 25 anos que se seguiram à Revolução dos Cravos, em Abril de 1974, tendo havido na década de 90 um acelerado aumento da produtividade laboral, do investimento de capital por parte das empresas privadas, com a ajuda do governo, e um aumento dos gastos sociais. No final do século, Portugal tinha uma das mais baixas taxas de desemprego da Europa, sublinha também o professor.

Mas, realça, o optimismo dos anos 90 deu origem a desequilíbrios económicos e a gastos excessivos. “Os cépticos em torno da saúde económica de Portugal salientam a sua relativa estagnação entre 2000 e 2006. Ainda assim, no início da crise financeira mundial, em 2007, a economia estava de novo a crescer e o desemprego a cair. A recessão acabou com essa recuperação, mas o crescimento retomou no segundo trimestre de 2009”, refere.

Assim, no seu entender, “não há que culpar a política interna de Portugal. O primeiro-ministro José Sócrates e o PS tomaram iniciativas no sentido de reduzir o défice, ao mesmo tempo que promoveram a competitividade e mantiveram a despesa social; a oposição insistiu que podia fazer melhor e obrigou à demissão de Sócrates, criando condições para a realização de eleições em Junho. Mas isto é política normal, não um sinal de confusão ou de incompetência, como alguns críticos de Portugal têm referido”.

Europa poderia ter evitado o resgate

E poderia a Europa ter evitado este resgate?, questiona-se. Na sua opinião, sim. “O BCE poderia ter comprado dívida pública portuguesa de forma mais agressiva e ter afastado a mais recente onda de pânico”.

Além disso, Fishman afirma que é também essencial que a UE e os EUA regulem o processo utilizado pelas agências de “rating” para avaliarem a qualidade da dívida de um país. “Ao distorcerem as percepções do mercado sobre a estabilidade de Portugal, as agências de notação financeira – cujo papel na aceleração da crise das hipotecas ‘subprime’ nos EUA foi extensamente documentado – minaram a sua retoma económica e a sua liberdade política”, acusa o académico.

“No destino de Portugal reside uma clara advertência a outros países, incluindo os Estados Unidos. A revolução de 1974 em Portugal inaugurou uma vaga de democratização que inundou o mundo inteiro. É bem possível que 2011 marque o início de uma vaga invasiva nas democracias, por parte dos mercados não regulados, sendo Espanha, Itália ou Bélgica as próximas vítimas potenciais”, conclui Fishman, relembrando que os EUA não gostariam de ver no seu território o tipo de interferência a que Portugal está agora sujeito – “tal como a Irlanda e a Grécia, se bem que estes dois países tenham mais responsabilidades no destino que lhes coube”.

Jornal de Negócios (18deJul2011)

Vamos Fazer dinheiro / Let's make money

A pilhagem da riqueza dos países pelos grandes bancos e corporações internacionais, o Banco Mundial e o FMI

A estratégia dos grandes bancos e corporações internacionais, do Banco Mundial e do FMI de pilhagem da riqueza dos países é concretizada, principalmente, através da criação de dívidas soberanas (dívidas dos estados) impagáveis, as quais acabam por obrigar os estados a realizar dinheiro, para o pagamento das suas dívidas, através da privatização (venda aos "investidores do mercado") de todo o património público dos países que possa gerar lucros. Por exemplo:

a) Os transportes aéreos (TAP - Transportes Aéreos Portugueses e ANA - Aeroportos de Portugal);

b) Os transportes ferroviários (CP - Comboios de Portugal e em estudo a REFER - Rede Ferroviária Nacional);

c) Os transportes rodoviários (Carris e STCP);

d) Os metropolitanos (Metro de Lisboa);

e) A electricidade (EDP - Electricidade de Portugal e REN - Redes Energéticas Nacionais);

f) A água (Águas de Portugal);

g) O gás e outros combustíveis (GALP);

h) As comunicações e telecomunicações (Portugal Telecom e CTT - Correios de Portugal);

i) A comunicação social (RTP - Rádio e Televisão de Portugal (Televisão Pública, Antena 1, 2 e 3) e LUSA - Agência de Notícias de Portugal);

j) Campos petrolíferos (não há no caso português, ou melhor, os campos existentes ainda não foram considerados economicamente viáveis para serem explorados);

k) Minérios (já foram concessionadas ao "capital estrangeiro", anteriormente, todas as minas rentáveis portuguesas)

As cerejas em cima deste grande bolo são as seguintes:

a) As privatizações são feitas a preços inferiores ao valor real das empresas devido ao facto destas vendas serem forçadas. Além disso, para ajudar a baixar ainda mais o preço de venda das empresas, as agências de notação financeira Moody's, Standard & Poor's e Fitch (controladas pelos grandes bancos e corporações internacionais) têm piorado sucessivamente a notação destas empresas. Este negócio de privatização é obviamente prejudicial para o interesse público;

b) O aumento exigido do preço ao consumidor dos serviços a privatizar (electricidade, gás, água, etc.) serve para garantir que as empresas a privatizar possam vir a dar lucros;

c) A diminuição generalizada dos salários em resultado do aumento brutal do desemprego e das medidas administrativas de contenção das actualizações salariais face à inflação, garante maiores lucros em resultado da diminuição dos custos de produção;

d) O controlo total da comunicação social dos países nas mãos dos privados (grandes corporações internacionais) facilitará futuras pilhagens sem que os cidadãos se apercebam da situação;

e) O controlo total das comunicações dos países (em especial a Internet) nas mãos dos privados (grandes corporações internacionais) juntamente com controlo total da comunicação social permitirá às grandes corporações internacionais o controlo total da informação a que os cidadãos terão acesso. A título de exemplo, veja-se o caso de França, onde Sarkosy conseguiu a aprovação de uma lei que permite às empresas fornecedoras de acesso à Internet a capacidade de cortar o acesso à Internet a qualquer cidadão ou entidade colectiva com base em denúncias de "downloads ilegais", sem ser necessária uma ordem judicial para o efeito (ver nota 2).

Nota 1 - Convém chamar a atenção para o facto de que, desde há vários anos, as empresas privadas "portuguesas", que operam nestas áreas, têm vindo a ser compradas pelo chamado investimento estrangeiro (grandes bancos e corporações internacionais), graças à globalização e, em particular, à livre circulação de capitais imposta a todos os países.

Nota 2 - A lei de Sarkosy é justificada oficialmente pela necessidade de defender os direitos de autor e impedir as cópias piratas via Internet. Porém, em termos práticos, quando o utilizador da Internet transfere um ficheiro digital (contendo uma música, uma fotografia, um livro, uma apresentação de PowerPoint , um vídeo do YouTube, etc. ) por qualquer via (downloads, messenger, e-mail, aplicações específicas, etc.), a maior parte das vezes, não sabe nem pode saber se o conteúdo está protegido por direitos de autor, ou se o pagamento do download cobre os direitos de autor. Quem disponibiliza na Internet ficheiros digitais para venda ou para partilha é que sabe se os seus conteúdos estão sujeitos ou não a direitos de autores. Portanto, não é o consumidor final dos ficheiros digitais que é responsável pela pirataria. Assim, torna-se claro, que o objectivo final e encoberto da lei de Sarkosy é o de permitir o corte discricionário do acesso à Internet aos cidadãos ou entidades colectivas "perigosos" para o sistema.

As "ajudas" do FMI (os chamados resgates) para que os países possam honrar o pagamento das suas dívidas são, na prática, uma forma de endividar ainda mais os países que se encontram já muito endividados, pelas seguintes razões:

a) As "ajudas" são, nada mais nada menos, que novos empréstimos com juros, que serão utilizados para pagar os empréstimos já existentes. Ou seja, os países endividados, além de manterem as dívidas anteriores impagáveis, acumulam, com estas "ajudas" mais dívidas!

b) As exigências do FMI de privatização da maior parte da riqueza pública, tornam os países endividados em países mais pobres!

c) As medidas impostas de austeridade sufocam a economia dos países endividados, o que implica a redução da produção de riqueza e consequentemente tornam esses países ainda mais pobres!

d) As exigências do FMI em reduzir os direitos dos trabalhadores, quer ao nível do código do trabalho, quer ao nível dos apoios sociais, mais o aumento do desemprego decorrente das medidas de austeridade, implicam o empobrecimento geral da maioria da população, o qual, por sua vez implica um menor consumo, logo, acaba por se produzir menos riqueza nos países "ajudados"!

Em suma, as "ajudas" do FMI "enterram" ainda mais os países endividados!

A pilhagem dos recursos (materiais, financeiros e laborais) dos países não é feita, desta vez, através de uma guerra militar, mas sim é feita, subtilmente, através de uma guerra financeira, com o conluio de muitos governantes e "peritos" (políticos e economistas) e com a colaboração inconsciente dos restantes governantes e de quase todos os restantes peritos, nos países saqueados.

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domingo, 17 de julho de 2011

Klaus Regling: resgate da dívida de Portugal tem sido favorável à Alemanha

Os resgates das dívidas de Portugal e da Irlanda têm sido favoráveis para os países que concederam garantias a Lisboa e a Dublin, admitiu esta domingo o presidente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), Klaus Regling, em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

“Até hoje, só houve ganhos para os alemães, porque recebemos da Irlanda e de Portugal juros acima dos refinanciamentos que fizemos, e a diferença reverte a favor do orçamento alemão”, adiantou Regling, acrescentando que “é o prémio pelas garantias que a Alemanha dá só que os contribuintes alemães não acreditam”.

O presidente do FEEF dissipou receios de que a situação se altere, se Dublin e Lisboa deixarem de poder pagar as suas dívidas, incluindo os juros, lembrando que os programas de austeridade negociados pela Irlanda e por Portugal com a União Europeia e o FMI estão a ser cumpridos. “Se no entanto deixarem de pagar os juros, teremos de ir pedir o dinheiro a quem deu as garantias, como ficou estipulado, para dar garantias aos investidores”.

Ao jornal alemão Regling disse ainda que, mesmo que a Irlanda e Portugal tenham de reestruturar as suas dívidas soberanas, não é forçoso que haja prejuízos para os países que deram as garantias, através do FEEF. “Temos de olhar para a experiência feita pelo FMI, que já concedeu empréstimos a muitos países em dificuldades, e houve poucos que não devolveram o dinheiro, casos da Somália, Zimbabwe e Libéria, por exemplo”, acrescentou.

O presidente do fundo de resgate admitiu ainda a possibilidade de, “em situações excepcionais”, comprar títulos da dívida de países do euro em dificuldades financeiras no mercado primário.

Já no que se refere a hipótese de o FEEF adquirir também títulos da dívida de países da moeda única no mercado secundário, a outros investidores, “é uma decisão que terá de ser tomada pelos políticos”, lembrou.

A Alemanha admitiu pela primeira vez, na última quarta-feira, que a Grécia, que terá de receber novo pacote de ajudas, possa recomprar títulos da sua dívida pública no mercado secundário, com um empréstimo do FEEF, para diminuir o défice e tentar voltar a refinanciar-se nos mercados financeiros.

Regling adiantou que não tem tido dificuldades em arranjar investidores para cobrir as verbas necessárias aos resgates da Grécia, Irlanda e Portugal, nomeadamente na Ásia.

“Os investidores asiáticos compraram cerca de 40 por cento dos títulos, nas três emissões que fizemos”, lembrou.

Jornal "Público"

sábado, 16 de julho de 2011

Michele Bachmann e o Tea Party querem expulsar Obama da Casa Branca


Conservadora até ao tutano, está decidida a ocupar a Sala Oval. Pode até gerar controvérsia, mas a sua popularidade só tem crescido

Michele Bachmann pode até ser uma figura controversa da política americana, mas isso não diminui as suas possibilidades de vir a enfrentar Barack Obama nas presidenciais do próximo ano. Pelo contrário. A par com Mitt Romney, a congressista do Minesota é a candidata republicana com mais hipóteses de vencer as primárias do partido, que serão lançadas, em Janeiro, nos estados de Iowa e New Hampshire.

Apoiada pelo Tea Party, movimento da direita mais conservadora, Bachmann, que chegou à Câmara dos Representantes em 2006, é uma cristã evangélica fervorosa e já afirmou em várias ocasiões que a sua entrada na política lhe foi ordenada por Deus. Nos anos 90, fundou uma escola que proibia a projecção do filme da Disney Aladino, por este "envolver magia e incitar ao paganismo", revelou há cinco anos o jornal do Minesota City Pages.

Das polémicas em que se tem visto envolvida, a mais recente diz respeito à notícia de que o marido, Marcus Bachmann, doutorado em Psicologia, faz "tratamentos de reversão da homossexualidade" na sua clínica cristã de aconselhamento. A história foi divulgada pelo jornal The Nation há duas semanas, e, há poucos dias, a ABC transmitiu a gravação do testemunho de um dos "pacientes", que diz ter sido aconselhado a ler a Bíblia para "ficar livre dos seus instintos homossexuais".

A revelação está a fazer chover críticas não só da esquerda como de grupos de defesa de direitos humanos. Entretanto, enquanto o marido da candidata negava esta semana a veracidade da notícia, Michele, que se escusou a comentar, assinava o controverso documento "Wedding Vow" (voto de casamento), elaborado pelo grupo conservador The Family Leader. O texto, que condena o casamento entre pessoas do mesmo sexo, refere que "não existem provas científicas de que a homossexualidade seja irresistível". O documento apela à rejeição da lei islâmica, condena o aborto e a pornografia e diz que as pessoas casadas "têm mais saúde, melhor sexo e vivem mais tempo". Romney, principal rival de Bachmann, recusou- -se a assinar o texto.

Casada há 33 anos, a ex-senadora conheceu o marido quando ainda estava a estudar. Licenciada em Direito, especializou-se em direito fiscal em 1988. Foi nessa altura que começou a trabalhar como advogada num departamento de finanças na cidade de Saint Paul, onde ficaria por cinco anos. Em 1992, quando ficou grávida do quarto filho, decidiu dedicar-se exclusivamente à família.

In DN

Boa leitura


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Paris sera toujours Paris

A crise do endividamento nos USA

Vê-se pouco, na TV, em Washington, onde me encontro.
Só por causa das oscilações da Bolsa, se alude ao ataque das "rating agencies" a Italia. Tirando o escândalo do império Murdoch no Reino Unido, nada mais europeu existe. Nem sequer a explosão devastadora em Chipre, de que recebo notícias por colega cipriota.

Em compensação, no Congresso, todos perguntam pela crise na Europa, todos falam da Grécia, todos temem o contágio, mesmo os menos informados Senadores e Representantes sabem que Portugal e Espanha estão no radar dos abutres, perguntam como é, como será, o que vai fazer a Europa.
Regulação, regulação, regulação - de ambos os lados se concorda que é indispensável e se admite que ainda não aconteceu.

O Dodd-Frank Act está a ser boicotado na aplicação, reconhecem. "Too much money, too much lobbying" dos bancos, financeiros e cia.
O controlo dos " tax havens" / a "Delaware question", que persistentemente trago à colação, todos concorrem ser indispensável, mas poucos tentam sequer explicar porque nada acontece.

O que está a dominar o discurso político e mediático é a disputa entre Administração e Congresso sobre o pedido aumento do tecto de endividamento, para que o Estado não incorra em "default" no inicio de Agosto. Tudo se comporá entretanto, todos asseveram, dando força à tese de que os Republicanos, reféns dos populistas e extremistas eleitos pelo "Tea Party", estão já a ensaiar em tom "nasty" a medição de forças para ver se no próximo ano inviabilizam a re-eleição de Obama, cada mais indigerivel para eles ( e uns Democratas a ajudar à missa, receosos de não serem re-eleitos para o ano...).

De forma incoerente, o líder da minoria Republicana no Senado, Mitch Mcconnell, sugeria hoje que o Presidente assumisse sozinho a decisão de elevar o endividamento, marimbando-se para a House - a mesma que há semanas o censurou por avançar com meios militares na Líbia, sem antes a ouvir...

Obama pede pela primeira vez para aumentar o limite do endividamento. Bush filho pediu sete e conseguiu sempre. Já aconteceu mais de 50 vezes desde os anos 60.

No fundo, nos States, como na Europa a questão é quem vai pagar a crise: os mais ricos ou os pobres e a classe média, a sofrer mais cortes no financiamento da assistência médica, como quer a direita, apostada em não deixar cobrar mais impostos aos ricos.

Que o sistema é escandalosamente injusto, admite-o o multimilionario Warren Buffet, accionista principal da famigerada Moody's, ao apontar que a sua secretária paga mais do dobro do que ele em impostos: ela é taxada a 33% pelo salário, ele apenas 14% pelas mais-valias milionárias do capital que investe...

A MSNBC explica como a resistência da direita ao aumento de impostos, instilada por media como a FOX News, tem tudo a ver os interesses do império Murdoch, que arrecadou lucros fabulosos nas ultimas décadas, desde que Rupert Murdoch se naturalizou americano, beneficiando de todo o tipo de isenções.

Nos EUA, como em Portugal e na Europa, voltamos sempre à velha questão: vamos usar o Estado para forçar os ricos a partilhar com os pobres, ou pelo contrário, vamos tornar os ricos cada vez mais ricos, à custa dos pobres?

Ana Gomes (do Blog "Causa Nossa")

Publicidade eleitoral à americana

Crise nos EUA. Proposta republicana para salvar o tecto da dívida

Ben Bernanke alerta para uma "calamidade financeira" se o tecto da dívida norte-americana não subir

O líder dos republicanos no Senado americano, Mitch Mc-Connell, ofereceu ontem a Barack Obama a "última opção" para acabar com o impasse nas negociações entre republicanos e democratas em relação à subida do tecto da dívida federal. Uma vez que é pouco provável um acordo sobre os cortes nas despesas até 2 de Agosto - data a partir da qual os EUA entram em incumprimento -, McConnell sugeriu que Obama passasse a ser autorizado a aumentar o limite dos empréstimos a que o governo federal pode recorrer sem aprovação prévia do Congresso.

A opção agradou à Casa Branca, já que os democratas acreditam que a medida permite evitar cortes orçamentais na segurança social, no Medicare e no Medicaid. A proposta. no entanto, não caiu bem entre muitos conservadores, que viam nos cortes um preço na negociação dos seus votos para aprovar o aumento do tecto da dívida.

A democrata Nanci Pelosi, líder da minoria na Câmara dos Representantes, defendeu a proposta e disse que "o que o líder McConnell pôs em cima da mesa reconhece que temos de subir o tecto da dívida". O líder da maioria na Câmara dos Representantes, Harry Reid, afirmou que ainda está a "estudar [a proposta] e a discutir com os senadores", mas que está agradado com o que lê, que considera uma proposta séria.

O senador republicano da Carolina do Sul Jim DeMint, numa entrevista dada ontem à CBS News, criticou o plano de contingência do líder conservador, por tornar mais fácil para o governo gastar ou pedir dinheiro emprestado. David Schweikert, congressista do Arizona, considera que, "se ambas as partes conseguirem aquilo que querem, é provavelmente uma má proposta". Mesmo alguns democratas estão cépticos em relação ao plano apresentado a Obama e criticam McConnell por ter atirado as responsabilidades para o presidente. Peter Welch, congressista democrata do Vermont, considera que "esta proposta não tem coluna vertebral".

Mas também há republicanos confiantes na proposta. Numa entrevista à Fox News, o republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes, afirma que "todos acreditam que há necessidade de um plano alternativo se não se conseguir chegar a um acordo", e acrescentou: "Sinceramente, acho que Mitch [McConnell] fez um bom trabalho ao sugerir esse plano". Boehner mostrou sinais da sua disposição de aceitar a proposta, até porque o líder republicano teme as repercussões no partido da falta de um acordo. Se não se aumentar o tecto da dívida e a administração americana entrar em incumprimento, os republicanos temem ser vistos como os maus da fita. As divisões entre os republicanos poderão, no entanto, complicar as negociações.

 O presidente da Reserva Federal norte- -americana, Ben Bernanke, alertou ontem, num discurso no Capitólio, para os riscos de não se autorizar o governo federal a recorrer a financiamento externo. "Se o tecto da dívida não for elevado, ocorrerá uma calamidade financeira" e uma deterioração da economia. É a primeira vez que Bernanke se pronuncia de forma tão forte sobre o tema, a pouco menos de três semanas do prazo final estabelecido pelo Departamento do Tesouro. O presidente do banco central norte-americano defende que os Estados Unidos deixarem de pagar os juros da dívida "pode ser o suficiente para criar uma queda no rating da dívida e juros mais altos para os EUA, o que seria contraproducente".

Bernanke mostrou-se contra os cortes prematuros no orçamento da administração e considera que o Congresso e a Casa Branca deviam optar por reduzir as despesas numa perspectiva a longo prazo sobre o défice. "É preciso evitar contracções acentuadas a curto prazo, porque isso iria enfraquecer a recuperação económica do país", disse o presidente da Reserva Federal.

A administração de Barack Obama tem noção dos perigos que corre a economia americana caso as negociações se mantenham num impasse. Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, declarou que não existe alternativa a aumentar o limite da dívida federal. Não se trata de "resolver o problema, mas sim de lidar com as consequências de uma decisão catastrófica", disse. Carney é peremptório: sem um acordo, o governo federal vai ter de fazer "escolhas terríveis" quanto àquilo que deve pagar primeiro. "Não há alternativa. Ou se cumprem as obrigações ou não, e, se não, terão de ser feitas escolhas quanto a dívidas a pagar", referiu o porta-voz da Casa Branca. 

Jornal I