Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 4 de novembro de 2012

Nota sobre a Guiné-Bissau


Aquilo que se está a passar na Guiné Bissau é completamente inadmissível, revela um estado de desorientação e loucura generalizada da parte de alguns elementos do exército, que se entretêm a despoletar vinganças sangrentas para colmatar ódios antigos, motivados por disputas tribais e étnicas, esquecendo os interesses verdadeiros da população, que cada vez mais se afu

nda na fome, na miséria, no analfabetismo e nas doenças endémicas. A cólera, a sida e o paludismo grassam na região, a esperança média de vida desce para os quarenta e poucos anos e o atraso torna-se cada vez mais acentuado. Entretanto, a classe política e militar mais não faz do que provocar mortes em série, assassínios bárbaros e inomináveis.

O auto intitulado ministro dos negócios estrangeiros do governo de transição da Guiné Bissau tem proferido acusações muito graves, de extrema contundência e cinismo, contra o governo português, particularmente contra a nossa diplomacia e contra os serviços de informação portugueses. Acusações sem provas factuais nem documentação sustentada, sem notas diplomáticas nem memorandos comprometedores, sem testemunhos ou correspondência entre os intervenientes nas ações, de onde se possa deduzir alguma coisa, mas apenas com base em suposições e desconfianças. Ou será que exigir que provem o que dizem, é pedir demais a quem ainda se move dentro das velhas botas do tempo da guerrilha, da luta armada? Este indivíduo, vindo não se sabe de onde, palavroso e atrevido q.b., desenterrado de alguma trincheira de Madina do Boé, aparece em conferência de imprensa culpando Portugal de estar por detrás dos diversos golpes sangrentos, desde a morte de Ansumane Mané até ao assassinato de Nino Vieira. Se não fosse saber que só iria provocar mais isolamento, com o seu séquito de mais fome e miséria, atrevia-me a sugerir que fossem pedidas mais sanções e mesmo uma investigação às contas bancárias de alguns destes militares e o respetivo congelamento desses mesmos ativos; porque Portugal, livre da ganga colonial e já longe dos ciclos do Império, não pode permitir este tipo de acusações sem uma resposta forte e cabal. Ou então deixá-los com os seus esqueletos, com as suas obsessões e complexos, perpetuando-se em lutas fratricidas e paranoicas.

Quem começou por acusar Angola de interferência na estrutura militar, investe agora contra o pacífico Cabo Verde e contra os países da CPLP, após mais uma intentona igual à anterior, e à outra antes dessa, de proveniências difusas e com fins obscuros, está como que encostado à parede, chefiando um governo que ninguém reconhece e que cada vez se sente mais encurralado.

Culpar a diplomacia portuguesa de ingerência, de incitamento aos golpes de estado e à violência, é completamente descabido e insensato, extravasa os limites da razoabilidade e constitui uma falta de respeito por um parceiro, hoje considerado entre os países da CPLP como um irmão e companheiro de caminhada. Ver este dossier sob a perspetiva da traição permanente, só cabe na cabeça de frustrados e despeitados e apenas os conduz a maior isolamento e à total falta de credibilidade internacional. Ou será que o interesse de tudo isto radica na vontade de escapar à monitorização do tráfico de substâncias ilícitas?
Envolver e embrulhar o fugitivo ou refugiado, suposto responsável pela última tentativa de golpe, na bandeira portuguesa, entre agressões e insultos, apenas porque permaneceu algum tempo em Portugal após a intentona e daqui partiu para outro lugar qualquer, foi um ato de mau gosto, insultuoso e ignominioso e só classifica quem o faz, abaixo da linha, da fronteira entre aqueles que merecem a nossa consideração e os outros. Devemos dizê-lo alto e bom som.

Paulo Portas é o que é, um político europeu do sec.XXI, demasiado focado num tipo de democracia moderna (diplomacia económica, como ele diz), e que não sabe que o diálogo em África se inicia junto às raízes do imbondeiro. Este será o seu único pecado, podemos à vontade atribuir-lhe esses créditos. Mas entre isto e responsabilizá-lo por aquilo que se tem vindo a passar na Guiné, vai a distância da Terra à Lua, temos que frisá-lo. E estou tranquilo, para dizer o que digo, pois também o critico quando tenho que criticar. Podemos também acusá-lo de algum histerismo ou de certa ingenuidade, ou mesmo excessivo voluntarismo ao tratar com os africanos, na sua ânsia de justiça, ou melhor, com esta espécie de africanos. Porque não basta ter pele negra e nascer em África para nos auto rotularmos de mensageiros da negritude.

Somos africanos quando defendemos os valores da Liberdade e do Desenvolvimento, da sã convivência entre todos, dentro de África e dentro das fronteiras de cada país. O que eu queria mesmo, era ver estes senhores com bons projetos para o seu país, impondo-se pelo esforço e dedicação à causa do progresso e crescimento, e pela luta impiedosa contra o torniquete do subdesenvolvimento. Apenas isso e nada mais do que isso. Mas não é isto que hoje se passa na Guiné Bissau, sejamos muito claros. Na verdade, é fácil classificar o governo de Portugal de possuir atitudes colonialistas, quando o problema verdadeiro, hoje, na Guiné e noutros países de África, como a Nigéria (com recursos de petróleo que nunca mais acabam, e sobre a qual vimos há poucos dias um filme acerca da exploração desse ouro negro, à mão, pelos populares, que nem temos estômago para ver até ao fim), reside principalmente na vaidade e nos egos demasiado inchados, na falta de honestidade e de vergonha, e também na falta de capacidade para despir as vestes de colonizado; saber o que é colaboração e troca vantajosa de meios e "know-how"; exploração dos recursos do país para benefício dos cidadãos, humildade para analisar e copiar experiências com outros continentes mais avançados. Parece-me que esta é a incapacidade destes cavalheiros, militares e não só.

J.L.F.

Sem comentários:

Enviar um comentário