Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


quinta-feira, 31 de março de 2011

"O Diabo Atrás da Porta" (excertos)

"O Diabo atrás da Porta" é uma experiência de novela que venho escrevendo há algum tempo. Pode ser que trazendo-a cá para fora encontre a inspiração para terminar. Entretenham-se.

 Exactamente às 13.15 horas Suzete chegava ao aeroporto de Heathrow e como só levava uma mala pequena, não se dirigiu ao check-in. Pouco sabia de aeroportos e também não sabia que não podia levar líquidos para a cabina do avião. Ao chegar à zona de inspecção das máquinas de Raios X, teve que entregar a garrafa de yougourt de quase um litro e ao abrir a mala onde estava o recipiente de plástico mostrou também o envelope e a pasta com os maços de libras e euros. Ninguém lhe perguntou nada e Suzete arrumou outra vez tudo dentro de uma bolsa de pele de crocodilo e seguiu satisfeita rumo à sala de espera para o embarque.

Paul Mills era agente da Scotland Yard há quase trinta anos, pertencia à secção de imigração, conhecia todos os aeroportos de Inglaterra e estava há cinco destacado para o aeroporto de Heathrow. O seu trabalho era passear pela zona de embarque, “undercover”, para detectar suspeitos, mas normalmente mantinha-se junto às filas de gente que passavam pelas máquinas de Raios x. Estava em contacto permanente através de auricular com o agente especial Martin Thompson do MI6, que assegurava os contactos com a Interpol, nos assuntos relacionados com o crime internacional, lavagem de dinheiro e contrabando de estupefacientes.

Houve qualquer coisa nos movimentos de Suzete que fez com que o agente Paul Mills da Scotland Yard, , mandasse um sinal em código, às 13.45, para o agente especial Martin Thompson do MI6, Special Branch, fazendo referência à pequena mulher de origem africana que se dirigia para a zona de embarque do aeroporto de Heathrow em Londres. O agente Martin Thompson era um bom fotógrafo e conseguiu, mesmo com aquela fraca iluminação tirar quatro fotografias à pequena Suzete, que comprava uma revista de moda  feita para a comunidade negra dos Estados Unidos. Depois foi sentar-se e apreciar um chocolate de leite, avelãs e amendoins num dos sofás confortáveis do aeroporto. Ninguém ouviu os quatro clicks da Cannon digital do agente Thompson, ou se ouviram julgaram que se tratasse de mais um turista excêntrico com a mania da fotografia.

Trajava uma velha gabardina cinzenta, por cima de um blazer de bombazina e umas calças também de bombazina. Trazia um cachecol ao pescoço que tapava uma gravata às riscas e tinha enterrado na cabeça um chapéu cinzento mole, meio de chuva meio de caçador, de aba larga, o que lhe dava um ar bastante descontraído, ridículo e informal. Calçava sapatos de camurça confortáveis e era homem a rondar os cinquenta anos de idade. Dois ou três minutos depois os ficheiros de imagem (dois close-up feitos com o zoom e dois planos normais da senhora sentada) captados pela Cannon digital do agente Martin Thompson estavam a ser enviados para a policia do aeroporto de Fiumiccino, em Roma e para a Interpol, em e-mail confidencial com o seguinte texto: “Para futura investigação, possível contrabando de capitais ou lavagem de dinheiro”. Ass. Martin Thompson,MI6, U.K.

A ordem que receberam dos oficiais da Interpol, do MI6 e da Scotland Yard foi para que não a detivessem, não havia provas de nada, o melhor seria deixarem-na seguir e tentarem penetrar na rede que porventura ela integrava e descobrir todas as ramificações se houvesse. Estava a ser-lhe dada rédea solta, poderia ser que cometesse algum erro, mas por enquanto era apenas um ponto de interrogação, uma pequenina pedra na enorme montanha de suspeitos da Interpol. No entanto começou a ser feita, dentro dos arquivos da Interpol, uma pequena ficha provisória de Susete, apenas para referência caso fosse necessário.

José Luis Ferreira

"O Diabo Atrás da Porta" (excertos)


Londres, a cidade tentacular, abria os seus braços. O gigantesco dédalo de ruas, cruzamentos, pontes, travessas, underground, esquadras, prédios, restaurantes, pubs, comboios, autocarros, serenara, recolhera-se e repousava para no dia seguinte se oferecer novamente. Eis a cidade das mil faces, de um milhão de rostos. Cidade aberta para o mundo, receptiva. Londres era o planeta. Englobava o mundo, todas as etnias, raças, religiões. Mas nesta avançada hora era apenas a parceira dos algozes. Na penumbra dos candeeiros alguém conspirava para lançar um golpe sobre a tranquilidade da grande urbe.

 Eram exactamente 3.45 h. Chegaram a um beco sujo e Mick disse a Suzete que pusesse o gorro e as luvas.                                                                                                                                                                             
 –Vens atrás de mim, o teu trabalho é só teres estes sacos abertos e estares bem atenta. Vão ser dois sacos destes grandes, não sei se vai haver mais um, depende ok? Beatiful!                                                        

Mick falava entre dentes, estava com a boca e os lábios cerrados. Edward ficava no carro com o motor ao ralenti. Estava tudo pronto para que se accionasse a mola, estava aberto o fosso que separava uma vida, esta que a Suzete vivia, de fome, alcoolismo, doença, amargura e pobreza,  dessa outra de fortuna e prazer, dos passeios que ela sempre quis, das praias, da vida nesses carros e apartamentos de luxo, do outro lado do fosso. Iam saltar para o desconhecido, apostavam muito alto, tudo era um risco, Suzete ia atravessar essa linha. Arrancaram a baixa velocidade, com cautela, olhando para todos os lados, não andava ninguém na rua. Estava deserta.

José Luids Ferreira

"O Diabo Atrás da Porta" (excertos)


"O Diabo Atrás da Porta"
Usava também, quando saía à rua, uma espécie de bata, aberta à frente, até dois palmos acima dos joelhos, com botões grandes como olhos curiosos e com casas largas, onde o suão de Londres penetrava livremente, abanava as abas do vestido e passeava como em túneis abertos ao mundo; com ramagens castanhas e verdes, a imitar o tamarindo, com serpentes estampadas, de olhar simpático e olhos vorazes, com a língua espetada para quem se aproximasse demais. Esta era a bata para todo o serviço, para fora e dentro de casa, quando houvesse amigos, um poucochinho mais discreta, mas que também atraía o olhar da miudagem do bairro, numa rua marcada pela ignominia, debochada e viciosa, verdadeiro poço de pecados, de maledicência, numa cidade perdida tal qual a Gomorra da Bíblia. A sensualidade felina de Cátia, como também gostava que lhe chamassem, e a sua feminilidade eram puro deleite e tentação para os olhares concupiscentes da vizinhançamasculina.                                                                                                                                         
 Londres não prestava, para Cátia. Parecia uma coisa, mas era outra. O demónio era quem mandava em Londres. Do céu, parecia fantástica. A enorme extensão plana onde não se via o fim, os prédios não muito altos, parecia-lhe a princípio, que até o entardecer de Londres era mais acolhedor, cálido, de uma temperatura amena, simpática, enfim. Mas pouco tempo depois apercebera-se afinal da realidade. As ruas eram sujas, a política era suja. Tony Blair era um cabrão. A virtude e a boa educação estavam há muito ausentes de Londres. Era só má-língua, gajas a darem o corpo, em cada esquina encontravam-se pares a beijarem-se, elas andavam quase nuas, eram elas que chamavam os homens, havia muitos paneleiros, os gays estavam na moda, em cada loja que Cátia entrava só se via mau ambiente, traições, inveja, elas eram as piores, tudo transmitia sexo, cheirava a podridão, a devassidão, promiscuidade, esta cidade estava uma lástima. Qualquer dia está-se mesmo a ver que ia acontecer uma desgraça. Nova York também era assim antes do 11 de Setembro, aquilo que lá aconteceu foi um aviso de Deus pelo caminho em que as coisas levavam.                                                                                                                                        
Mas Cátia mudava de opinião como o lagarto muda a cor da pele conforme a folhagem. A sua capacidade financeira do momento era a lente através da qual ela observava o mundo, o factor principal de análise instantânea e superficial, o barómetro que tudo media e auscultava a tensão e a pulsação da cidade.
José Luis Ferreira

quarta-feira, 30 de março de 2011

O Culto da Carga

( O Post é tão bom que decidi usurpá-lo)

Chama-se "culto da carga" à tentativa de sociedades tecnologicamente atrasadas adoptarem, de forma ritualista, os sinais exteriores de progresso das mais desenvolvidas. Ainda que não consigam discernir de forma correcta a relação de causalidade, esperam com isso obter as mesmas comodidades das últimas.

O exemplo clássico ocorreu nas ilhas do Pacífico praticamente isoladas de contactos exteriores até à chegada de americanos e japoneses durante a II Guerra Mundial. Após a partida das forças ocupantes, os ilhéus tentaram garantir a continuação do maná que literalmente lhes caía do céu, trazido pelos aviões de abastecimento, construindo réplicas exactas dos aeródromos. Mas há outros. No livro "Mao's Great Famine", de Frank Dikötter (aqui recordado por Bryan Caplan) explica-se o comunismo como um "culto da carga" massificado em que as consequências foram amplificadas pela planificação central. No Grande Salto em Frente Mao Zedong pretendeu transformar a China num dos maiores produtores de aço a nível mundial. Afinal, todos os países desenvolvidos o eram também. O resultado deste maciço desvio de recursos foi a fome generalizada e toneladas de aço de fraca qualidade e sem utilidade para a economia chinesa.

No plano nacional penso que o "culto da carga" é a forma correcta de entender as "paixões", "apostas" e "prioridades" dos governos socialistas que prometiam tornar-nos numa referência de desenvolvimento a nível mundial. O maciço desperdício de recursos em que toda a despesa era por artes mágicas transformada em "investimento" levou-nos à ruína. As supostas "tecnologias do futuro" só se tornaram rentáveis graças a generosos subsídios estatais. O sobre-investimento em infraesturas revelou-se incomportável para a economia nacional.

Os nossos sumo-sacerdotes garantiam um futuro radioso se lhes obedecêssemos cegamente. Dir-se-ia que, em vez disso, despertam a fúria dos deuses.

Miguel Noronha, no Blog: "Delito de Opinião"

Benjamin Wiker: "Dez Livros que Estragaram o Mundo"


«O desejo de que determinada coisa seja verdadeira - que não deve ser confundido com o desejo da própria verdade - pode bem ser a raiz de todos os males. É indubitavelmente a raiz de todas as ideologias, e as ideologias foram uma fonte de grandes males no século que passou.»

Benjamin Wiker, Dez Livros que Estragaram o Mundo

Pequenas Irritações


Azul-bébé, rosa choque ou amarelo garrido?
Venha o diabo e escolha.

A multiplicação de gravatinhas azul-bebé. Deixou de ser uma moda para se tornar uma praga.

Pedro Correia, no Blog: "Delito de Opinião"

Julian Barnes: "Inglaterra, Inglaterra"


Julian Barnes nasceu em Leicester, em 1946. Considerado como uma das maiores revelações da literatura britânica contemporânea, conta já com vários romances de grande sucesso; publicados pela ASA, nesta mesma colecção, estão os títulos Do Outro Lado do Canal e Inglaterra, Inglaterra (romance finalista do Booker Prize em 1998).

"Inglaterra, Inglaterra"

Sir Jack Pitman faz construir na ilha uma espécie de gigantesco parque de atracções que alberga tudo o que é realmente "inglês": do Palácio de Buckingham a Stonehenge, do Manchester United às falésias brancas de Dover, do mausoléu da princesa Diana ao teatro de Shakespeare.

O projecto, monstruoso e arriscado, acaba bem sucedido: a cópia começa a rivalizar com a verdadeira Inglaterra e ameaça mesmo ultrapassá-la...

Hilariante até mais não, cáustico como um ácido, este romance de Julian Barnes é uma divertidíssima sátira à realidade inglesa, um retrato (feroz) de Inglaterra que só um grande escritor poderia fazer.

Bibliografia ASA

Amor & Etc
Arthur & George
Do Outro Lado do Canal
Inglaterra, Inglaterra
A Mesa Limão

Howard Jacobson: "The Finkler Question"





Howard Jacobson escreveu "The Finkler Question" e foi o vencedor do Man Booker Prize for Fiction 2010

A Crise portuguesa e a politica de Austeridade

por Paul Krugman:

Cortar no défice com desemprego alto é um erro. Mas se os investidores desconfiam que estão perante uma república das bananas em que os políticos não enfrentam os problemas estruturais, deixam de comprar dívida e o défice dispara com os juros

O governo de Portugal caiu a pretexto de uma disputa relacionada com o programa de austeridade. Os juros da dívida pública irlandesa acabam de ultrapassar os 10% pela primeira vez. Já o governo do Reino Unido reviu em baixa as perspectivas económicas e em alta as previsões do défice.

Que têm em comum todos estes acontecimentos? Todos são provas de que a redução da despesa em períodos de desemprego elevado é um erro. Os defensores da austeridade prevêem que esta produza dividendos rápidos sob a forma de aumento da confiança económica, com poucos ou nenhuns efeitos negativos sobre o crescimento e o emprego; o problema é que não têm razão.

Em Washington um político que queira ser levado a sério tem de jurar lealdade a esta doutrina que está a falhar com consequências sinistras na Europa.

As coisas nem sempre foram assim. Há dois anos, perante graves problemas orçamentais e elevadas taxas de desemprego - consequência da grave crise financeira -, a maior parte dos líderes dos países desenvolvidos parecia perceber que os problemas teriam de ser enfrentados sequencialmente, primeiro com um esforço de criação de emprego e depois com uma estratégia a longo prazo de redução do défice.

E porque não começar pela redução do défice? Porque os aumentos de impostos e os cortes da despesa contribuiriam para desacelerar ainda mais a economia, agravando o desemprego. Além disso, cortar na despesa numa economia em recessão acaba por ser contraproducente nem que seja em termos fiscais: quaisquer poupanças na frente da despesa são anuladas pela redução da receita fiscal resultante da contracção da economia.

É por isso que a estratégia correcta é emprego primeiro défice depois. Infelizmente, foi abandonada em resultado de ameaças imaginárias e esperanças ilusórias. Por um lado, dizem-nos que se não reduzirmos já os gastos acabamos como a Grécia, que só consegue financiar-se a custos exorbitantes. Por outro, explicam-nos que não vale a pena preocuparmo-nos com o impacto da redução da despesa sobre o emprego porque a austeridade fiscal vai estimular a confiança, o que vai criar emprego.

Até agora, como é que isto tem funcionado? Os que se apresentam como falcões do défice, desde que a crise financeira começou a abrandar que andam a gritar que as taxas de juros não tardarão a subir e tomam cada estremecimento em sentido ascendente como um sinal de que os mercados estão a atacar a América. Só que na verdade o que fez flutuar as taxas de juro não foram os receios quanto ao défice, mas as oscilações da confiança na retoma. Com o fim da recessão ainda muito longe, as taxas de juros estão actualmente mais baixas que há dois anos. Mesmo assim, podemos estar seguros que os EUA não vão acabar como a Grécia? Claro que não. Se os investidores acharem que somos uma república das bananas em que os políticos não conseguem ou não estão para enfrentar os problemas estruturais do país, vão deixar de comprar a nossa dívida. Só que essa possibilidade não tem nada a ver com a maneira como punimos a nossa economia com cortes de curto prazo da despesa.

De resto, pergunte-se aos irlandeses. O governo - depois de ter assumido um fardo insustentável para salvar bancos falidos - tentou acalmar os mercados impondo medidas de austeridade ferozes aos cidadãos comuns. Aqueles que nos EUA defendem a redução da despesa aplaudiram. "A Irlanda dá-nos uma lição admirável de responsabilidade fiscal", declarou Alan Reynolds, do Cato Institute, que assegurou que as medidas diluíam os receios relativos à solvência do país e faziam prever uma recuperação económica rápida.

Isto foi em Junho de 2009. Desde então as taxas de juros sobre a dívida irlandesa duplicaram e o desemprego no país saltou para 13,5%.

Depois ainda há a experiência britânica. Tal como os Estados Unidos, os mercados financeiros continuam a ter a percepção de que o Reino Unido é um país solvente, dando-lhe margem para uma política que comece por enfrentar o desemprego antes de se preocupar com o défice. Só que o governo do primeiro-ministro David Cameron, em vez disso, achou melhor impor uma austeridade imediata, a que não era obrigado, na convicção de que o consumo privado compensaria largamente o recuo nos gastos governamentais. A ideia de Cameron era que a fada da confiança ia resolver tudo.

Não resolveu. A economia do país estagnou, e o resultado disso até agora já foi a revisão em alta das projecções para o défice.

Isto recorda-me aquilo que ultimamente em Washington passa por discussão orçamental.

Um programa fiscal sério para os Estados Unidos teria de prever acima de tudo as despesas com tendência para aumentar de forma constante, acima de tudo os custos com a saúde, e não poderia deixar de incluir um aumento fiscal de um ou outro tipo. Só que a discussão não tem sido séria. Cada vez que se fala de usar com eficácia os fundos do Medicare os republicanos começam com a gritaria histérica - que os democratas quase não põem em causa - de que ninguém devia ter de pagar taxas mais elevadas. Tudo o que os preocupa são os cortes de curto prazo.

Em resumo, o clima político nos Estados Unidos é favorável a punir os desempregados e ao mesmo tempo a evitar qualquer esforço de redução do défice a longo prazo. Acerca disto, a experiência da Europa diz que a fada da confiança não nos vai poupar às consequências da nossa estupidez.

por Paul Krugman, Publicado em 26 de Março de 2011 (jornal I)

terça-feira, 29 de março de 2011

A Woman Called Taylor












Não vos vou falar dos diamantes que Elisabeth Taylor coleccionava. Nem tão pouco dos seus sete ou oito casamentos. Nem sequer vos vou falar desse outro grande senhor do cinema, com quem ela se casou por duas vezes e que dava pelo nome de Richard Burton.

“Who’s Afraid of Virginia Wolf” foi para mim a verdadeira enciclopédia do cinema.
Dois casais reúnem-se para uma noite de copos. O ambiente é de outra dimensão. Fechado. Concentraccionário. Adulto. Elisabeth Taylor supera tudo. De copo na mão explode todo o seu talento. Valeu-lhe o segundo Óscar da Academia das Artes de Hollywood. Depois vi “X,Y and Zee” com Michael Caine. Outra vez ela, abusando, superando tudo. Ou “Gata em Telhado de Zinco Quente” com Paul Newman.
A partir daqui soube realmente o que é arte dramática. Também desapareço um pouco com Elisabeth Taylor.

Cerram-se as cortinas. Apagam-se as luzes.
Good night Miss Taylor.

José Luis Ferreira

O Terceiro Ícone Caído do Sol ( Third Stone From the Sun)

Entre amigos, a conversa hoje, toca no mesmo ponto: Artur Agostinho.

O Grande Mestre, o Grande Educador, a Verdadeira Fonte desapareceu. Percorre agora outros caminhos, para lá da Via Láctea. Saíu num dia em que a Lua se mostrou diferente, nesse dia quis ser mais Lua, porque mais astro, quis marcar a data e mostrou-se de gala, toda ela cheia de filigrana.
Partiu para as nebulosas distantes, quem sabe para habitar outras mentes, a precisarem da sua sabedoria, dos seus ensinamentos.
Foi a segunda pedra caída do Sol.

Amália era o pilar fundamental, o primeiro grande ícone da cultura portuguesa dos últimos cem anos. A primeira pedra.

Artur Agostinho era o meteorito cujo rastro indelével todos seguíamos. Das profundezas e dos abismos mais íntimos da alma sentimos a profundidade e o vazio desse buraco negro.

Eusébio anda triste. O seu peito cerra-se de saudade, fecha-se contraído, tem segredos mil, sabe e como ícone não fala, porque as esfinges não falam, apenas dizem. Desfila memórias da juventude quando corria os estádios, e o país e o Benfica se ajoelhavam ao seu grande talento. A memória impõe-lhe imagens passadas do seu amigo e admirador Artur Agostinho quando de microfone na mão explodia de orgulho pela pátria grandiosa que tão raro diamante soube gerar.

Agora esses dois amigos partiram, resta ele…

A terceira pedra caída do sol.

José Luis Ferreira

Rádios Majestic

Não acredito, mas é verdade

Quando soube não acreditei. Era uma partida, ou um pesadelo. Só podia ser.
Mas a verdade confirmava-se. Os "Homens da Luta" vão representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção. Onde vão estar paises como a Inglaterra, a França, a Itália, a Suécia (que gerou os Abba), a Dinamarca, Israel, and so on. A canção escolhida não podia ser pior. Indigência pura. Esterilidade absoluta.

Não gosto de ver Portugal cair no ridiculo frente a estes tipos da Europa.
O "estado da arte" em que se encontra o "status quo" criativo em Portugal, é pior do que o que se pensa. É um estado atroz. Gangrena.

Estamos doentes. A falta de inspiração é gigantesca. O mau gosto, a falta de exigência, o apadrinhamento, a fraca competividade tomaram conta do país.
Basta ouvir os primeiros compassos de qualquer musica e desligo. Não há estômago.Não surge ninguém com qualidade verdadeira a nivel internacional.
Os júris são fracos. Basta andar seis meses a martelar os palcos e pode-se dar ares professorais de especialistas avaliadores. Tem que se dizer bem. Criticar é cortar pela raíz. Puro engano.

Regredimos trinta anos. Entramos na cápsula do tempo e voltamos aos slogans revolucionários do 25 de Abril. Voltamos á canção de protesto, com todo o respeito por ela, mas que já teve a sua época e cumpriu (bem) e com toda a dignidade o seu papel. Mas agora pedia-se mais.
Alastra o facilitismo no mundo da arte da musica. Não sai nada de bom. A Portugal pedia-se e exigia-se mais. Muito mais. Pelo menos para nos representar lá fora.

Estou ainda que não aguento. Não acredito. É mau demais para ser verdade.

José Luis Ferreira

Vender a Alma ao Diabo

Existem três tipos de verdades insofismáveis que a vida nos impõe de uma forma inexorável. As que nunca poderemos ultrapassar: muito novos, aprendemos de uma forma ampla, geral, quais as grandes barreiras que nunca nos será permitido contornar. Sabemos por exemplo que a morte chegará implacavelmente, um dia. O crente morrerá de espanto se duvidarmos da existência de Deus e matar será a última dessas fronteiras.

Temos também aquelas verdades que vamos aprendendo ao longo da nossa experiência de vida, de que vamos tacteando, errando e melhorando, ou talvez não.

E temos o terceiro grupo daquelas que nunca aprendemos e pagamos caro os erros que se cometem ora por rebeldia ou por pura incapacidade e afastamento da “norma” dentro do tecido social.

Sei, por exemplo, dentro do primeiro grupo, que nunca vou ser a Naomi Campbel, desfilando pelas passereles naquele seu maravilhoso trote sincopado. Nem serei um índio Sioux, correndo pelas pradarias americanas, a cavalo ou a pé, de crinas ao vento, aspirando os ares retemperadores da liberdade. Nunca serei agente da CIA, nem nunca pertencerei à Al Qaeda. Sei que nunca serei o Marlon Brando engordando até perto dos duzentos quilos e também sei que nunca serei Martin Luther King, Al Capone, ou a Lady Gaga.

Mas sei disso instintivamente, por exclusão de partes, porque sei que gosto do Eusébio e do Benfica, da Catarina Furtado e não gosto de filmes gay, sou avesso a contactos íntimos com homens, repugna-me a sodomia e o masoquismo. Compreendo, entendo e apoio incondicionalmente todos os movimentos libertários, sou a favor do casamento gay e percebo aqueles que vêm o relacionamento homossexual não apenas como uma pulsão interior - algo que reside tão legitimamente como outro instinto qualquer no nosso código genético, nos nossos cromossomas, no nosso ADN - mas também como variante do comportamento sexual, no quadro do prazer, do ser humano. Tudo bem, ok, força, quem gosta, gosta, nada a dizer.

Isto a propósito do que vai por aí, por este Portugal saloio, de manifestações de dó, pena e lamúria pacóvia, acerca do assassinato de Carlos Castro. O povo convoca vigílias e monta cordões de solidariedade pelo assassino.

Carlos Castro era um homossexual confesso, assumido, conhecido e reconhecido internacionalmente. Frequentava o jet set nacional e as algumas franjas terciárias do burlesco da Broadway novaiorquina. Era convidado em tudo quanto era “talk show” e promovia espectáculos travestis, cá na terra. No passado viveu paredes meias com um travesti e recuperou-o de uma tentativa de suicídio. Profissional da sedução sobre jovens candidatos a top-models, aliciava-os com promessas de carreiras brilhantes no “millieu” da moda internacional.

Renato Seabra era um rapaz culto, universitário, esperto e conversador, com certeza, dentro dos seus promissores vinte e um anos. Deixou-se seduzir por Carlos Castro, com ele passeou pelas praias portuguesas e cirandou pelos hotéis luxuosos da estranja. Partilharam o mesmo quarto e a mesma cama, sabe-se, durante largos meses. Deixou-se acariciar, abraçaram-se, beijaram-se com toda a certeza. Carlos Castro era terrivelmente ciumento, dramaticamente possessivo e Renato Seabra era ambicioso. Vendeu a sua alma ao Diabo por meia dúzia de dinheiros, pela tal promessa de um futuro radioso. Toda a família sabia do relacionamento entre os dois. Alguns incentivaram-nos, outros avisaram-no, estou certo.

Num acesso de fúria e raiva, despeito e desilusão pelo fracasso da tal carreira, Renato mata Carlos Castro num hotel em NYC e tortura-o, a ponto de lhe furar os olhos e decepar-lhe os órgãos genitais.

Renato Seabra está preso em NYC, aguarda o veredicto do júri num tribunal americano.

De muito novos aprendemos, nós rapazes heterossexuais em conversas com os rapazinhos da nossa idade, que não se vende a alma ao Diabo.

José Luís Ferreira

O Caso do menino Rui Pedro

Bem sei que na América, também há erros clamorosos da Justiça. Por vezes são libertadas pessoas que depois de passarem 20 anos presos se descobre que afinal estavam tão inocentes como um bebé de fraldas. Através dos testes de ADN que não havia na altura. Ou pura e simplesmente por injustiça cruel. Ou então por aplicação de uma Justiça que não representava o mosaico racial do país. Na América é assim. Se se julga um americano negro, o júri deve ser composto por cidadãos negros, em parte ou na sua maioria. Compreende-se. Para salvaguardar a pureza dos veredictos. Mas bastaram seis meses para julgar Bernie Madoff.

O menino Rui Pedro desapareceu há 13 anos. Só esta semana o Ministério Público deduziu a acusação contra o alegado raptor. Que esteve entre nós este tempo todo. Comeu, quase, à nossa mesa. Treze anos. Havia pistas evidentes. Nada se fez. A Polícia enredou-se na sua própria teia de incompetências. Sei lá o que se passou nos corredores da investigação. Nem quero saber. Não quero saber de pormenores escabrosos no âmbito da investigação. De porcaria está o mundo cheio. Nem tão pouco de histórias picantes da procuradora Cãndida Almeida.

Marcelo R. de Sousa vai buscar o argumento da falta de colaboração entre a Interpol e as polícias regionais. Patati, patatá. Blá, blá,blá… Toda a gente sabe do enorme buraco a céu aberto que é a Justiça portuguesa. Os processos arrastam-se nos tribunais. É uma justiça kafkiana. De comendas e louvaminhas. Palmadinhas nas costas. De magistrados jubilados e orações de sapiência. De beca, rabeca, réplica, tréplica e outras flores de retórica. Perpétuos canudos. Saudades coimbrãs. Cheios de sabedoria e técnica aprimorada, do melhor que existe a nível mundial. Temos notícia dessa excelência. Mas não me digam é que há treze anos, não se valorizava como agora a pedofilia. Nem se atribuía tanta importância ao desaparecimento de crianças como agora, depois do caso Maddie. Não me digam, que me põem tenso. A mãe do Rui Pedro há treze anos que bate a todas as portas. Há treze anos que todos os dias a mãe de Rui Pedro chora lágrimas de sangue com saudades daqueles olhinhos ternurentos.

José Luis Ferreira

Magnum Photos

Pistolas Taser

O preso está deitado. À sua volta a imundície é extrema. Há semanas não limpa a cela. É um esquisofrenico em altíssimo grau. Mas está calmo. Obediente. Ouvem-se vozes de comando, altíssimas, fortes. Cinco soldados/gladiadores, protegidos por escudos plexiglás, armados com cassetetes, capacetes, viseiras de protecção, luvas até aos cotovelos vão avançando aos poucos, em bloco, cautelosos.

-Levante-se! O sr. não quer limpar a cela? O sr. vai limpar a cela, ou não? Levante-se e vire-se de costas! Olhe para a janela e não vire a cara!(O senhor para aqui, o senhor para ali...).
O homem põe-se de pé, é um gigante de 120 kls, está nu, os pés na laje fria, talvez húmida. Obedece cabisbaixo. As suas amplas costas disponibilizam-se dóceis.

-Não se mexa, não olhe para trás!
Na grade costal, no mapa esbranquiçado da pele, o alvo é-lhes oferecido, não há que errar. Têm todo o tempo do mundo. Preparam bem o alvo. Ouve-se uma descarga eléctrica de uma pistola Taser. Mil walts percorrem-lhe o corpo. O gigante cai aos estremeções. O homem da voz de comando salta-lhe para cima, pisa com a bota a cintura do "Animal" e continua a vociferar:

-O sr. vai limpar a cela, ou não? Aviso-o que se continuar com este comportamento, o sr. vai ser altamente violentado!
( O patético e ridículo tratamento por senhor apenas complementa a farsa do respeito pelos direitos)
É-lhe retirado das costas o anzol electrificado, por alguém de bata branca e luvas. O gigante é algemado e arrastado pelo chão, sobre os seus próprios dejectos, desfalecido, para uma outra cela.

Eu pergunto:
-É o corpo de intervenção das cadeias que decide das punições a aplicar a um cidadão? Embora preso não perdeu os seus direitos de cidadania. Julguei que quem decide da culpa e do castigo é o tribunal na pessoa do Meritíssimo Juíz.
-As pistolas Taser não são apenas para usar para travar alguém em caso de comportamento ou reacção violenta?
-A Psiquitria já desistiu de tratar estes doentes do foro psiquiátrico? Já não há medicação compatível com este quadro clínico? O sr psiquiatra dos serviços prisionais desistiu de exercer a sua profissão?
-Existe um menú completo e um cardápio recheado de métodos inovadores para infligir punições. Posso sugerir o chicote dos afegãos, à maneira talibã. Ou enterrá-lo no pátio só com a cabeça de fora, no pino do verão, talvez na planície alentejana, como fazia a Pide no Tarrafal. Ou ainda atiçar-lhe os cães, à boa e velha maneira das prisões americanas no Iraque da era Bush/Rumsfeld.

José Luis Ferreira

O Efeito Dominó

Do Mediterrâneo africano, passando pelo Magrehb árabe, da Península Arábica ao Extremo Oriente (já houve manifestações na China e em Hong-Kong) uma tempestade varre os regimes caducos e autoritários, as ditaduras tradicionais desses países. Não importa se mais ou menos apoiados pelo Ocidente. Alguns políticos ocidentais usufruíram de benesses até. A ministra dos negócios estrangeiros francesa demitiu-se por ter beneficiado de viagens turísticas pagas por alguém muito próximo do presidente deposto da Tunísia. São formas de governo onde se misturam as autoridades religiosas (o Islão) com o poder secular. O governo egípcio até era dos mais tolerantes, nesse aspecto.

Um movimento político-cultural intenso, reivindicativo, põe tudo em pantanas. Esperemos que seja um novo Renascimento da cultura Árabe e Islâmica. Se assim não for também não vale a pena. Se só der para tirar um líder e lá pôr outro, também não vão muito longe.
Mas não se enganem. Não vamos transplantar para lá os valores Ocidentais. Não vamos injectar, à bruta, conceitos que para eles, são corpos estranhos. O islão não vai desaparecer. Não é isso que eles querem. Apenas estão fartos de viver como se estivessem ainda no séc. XV. Realmente querem arejar, querem formas de governo mais transparentes, inspirados nas democracias ocidentais. Mas engana-se quem pensa que vão acabar com as vestes tuaregues ou o véu islâmico.

José Luis Ferreira

Os Grandes Equivocos: Perda de Soberania

Investimentos árabes em Londres
"Sócrates é uma espécie de pop-star em permanente digressão. Agora voltou-se para as arábias, no caso vertente para o Qatar e os Emiratos Árabes Unidos.Amenizamos a colossal dívida, mas ficamos reféns de 3 ou 4 estados. Ninguém se indigna?"

Vejo este comentário num blogue da nossa praça.Sócrates não é um pop-star, apenas é um caixeiro viajante, a tentar minimizar perdas e danos do seu negócio de merceeiro que correu mal e foi idealizado pelo seu ministro das finanças, considerado o pior ministro das finanças da zona euro. Esta é a verdade. Para que se saiba.
Sinceramente, meus amigos, não há limites para a saloice, para o provincianismo, para a boçalidade em Portugal, travestida de intelectuias mais ou menos de esquerda ou direita.
Mas então os investimentos árabes, chineses, são uma forma de Portugal perder a independência ou a autonomia?
E a Inglaterra, onde não se dá um pontapé numa pedra que não se vejam investimentos árabes e indianos e paquistaneses.
Onde o estádio de futebol do Arsenal é dos Emiratos? E o clube Manchester United que pertence aos americanos? E o Liverpool que também pertence aos americanos? Não serão investimentos de vulto?
E a América que vai vivendo dos portentosos investimentos árabes e da compra de títulos de tesouro da parte dos chineses? Também terão a sua independência em risco? Mas então a participação de capitais estrangeiros nas empresas portuguesas, numa altura em que Portugal tem o garrote no pescoço, são agora indício de perda de soberania ? Só apetece chamar a este individuo estúpido de merda.
Realmente com esta mentalidade Portugal vai longe.

José Luis Ferreira

Estado Policial

Nas últimas semanas, vejo pela cidade, mais para a tardinha, algumas demonstrações de aparato policial. Fardas novas recentemente desembrulhadas, aos grupos de cinco, seis; shotguns,capacetes, escudos,cães, pistolas, gás pimenta.Será que estã à espera de motins generalizados da população? Já chegaram as levas de imigrantes vindos da Líbia?Ou do Egipto? Estão para proteger a Democracia, ou o governo pífio e falhado do engenheiro relativo, desligado da realidade, megalómano e candidato a pop star, do jet set nacional, o engenheiro Sócrates?

Não tenho prazer nenhum em viver num estado policial ou policiado.Não gosto de sentir a presença ostensiva da policia. Os sintomas são claros, explicitos.O cidadão não é educado para prescindir cada vez mais da polícia.Pelo contrário, quer ser vigiado, regulado.A tendência é haver um guarda costas para cada habitante.Como nos vamos afastando dos verdadeiros ideais de Liberdade.O Estado investe na força, não nos livros.Nem em Inglaterra, onde os níveis de alarme saltam do laranja para o vermelho,não vejo tanta demonstração de força.Nos países escandinavos, a policia é discreta, invisivel.Percorro os Países Baixos, vou até à Suécia, Dinamarca,não há uma operação stop, dizem-me que a policia fecha as esquadras á noite.Ninguém quer dar uma de União Soviética, nos velhos tempos da guerra fria dos desfiles armamentistas.Como ainda estamos longe do 1º Mundo. Começo a estar farto.

José Luis Ferreira

Saul Bellow





Mas quando alguém julgava que tinha seguido a pista de Einhorn através dos seus actos e feitos e estava prestes a capturá-lo, descobria que se encontrava não no centro de um labirinto mas no meio de um amplo boulevard; e lá vinha ele de uma nova direcção"... -Saul Bellow

Entrevista a Malcom Gladwell

http://aeiou.expresso.pt/entrevista-a-malcolm-gladwell=f634788

É mais conhecido como o autor dos livros The Tipping Point: How Little Things Can Make a Big Difference, Blink: The Power of Thinking Without Thinking, e Outliers: The Story of Success.
Malcolm Gladwell, jornalista da The New Yorker, esteve em Portugal no lançamento do Movimento Milénio. Veja a entrevista realizada por Ricardo Costa.




A TEORIA DA EVOLUÇÃO

http://luzeconsciencia-patricia.blogspot.com/2011/02/teoria-da-evolucao.html