Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


quinta-feira, 31 de março de 2011

"O Diabo Atrás da Porta" (excertos)

"O Diabo atrás da Porta" é uma experiência de novela que venho escrevendo há algum tempo. Pode ser que trazendo-a cá para fora encontre a inspiração para terminar. Entretenham-se.

 Exactamente às 13.15 horas Suzete chegava ao aeroporto de Heathrow e como só levava uma mala pequena, não se dirigiu ao check-in. Pouco sabia de aeroportos e também não sabia que não podia levar líquidos para a cabina do avião. Ao chegar à zona de inspecção das máquinas de Raios X, teve que entregar a garrafa de yougourt de quase um litro e ao abrir a mala onde estava o recipiente de plástico mostrou também o envelope e a pasta com os maços de libras e euros. Ninguém lhe perguntou nada e Suzete arrumou outra vez tudo dentro de uma bolsa de pele de crocodilo e seguiu satisfeita rumo à sala de espera para o embarque.

Paul Mills era agente da Scotland Yard há quase trinta anos, pertencia à secção de imigração, conhecia todos os aeroportos de Inglaterra e estava há cinco destacado para o aeroporto de Heathrow. O seu trabalho era passear pela zona de embarque, “undercover”, para detectar suspeitos, mas normalmente mantinha-se junto às filas de gente que passavam pelas máquinas de Raios x. Estava em contacto permanente através de auricular com o agente especial Martin Thompson do MI6, que assegurava os contactos com a Interpol, nos assuntos relacionados com o crime internacional, lavagem de dinheiro e contrabando de estupefacientes.

Houve qualquer coisa nos movimentos de Suzete que fez com que o agente Paul Mills da Scotland Yard, , mandasse um sinal em código, às 13.45, para o agente especial Martin Thompson do MI6, Special Branch, fazendo referência à pequena mulher de origem africana que se dirigia para a zona de embarque do aeroporto de Heathrow em Londres. O agente Martin Thompson era um bom fotógrafo e conseguiu, mesmo com aquela fraca iluminação tirar quatro fotografias à pequena Suzete, que comprava uma revista de moda  feita para a comunidade negra dos Estados Unidos. Depois foi sentar-se e apreciar um chocolate de leite, avelãs e amendoins num dos sofás confortáveis do aeroporto. Ninguém ouviu os quatro clicks da Cannon digital do agente Thompson, ou se ouviram julgaram que se tratasse de mais um turista excêntrico com a mania da fotografia.

Trajava uma velha gabardina cinzenta, por cima de um blazer de bombazina e umas calças também de bombazina. Trazia um cachecol ao pescoço que tapava uma gravata às riscas e tinha enterrado na cabeça um chapéu cinzento mole, meio de chuva meio de caçador, de aba larga, o que lhe dava um ar bastante descontraído, ridículo e informal. Calçava sapatos de camurça confortáveis e era homem a rondar os cinquenta anos de idade. Dois ou três minutos depois os ficheiros de imagem (dois close-up feitos com o zoom e dois planos normais da senhora sentada) captados pela Cannon digital do agente Martin Thompson estavam a ser enviados para a policia do aeroporto de Fiumiccino, em Roma e para a Interpol, em e-mail confidencial com o seguinte texto: “Para futura investigação, possível contrabando de capitais ou lavagem de dinheiro”. Ass. Martin Thompson,MI6, U.K.

A ordem que receberam dos oficiais da Interpol, do MI6 e da Scotland Yard foi para que não a detivessem, não havia provas de nada, o melhor seria deixarem-na seguir e tentarem penetrar na rede que porventura ela integrava e descobrir todas as ramificações se houvesse. Estava a ser-lhe dada rédea solta, poderia ser que cometesse algum erro, mas por enquanto era apenas um ponto de interrogação, uma pequenina pedra na enorme montanha de suspeitos da Interpol. No entanto começou a ser feita, dentro dos arquivos da Interpol, uma pequena ficha provisória de Susete, apenas para referência caso fosse necessário.

José Luis Ferreira

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