Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


terça-feira, 29 de março de 2011

Vender a Alma ao Diabo

Existem três tipos de verdades insofismáveis que a vida nos impõe de uma forma inexorável. As que nunca poderemos ultrapassar: muito novos, aprendemos de uma forma ampla, geral, quais as grandes barreiras que nunca nos será permitido contornar. Sabemos por exemplo que a morte chegará implacavelmente, um dia. O crente morrerá de espanto se duvidarmos da existência de Deus e matar será a última dessas fronteiras.

Temos também aquelas verdades que vamos aprendendo ao longo da nossa experiência de vida, de que vamos tacteando, errando e melhorando, ou talvez não.

E temos o terceiro grupo daquelas que nunca aprendemos e pagamos caro os erros que se cometem ora por rebeldia ou por pura incapacidade e afastamento da “norma” dentro do tecido social.

Sei, por exemplo, dentro do primeiro grupo, que nunca vou ser a Naomi Campbel, desfilando pelas passereles naquele seu maravilhoso trote sincopado. Nem serei um índio Sioux, correndo pelas pradarias americanas, a cavalo ou a pé, de crinas ao vento, aspirando os ares retemperadores da liberdade. Nunca serei agente da CIA, nem nunca pertencerei à Al Qaeda. Sei que nunca serei o Marlon Brando engordando até perto dos duzentos quilos e também sei que nunca serei Martin Luther King, Al Capone, ou a Lady Gaga.

Mas sei disso instintivamente, por exclusão de partes, porque sei que gosto do Eusébio e do Benfica, da Catarina Furtado e não gosto de filmes gay, sou avesso a contactos íntimos com homens, repugna-me a sodomia e o masoquismo. Compreendo, entendo e apoio incondicionalmente todos os movimentos libertários, sou a favor do casamento gay e percebo aqueles que vêm o relacionamento homossexual não apenas como uma pulsão interior - algo que reside tão legitimamente como outro instinto qualquer no nosso código genético, nos nossos cromossomas, no nosso ADN - mas também como variante do comportamento sexual, no quadro do prazer, do ser humano. Tudo bem, ok, força, quem gosta, gosta, nada a dizer.

Isto a propósito do que vai por aí, por este Portugal saloio, de manifestações de dó, pena e lamúria pacóvia, acerca do assassinato de Carlos Castro. O povo convoca vigílias e monta cordões de solidariedade pelo assassino.

Carlos Castro era um homossexual confesso, assumido, conhecido e reconhecido internacionalmente. Frequentava o jet set nacional e as algumas franjas terciárias do burlesco da Broadway novaiorquina. Era convidado em tudo quanto era “talk show” e promovia espectáculos travestis, cá na terra. No passado viveu paredes meias com um travesti e recuperou-o de uma tentativa de suicídio. Profissional da sedução sobre jovens candidatos a top-models, aliciava-os com promessas de carreiras brilhantes no “millieu” da moda internacional.

Renato Seabra era um rapaz culto, universitário, esperto e conversador, com certeza, dentro dos seus promissores vinte e um anos. Deixou-se seduzir por Carlos Castro, com ele passeou pelas praias portuguesas e cirandou pelos hotéis luxuosos da estranja. Partilharam o mesmo quarto e a mesma cama, sabe-se, durante largos meses. Deixou-se acariciar, abraçaram-se, beijaram-se com toda a certeza. Carlos Castro era terrivelmente ciumento, dramaticamente possessivo e Renato Seabra era ambicioso. Vendeu a sua alma ao Diabo por meia dúzia de dinheiros, pela tal promessa de um futuro radioso. Toda a família sabia do relacionamento entre os dois. Alguns incentivaram-nos, outros avisaram-no, estou certo.

Num acesso de fúria e raiva, despeito e desilusão pelo fracasso da tal carreira, Renato mata Carlos Castro num hotel em NYC e tortura-o, a ponto de lhe furar os olhos e decepar-lhe os órgãos genitais.

Renato Seabra está preso em NYC, aguarda o veredicto do júri num tribunal americano.

De muito novos aprendemos, nós rapazes heterossexuais em conversas com os rapazinhos da nossa idade, que não se vende a alma ao Diabo.

José Luís Ferreira

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