Londres, a cidade tentacular, abria os seus braços. O gigantesco dédalo de ruas, cruzamentos, pontes, travessas, underground, esquadras, prédios, restaurantes, pubs, comboios, autocarros, serenara, recolhera-se e repousava para no dia seguinte se oferecer novamente. Eis a cidade das mil faces, de um milhão de rostos. Cidade aberta para o mundo, receptiva. Londres era o planeta. Englobava o mundo, todas as etnias, raças, religiões. Mas nesta avançada hora era apenas a parceira dos algozes. Na penumbra dos candeeiros alguém conspirava para lançar um golpe sobre a tranquilidade da grande urbe.
Eram exactamente 3.45 h. Chegaram a um beco sujo e Mick disse a Suzete que pusesse o gorro e as luvas.
–Vens atrás de mim, o teu trabalho é só teres estes sacos abertos e estares bem atenta. Vão ser dois sacos destes grandes, não sei se vai haver mais um, depende ok? Beatiful!
Mick falava entre dentes, estava com a boca e os lábios cerrados. Edward ficava no carro com o motor ao ralenti. Estava tudo pronto para que se accionasse a mola, estava aberto o fosso que separava uma vida, esta que a Suzete vivia, de fome, alcoolismo, doença, amargura e pobreza, dessa outra de fortuna e prazer, dos passeios que ela sempre quis, das praias, da vida nesses carros e apartamentos de luxo, do outro lado do fosso. Iam saltar para o desconhecido, apostavam muito alto, tudo era um risco, Suzete ia atravessar essa linha. Arrancaram a baixa velocidade, com cautela, olhando para todos os lados, não andava ninguém na rua. Estava deserta.
José Luids Ferreira
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