Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


sábado, 28 de janeiro de 2012

Astrologia Criminal





Uma nota boba, mas que tem implicações interessantes. A polícia de Chatham-Kent, uma unidade administrativa em Ontario, Canadá, publicou os signos do zodíaco de todos aqueles presos no ano de 2011. E deu “vitória” ariana. Em último lugar deu sagitário, que ou seriam os mais pacíficos ou, na opinião de um astrólogo consultado pelo jornal, mais hábeis em escapar das forças de lei e ordem.

Bom, em primeiro lugar note-se que não houve nenhum esforço de calcular se a diferença entre os signos é significante (a amostra, afinal, não é das maiores: 1986 pessoas foram presas na região ao longo do ano). Independentemente disso, a ideia por trás da pesquisa é boa. Se os signos fazem diferença no caráter dos indivíduos, essas diferenças devem se traduzir em ações. Um signo, digamos, mais impetuoso, terá, em média, mais indivíduos que agem impetuosamente do que outro signo, digamos, mais meditativo.

Portanto, é possível testar empiricamente as afirmações da astrologia. Muitos astrólogos vêem com apreensão esses exercícios; o signo solar sozinho não diz muita coisa, diz um dos consultados pelo jornal. Mas por acaso dizem algo, por menor que seja? Se sim, então será possível medir seu efeito nos grandes números.

O grande problema da previsão astrológica acerca do indivíduo é que ela dá apenas tendências e estruturas básicas de comportamento, que podem inclusive ser contrabalanceadas por tendências contrárias ou pela decisão pontual do agente. É, portanto, impossível testá-la no caso particular, posto que as condições da vida humana não são as de um experimento controlado. Mas nas grandes populações as particularidades dos casos individuais se cancelam e prevalecem as tendências.

Dado que a astrologia tem se colocado como ciência, ou seja, não como um saber arcano e esotérico, os astrólogos deveriam ser os primeiros a querer testar suas previsões. As informações das quais ela tira conclusões são, ademais, perfeitamente observáveis e de fácil acesso (o mapa astral de cada um é função da data, hora e local de nascimento; todos eles presentes nos registros públicos de todo cidadão), não há nenhum empecilho a se realizar testes empíricos.

O bom de estudos estatísticos é que eles prescindem de explicar o porquê. Pode parecer uma deficiência, e é de fato quando queremos descobrir a causalidade que liga dois fenômenos correlacionados. Mas para estabelecer se existe correlação é um método muito apropriado. Seriam as características do signo explicadas pelo efeito gravitacional dos planetas e estrelas? Talvez por alguma outra energia natural não conhecida ou pouco estudada? Quem sabe se trata de algo verdadeiramente sobrenatural? Não importa. Para começar a especular sobre isso é preciso antes saber se existe de fato alguma relação observável entre a configuração celeste no momento do nascimento e o caráter do indivíduo que está nascendo. E isso a estatística nos permite avaliar plenamente.

Um estudo como esse da prisão canadense pode ser refinado: considerar apenas os criminosos violentos, por exemplo, e levar em conta não apenas o signo mas o signo junto do ascendente (ou quantas outras sutilezas astrológicas se quiser). É possível também testar as teses particulares que os astrólogos sustentam. Se Marte é um planeta que induz à violência, então é de se esperar que, tudo o mais constante, as pessoas que têm Marte como planeta relevante em seu mapa astral (confesso minha ignorância ao falar do tema) apresentem, em média, mais comportamentos violentos; algo facilmente testável. Testes semelhantes podem ser feitos para vários outros comportamentos e variáveis, como o desempenho profissional.

A grande questão, contudo, permanece: estarão os astrólogos dispostos a encarar os possíveis resultados negativos de estudos desse tipo? Ou reverterão a uma versão não-científica da astrologia, que depende de intuições e leituras pessoais do próprio astrólogo, e cujas previsões acerca do temperamento e caráter do indivíduo são, na prática, impossíveis de se testar? E, por outro lado, se os resultados forem consistentemente positivos, estará a comunidade científica pronta a aceitar mais uma ciência?


Transcrito do site brasileiro "Dicta&Contradicta", post de 9jan2012

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