Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Caos Sistémico

Parece-me que se aliviou um pouco a pressão sobre os países em dificuldades na zona Euro. Logo pela manhã as bolsas europeias abriram em alta, e os juros da dívida pública desceram satisfatoriamente. Há agora uma espécie de Plano Marshall alemão, para ajudar a Grécia a sair do garrote e tirar a cabeça do cepo. Percebemos que ao encostar à Itália, a crise das dívidas soberanas entrou na zona vermelha de alto risco, o “dead line,” correndo o perigo eminente de provocar o caos sistémico em toda a UE.

A Alemanha ganhou, ao conseguir que os privados, os bancos, (no caso da Grécia) participassem na ajuda aos fundos, que por sua vez serão aumentados, os prazos de pagamento dilatados e as taxas de juros ficarão mais baixas, pela parte do FEEF (Fundo Europeu de Estabilidade Financeira). Do lado da Alemanha haverá uma intervenção efectiva no apoio, consultoria e estímulos à economia grega.

O fundo europeu de resgate está agora autorizado, a comprar dívida pública aos investidores no mercado secundário, depois de emitida pelos países.

Mas regressemos um pouco ao passado, para vermos bem como Portugal chegou a esta triste situação. Pego em dois ou três jornais diários e retiro alguns dados:
Em 14 de Setembro de 2008, nos EUA, o Lehman Brothers faliu despoletando consigo a crise global e pondo a nu as debilidades e fragilidades de alguns países. De seguida, em Janeiro de 2009 (apenas quatro meses depois), a agência de notação financeira “Standard & Poor’s” reduziu o “rating” da dívida pública portuguesa para o nível mais baixo, desde que começou a analisá-la, no inicio da década de 90. Mas só 540 dias depois do início das convulsões mundiais, em Março de 2010, o governo descobriu que havia problemas e anunciou a austeridade do PEC 2010-2013, que emendaria por várias vezes, até pedir ajuda externa em Abril de 2011.

A atitude dos dirigentes portugueses, quero dizer, nós, tem sido, ao longo do últimos vinte anos, de puro caminhar nas nuvens, longe do planeta Terra e longe dos índices verdadeiros da sua produção nacional, ou do seu produto interno bruto. Desde construções megalómanas como a sede da Caixa Geral de Depósitos, na Av. João XXI, até algumas estações do Metropolitano de Lisboa, como o Colégio Militar, com azulejos de Manuel Cargaleiro e Vieira da Silva, até poesia incrustada nas paredes do metro, a estátuas de mármore de mulheres típicas de Lisboa em tamanho real, tudo foi pouco para mostrar o novo-riquismo português.

Passeio por Estocolmo, desço na estação do “Tunnelbana,” em “Maria Torget” e o que vejo? Uma estátua da respeitável senhora, decerto a patrona do lugar, por cima de um bloco de pedra, com não mais de um metro de altura e em bronze vulgar. Curioso, quero mais e calcorreio Estocolmo á procura de estações, que, li algures, imitam grutas directamente escavadas na rocha. Como é possível? Deve ser giro. E é. Vou apalpar. È tudo feito em gesso cartonado, paredes cobertas por cartão prensado e pintadas à mão, rústico. Ora nem mais. Não foi gasto ali mais de dez mil krones. E são um país rico. Com uma boa segurança social, bons ordenados, futuro garantido etc, etc.

Londres. Olho para as estações do “Underground”. Estão cobertas de imagens, sim, mas de publicidade para render dinheiro e pagar a despesa do “Underground” gigantesco da City of London, ou da City of Westminster.

Portugal tem de mudar muito, e principalmente a nível de mentalidades. Há uma lenga-lenga típica nos portugueses e que repetem até à exaustão: é a de que somos um país pobre. Pois é, mas não mais que a Suíça e que a Holanda, cujo território é menos de metade de Portugal e apenas tem os canais, as tulipas e as vaquinhas malhadas. No entanto têm um bom nível de vida, bastante superior ao nosso. Mas não têm feriados em barda como nós, nem pontes de cinco dias, nem greves, porque se chega a um acordo social com vista ao interesse de todos. A Suíça inventou o sistema dos bancos e dos depósitos, e as contas secretas, Londres é uma off-shore, na sua City, a Holanda tem bancos e instituições financeiras de nível mundial.

Portugal é um país rico!

Portugal tem uma orla marítima com dezenas de praias agradabilíssimas, tem vinho, vinhas, vinhedos e regiões demarcadas com fartura, fruta de qualidade, boas adegas especialistas em óptimos azeites e de nível internacional, tem um interior com vários microclimas, desde o calor alentejano ao frio e à neve da serra (entreguem, por hipótese, apenas, a serra da estrela a um suíço, proprietário de algum hotel nos Alpes Suíços, para explorar e vão ver o que é desenvolvimento); tem gado com fartura, cavalos de raça, tem um território com tamanho e condições ideais para progredir, não tem disputas territoriais, não é como a Irlanda dividida e em permanente conflito violento entre católicos e protestantes, tem espaço, paz e tempo para atrair o investimento, então porque não o faz?

Hoje já não há desculpa para ninguém, é impossível continuar a fazer o papel de coitadinho de nós, deste cantinho á beira-mar. Da próxima, se próxima houver, de certeza que a Alemanha não virá em nossa ajuda. Parece-me que a União Europeia não estará mais disponível para suportar o défice destes países.

José Luis Ferreira
Queluz, 22Julho2011

Sem comentários:

Enviar um comentário