Pacheco Pereira parece estar mais uma vez, a cometer um equivoco. A África do Sul e o mundo devem a Mandela não só pelo que ele fez depois da sua libertação, pois conseguiu unir as várias etnias e tendências políticas, tendo por consequência travado um processo que se poderia descontrolar e transformar o país num autêntico pântano de sangue, como antes foi a figura inspiradora de toda a luta de libertação, não só na África do Sul, como em toda a África e no Mundo.
Nelson Mandela era o presidente honorário do ANC e também o comandante em chefe do Umkhonto we Sizwe, e todas as acções armadas contra o regime racista tinham a sua aprovação, genericamente falando. A partir da prisão de Roben Island Mandela era o farol que iluminava todos aqueles que queriam partir as grilhetas que os amarravam aos regimes coloniais. P. P. deve compreender isso. Senão nunca há-de entender a luta de libertação dos povos sujeitos a dominação imperial ou colonial. Como vê, então, os movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas? Deveriam também fazer como Gandhi ou Martin Luther King, que advogavam o pacifismo?
Será que P. P. não consegue estabelecer um paralelismo entre a luta de libertação por métodos violentos e as acções que em 1640 levaram os conjurados portugueses a sacudirem o jugo dos espanhóis, resultando daí a morte do traidor Miguel de Vasconcelos, fiel ao trono dos Habsburgo em Madrid, e todas as consequências políticas e militares resultantes daí, do envolvimento do estado português para expulsar os holandeses de Angola e as guerras do Brasil contra os estados vizinhos, mormente a guerra do Paraguai?
E a Revolução Francesa ? E a Revolução de Outubro na Rússia? E a Guerra da Independência dos EUA? E a Guerra da Secessão nos EUA? E a Segunda Grande Guerra não foi feita para destruir e aniquilar o invasor nazi? Não foram estas guerras violentas mas legítimas?
Também me custa ver como P. P. não consegue compreender que não havia outro caminho, senão o da violência, para conseguir remover o regime de P.W. Botha (Die Groot Krokodil, o grande crocodilo, como era chamado em afrikaans). Como queria que fosse? Como ele faz, sentado à volta de uma mesa, filosofando e esgrimindo flores de retórica com luvas de pelica, com o seu maciço ventre sobrealimentado, ostentando as cores rosadas dos ambientes super protegidos da Assembleia da República ou dos lugares luxuosamente estufados do Parlamento Europeu? Ou como fez o Estado Novo que se aliou, à revelia do resto do mundo, vergonhosamente, ao regime sul-africano?
P.P. tem de compreender que o mundo não é um jardim de crisântemos, poucas vezes acontece como em Portugal, uma Revolução dos Cravos e não basta estar atrás de uma mesa, a debitar palpites e opiniões muito bonitas (que eu gosto) e muito bem fundamentadas, para mudar o mundo.
Parece-me que por vezes distrai-se e acontecem-lhe falhas de memória…mas cá estamos nós para avivar-lhe estas coisas.
José Luis Ferreira
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