Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

FOME




Este é o nosso rosto. É aqui onde caem as máscaras. Daqui não há mais fuga possível. As nossas costas bateram contra a parede. Todos somos culpados. A nossa passividade, o nosso egoísmo quando disputamos os míseros tostões e os níqueis provenientes do produto da venda das minas de fragmentação e das “kalashnikovs,” quando nos quedamos mudos e não gritamos em uníssono, que isto não pode continuar e nos escondemos nunca é nada connosco e viramos a cara e não saímos à rua feitos loucos porque não podemos suportar mais este peso e esta dor na consciência porque somos homens e temos medo de enfrentar os poderosos e temos vergonha da esmola que damos que nunca chega para nada e as nossas mãos se abrem e se fecham de rubor tamanha e sórdida é a nossa alma por o permitir e conseguimos adormecer não sei como e olhamos para o lado e há alguém que também não pensa e vive amedrontada pois vivemos num "Matrix", e todos os dias inventamos novas teorias religiões teoremas fórmulas axiomas certezas, as mais modernas e sofisticadas armas porta aviões submarinos atómicos, Marte dentro de dez anos, vamos ao fundo dos oceanos e aos cumes da Terra, num mundo cibernético computorizado digitalizado tudo ao alcance no "hipermarket" anestesiados pela sociedade de consumo; mas ele continua com o bracinho estendido com a gamela na mão ajoelhado aos meus pés rogando uma côdea de pão ou arroz e não aprendemos que por cada lágrima de um menino que nasce e morre algumas horas depois arfando por uma gota de água mais distante é o nosso caminho para o paraíso e mais nos afundamos no pântano e já não somos nada apenas seres bestializados animalizados pela disputa de um naco de carne crua pestilenta abutres brutalizados pelo luxo inaudito e pelo comodismo e somos canibais e nos esquecemos daquele pequeno rosto negro ou menos negro de ébano e dizemos tanta coisa e nunca nada acerca deste menino que me queima o coração de remorso e logo mais uma vez ajoelho-me e rezo a Deus mas mais uma vez vou negá-lo esta noite e me esqueço daquela mão que treme de fraqueza e Deus também se esqueceu dele temos os dois fraca memória dizem que são provas para a Humanidade mas que Deus cruel é este, que se alimenta da carne macia deste menino,dos seus frágeis ossinhos em formação destas órbitas aterrorizadas assustadas vidradas apagando-se e baixando cabisbaixas humildes obedientes pelo peso da morte.

J.L.F.

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