Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 25 de dezembro de 2011

Diário de Bordo (3)


(continuação)



para o oitenta. De uma atitude elevada, de repente desata a dizer mal de si próprio, com uma descrença que me põe constrangido. Não basta estar sempre a evocar uma história de novecentos anos se isso não contribuir para o bem-estar dos cidadãos.

Existe entre nós alguma ignorância quanto à liberdade de movimentos e cidadania do indivíduo a nível global, mundial. Ainda se olha de viés aquele que se tenta instalar num país diferente. É sempre olhado com desconfiança. Não é o meu caso. Portugal tem há décadas acordos especiais, de naturalidade e cidadania, com Angola. Não é de hoje. Mas ainda há gente que finge não saber. É preciso que compreendam que é um direito fundamental do homem poder escolher onde quer viver. Estamos em países livres onde a liberdade de expressão é um dado fundamental e um cimento que devemos saber preservar, com todas as suas vantagens mas também obrigações. Temos que saber conviver com a crítica por mais forte e contundente que ela seja. É preciso saber explorar este poder até ao seu âmago. Constato por vezes, que há sempre uma tendência, em Portugal, para não se respeitar os direitos de cada um e tentar ultrapassar, por via de expedientes mais ou menos canhestros, o nosso concidadão, invadindo o seu território e julgando-nos no direito de impor uma supremacia, vinda nunca se sabe de onde, outorgada nunca se sabe por quem. Problemas da falta de uma verdadeira tradição democrática. Falo de Portugal, mas imagino como será em Angola neste aspeto. Assim, nada me roubará o direito de me exprimir. De momento é aqui onde quero estar.

 Mudemos de assunto, então como vai a minha relação com Angola? Às vezes há gente que me acusa de desprezar a minha terra, patati, patata, blá, blá, blá. Ao contrário de outros, nunca usufruí de benesses pagas pelo estado angolano. Para mim, terra, é onde me sinto bem. O conceito de Pátria é muito lato. Podemos passar sem ela. Não sou de criar raízes. Como alguém disse, raízes têm as batatas. A necessidade cria fórmulas de sobrevivência, que só aqueles que vivem esses momentos o conseguem perceber. Eu sou um cidadão do mundo! Mantenho uma boa relação com Angola, estou com Angola como estou com Deus; estamos bem, admiramo-nos mas não falamos. De qualquer forma é uma ligação que poderemos sempre reatar e incrementar. Tudo depende da ocasião. Para onde for levo Angola comigo. Assim como levo Portugal no coração. Como a canção do Marco Paulo: “Eu tenho dois amores….” Torna-se muito difícil para mim manter um pé cá e outro lá. Tenho dupla nacionalidade. Mas acompanho com interesse a situação política em Angola, acho que os políticos angolanos têm feito um esforço para melhorar. Quanto ao Presidente José Eduardo dos Santos, pessoa que eu admiro e prezo, considero-o o legítimo presidente de Angola e para mim, é um homem que dedicou toda a sua vida a esta causa, a causa de Angola e da sua formação como nação. Mas chegou o tempo de mudar. Não queira, sr. Presidente, eternizar-se no poder. Faça-se substituir, de modo discreto, mas efetive essa mudança. Hoje, essa é uma atitude obsoleta para um país que se quer moderno, e incompreensível para os outros estados e nações. Os angolanos ultrapassaram tempos muito difíceis, provações terríveis, mas o pior já passou. Angola tem mostrado bons índices de desenvolvimento. Existem muitos problemas, como o da inflação, a moeda angolana de nada vale, a corrupção e o compadrio devem florescer entre a sociedade angolana, há demasiados ricos no país, mas não se pode
(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário