Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 25 de dezembro de 2011

Diário de Bordo (5)


(continuação)

não tenho coragem para dar mais dados da minha vida intima. Vamos puxando o novelo, para ver se sai mais qualquer coisa. Também não quero parecer o idiota que se põe a desfiar toda a sua vida, em público, nem como a menina que escreve o seu diário cor-de-rosa e inunda-o com corações, com amores para aqui e amores para acolá!. Mas como terapia, acho um bom exercício.

Falemos de livros, essa minha outra grande paixão. O verdadeiro fio condutor, a mola impulsionadora que me leva a escrever estas linhas. Tenho lido algumas coisas boas. Gosto de ficção, de transposições e relatos de factos e acontecimentos do dia-a-dia numa linguagem literária, floreada. Se um escritor consegue montar uma história a partir de gente vulgar e assim transformá-los em frescos de uma época ou de uma sociedade, a mim fascina-me. O livro é o pai e a mãe de tudo. É a base da cultura. Tudo gira à volta do livro. Raul Solnado dizia que quem frequenta o teatro se torna diferente, mais educado, aprende a estar e a colocar a voz, transforma-se como do dia para a noite. Eu corroboro essa ideia e acrescento o livro. É o outro grande pólo do conhecimento. Neste momento ainda estou com o John Irving, quase a chegar ao fim, apetece-me a seguir ler Julian Barnes (Man Booker Prize 2011), ou Christopher Hitchens, o anti- Cristo, o pensador e filósofo inglês que morreu há poucos dias. Este autor é fundamental para aqueles como eu, céticos em relação a Deus. Aliás gostava de puder explicar um pouco a minha postura em relação a Deus e às religiões.

Sou dos que não passam o dia a interrogar-se sobre Deus. Tenho um caminho e é esse que sigo. Não acho que estar permanentemente a balbuciar o seu nome nos vá levar a lado algum. Não é por seguir afincadamente a palavra de Deus que me tornarei um individuo melhor. Se Deus existe, e estou em crer que sim, mas nada mo garante, não precisa de mim para louvá-lo permanentemente. Para isso tem os padres e toda a hierarquia da Igreja e das religiões. Mas porquê? Porque teremos que estar sempre de joelhos, de mãos postas a rezar; porque será que orar tem que ter mais espaço nas nossas vidas do que outro aspeto qualquer? Porque tenho que estar sempre em contato com Ele e a glorificá-lo? Cheira-me a uma boa dose de exagero. Acreditar em Deus é uma coisa, ter uma religião é aceitável, muitas vezes aconselhável até, para gente insegura e que precise de uma muleta, mas acho que há muito excesso nisso tudo. Queremos ser mais papistas do que o Papa. Nem eles, os dignatários da Igreja estão sempre a badalar conceitos e a dissertar sobre Deus. Na ansia de querermos parecer virtuosos excedemo-nos em fraseados inúteis e sem sentido. Tenho dúvidas se é isto realmente o que Deus quer. Em certos países levam isto ao extremo. Pronto, não quero adiantar mais. Chega de falar de Deus. Estamos bem, respeitamo-nos, ele não tem razão de queixa de mim e eu estou descansado em relação a isso. Só que olhando para o mundo, verifico que ele tem andado ausente, mormente nos sítios onde grassa a fome, onde crianças morrem aos milhares. Os crentes apresentam sempre uma desculpa, ora é porque é gente que não acreditou nele, ou porque a reincarnação ainda não atingiu a perfeição, et., etc. Por mim fico-me com a teoria de que nada está demonstrado, tando pode existir como não. Vou ler Cristopher Hitchins e vou ficar mais elucidado.

 Bom, querido diário, hoje excedi-me nas minhas considerações. Mas são assuntos que tenho pendentas e não há nada como ter a escrita em dia.

 Votos de um Feliz Natal para todos
Deste que se assina

Queluz, 25 de Dez 2011

José Luis Ferreira








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