Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Djenabo é nome de mulher


Djenabo é nome de mulher. Provém da etnia balanta e é oriundo do arquipélago dos Bijagós, na Guiné, das terras e ilhas chuvosas, ou açoitadas pelos ventos áridos do deserto do Sahara, na sua orla interior. Os portugueses, quando atracaram a estas terras, em 1440, encantaram-se e até hoje contam histórias e lendas das mulheres de traços fortes, e da terra que lhes pregava a partida da malária e da mosca tsé-tsé, que os prostrava hirtos de medo, mas que os magnetizava, presos a este solo lamacento durante os séculos do domínio imperial.

Ternos a amar, transformam-se em guerreiros poderosos nos momentos de ódio extremo.

Fascinam-me as crenças, os mitos, a religiosidade, admiro a facilidade com que o ser humano se prende a histórias de seres fantásticos, aparições, gnomos, espíritos, lendas e profecias. Não tenho o dom da crença, não fui tocado pelos desígnios da fé.

Djenabo é muçulmana e em criança foi marcada na face com uma tatuagem que a distingue das outras mulheres. O seu corpo foi talhado no rochedo, como um barco é esculpido no melhor toro da Guiné. É supersticiosa e obediente dos códigos do seu povo. Aceita a condição de terceira esposa, porque acha que é assim que deve ser e não é nada de mais aceitar um tal estatuto.

Para Djenabo, não existe a dicotomia Bem/Mal. O Bem e o Mal são dois círculos que se cruzam, se interceptam e se completam como um todo. Cada um carrega o outro,como dois irmãos siameses.

 Da sua maneira de vestir, garrida, no seu traje de túnica até aos pés de cores berrantes e um turbante do mesmo pano, arrematado por um laço sobre a testa altaneira, se depreende que a cultura e o modo de vida ocidental não lhe assentam sobre os ombros.

 Djenabo é um poço de alegria e boa disposição. Temos ambos um pacto de entendimento. Ela estará sempre bem-disposta, e eu, pelo meu lado, estarei sempre irascível, de mau humor, que logo se dissipa, desarmado pelas suas brincadeiras.

Hoje pedi-lhe um beijo.

-Djenabo,não dás um beijo ao amigo?

-Não posso, estou com o coiso (não percebi o termo, mas é fácil de entender), hoje não posso beijar homem.

Tal e qual, Djenabo não perde o que ouviu há décadas atrás, não será ela a cortar a sagrada correia de transmissão que lhe liga aos seus antepassados.

À saída estendo-lhe a mão. –Bom, Djenabo dá cá a mão, até amanhã.

Estende-me a mão. Tem as extremidades dos dedos pintados com uma espécie de tintura amarela carregada. As duas mãos.

-Que é isso Djenabo? pergunto.

-É uma coisa da minha terra, quando tirar, as unhas ficam mais bonitas!

Amanhã pedir-lhe-ei a receita, vou tentar vender às profissionais da manicure. Pode ser que arranje negócio.

Djenabo é nome de mulher.

 José Luis Ferreira

 

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