Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 23 de janeiro de 2011

O Projecto de George Clooney parar tentar evitar um novo genocídio no Sudão

O Satellite Sentinel Project, criado pelo actor, está a colaborar com outras organizações para colocar satélites comerciais na fronteira Norte-Sul do país que vai dividir-se em dois. A sua esperança é a de evitar uma nova carnificina.


George Clooney gostaria de levar um pouco de Hollywood a uma das regiões mais remotas e tensas de África. Não se trata de passadeiras vermelhas e sacos de donativos mas o olhar frio, constante e intrusivo de uma câmara.
"Todos podem ir ao Google Earth e googlar a minha casa", disse o actor. "Pensei, se é assim que tem de ser e se podem googlar a minha casa, então as pessoas que cometem crimes de guerra, em particular o Governo do Sudão, também deveriam beneficiar do mesmo nível de celebridade que eu. Estas pessoas são figuras públicas, e nós vamos fotografá-las."
Clooney é o impulsionador de um plano para instalar satélites comerciais que irão monitorizar a fronteira entre o Norte e o Sul do Sudão, um país que deverá partir-se em dois, depois de um referendo que terminou no sábado e cujos resultados oficiais só serão conhecidos no início de Fevereiro. Se eclodirem combates, o seu objectivo extremamente ambicioso - o culminar de anos de envolvimento com este Estado devastado pela guerra - é evitar um genocídio.
O Satellite Sentinel Project é uma colaboração entre a Not on Our Watch (organização de direitos humanos fundada por Clooney), as Nações Unidas, a Universidade de Harvard e a Trellon, uma companhia que constrói websites. No site do projecto, http://www.satsentinel.org, qualquer pessoa poderá ver imagens de alta resolução de uma fronteira que se estende ao longo de 1250 milhas (cerca de 2000 quilómetros). Se a violência começar, os patrocinadores do site esperam que as suas provas fotográficas ajudem a pressionar o Conselho de Segurança da ONU e outros países a intervir.
A organização Not on Our Watch, que Clooney fundou com os actores Don Cheadle, Brad Pitt e Matt Damon e com o produtor Jerry Weintraub e com David Pressman, ex-funcionário do Departamento de Estado na época do Presidente Bill Clinton, já angariou para o projecto 650 mil dólares de fundos iniciais. "Temos a capacidade de criar dissuasão", disse Clooney, que efectuou a sua sétima visita ao Sudão e ao vizinho Chade. "Talvez não seja necessário enviar para a região tanques, helicópteros ou aviões "porque nós estamos a vigiar"."

Analista sério
Mais de dois milhões de pessoas morreram na guerra civil sudanesa que durou de 1983 a 2005. Desde então, a violência esporádica tem continuado entre os árabes sudaneses de tez mais clara no Norte, que defendem a lei islâmica, e os africanos de pele mais escura no Sul semiautónomo.
O Presidente sudanês, Omar Hassan Ahmed Bashir, que tem o seu palácio em Cartum, no Norte, é procurado pelo Tribunal Criminal Internacional sob as acusações de genocídio e crimes contra a humanidade relacionados com aquela violência. Tendo os sudaneses do Sul, na sua maioria cristãos e animistas, votado a favor da secessão, o Sul ficará com cerca de 80 por cento das receitas petrolíferas do país - um problema incómodo para Bashir.
A primeira visita de Clooney ao Sudão foi em 2006, quando filmou um documentário com o seu pai, o jornalista Nick Clooney. No final desse ano, o actor discursou perante o Conselho de Segurança da ONU sobre esta questão, tendo viajado para a China e Egipto, na companhia de Cheadle, para tentar persuadir os responsáveis destes a usarem os seus laços com o Governo sudanês para ajudar a pôr fim à violência.
"George continua a aparecer", notou John Prendergast, co-fundador do Enough Project, que visitou o Sudão com Clooney. "Ele é um analista muito sério e empenhado. Deslocou-se a localidades remotas. Colocou-se a si próprio perante riscos extremos. Ele fica alojado em cabanas de palha e em cabanas de adobe. Ele adoece devido à falta de condições sanitárias."
Os apelos de Clooney à paz no Sudão levaram-no da Casa Branca, onde se encontrou com o Presidente Barack Obama um mês após a sua tomada de posse, até às mais longínquas aldeias fronteiriças. Numa tentativa para persuadir um líder rebelde a assistir a uma conferência de imprensa, o actor ofereceu-lhe dinheiro para financiar a loja de sapatos do seu pai. (O esforço não resultou.)Para alguém que tem a vida peculiar de uma celebridade, Clooney consegue encontrar um anonimato raro no Sudão. "É uma zona calma para ele", observou Prendergast. "Quando vamos para Nova Iorque e Los Angeles, toda a gente o segue. Mas se vai a uma aldeia ou a um campo de refugiados, é apenas mais um funcionário de uma agência humanitária ou um activista de direitos humanos que aparece por ali."

Documentar em tempo real
A ideia de Clooney do Satellite Sentinel Project começou com uma viagem ao Sudão em Outubro. Depois de a Not On Our Watch ter fornecido os fundos iniciais, outras organizações e companhias rapidamente se juntaram como parceiros, a tempo do lançamento da iniciativa em Dezembro de 2010.
"Este [projecto] é ideia original de Clooney e a sua dimensão não tem precedentes", salientou David Yanagizawa-Drott, professor assistente da Harvard"s Kennedy School of Government, que irá avaliar os resultados do programa para a Harvard Humanitarian Initiative. "É necessária uma tecnologia sofisticadíssima, deixando acessíveis ao público documentação de direitos humanos e imagens quase em tempo real. Não se trata apenas de documentar o conflito post mortem. Ou seja, antes de uma guerra civil poder eclodir, já estaremos a documentá-la."
Clooney está consciente de que o activismo geopolítico de figuras de Hollywood é, frequentemente, encarado com cinismo, se não mesmo com um desdém sem reservas - mas nada o detém.
"As pessoas que reviram os olhos, a maioria dessas pessoas não sabe nada", declarou Clooney. "Tenho líderes rebeldes na minha lista de contactos telefónicos de marcação rápida. Já passei algum tempo na companhia do Presidente do Chade, no Sul do Sudão. Estive em Cartum. Conheço pessoalmente a maioria das facções. Por isso, tenho um entendimento rudimentar do que se passa, o que é mais do que tem a maioria das pessoas. Se isso significar que posso intervir e chamar a atenção daqueles que sabem realmente o que estão a fazer, então estou a cumprir a minha missão."
No entanto, Clooney tem sido discreto quando ao seu trabalho na região, tendo designado os seus esforços de "o maior fracasso" da sua vida, numa entrevista que concedeu ao jornal britânico The Sun, em Setembro do ano passado.
"Nada mudou na realidade", lamentou Clooney recentemente. "Quando 300 mil civis inocentes são sistematicamente violentados e assassinados, então trata-se de um fiasco a todos os níveis. Sou um tipo antiquado, gosto de ganhar o jogo e não dizer apenas que jogámos bem mas perdemos."

In "O Público"

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