Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Mulher do ex-Presidente liderava "cleptofamília"


Centenas de manifestantes continuavam ontem a pedir nas ruas o corte com tudo o que estivesse ligado ao regime do ex-Presidente Zine al-Abidine Ben Ali, fosse membros do seu partido no Executivo, fosse a ligação da sua família aos negócios do país. Em Tunes, havia ainda romarias às casas luxuosas do clã Trabelsi, a família da mulher de Ben Ali, entretanto pilhadas.

E cada vez mais a riqueza ilegalmente acumulada por este clã de estilo mafioso - onde não faltava a mulher maquiavélica, o homem que janta com a arma em cima da mesa ou o playboy com uma queda por iates de luxo - está sob escrutínio: as autoridades tunisinas anunciaram ontem uma investigação às transacções financeiras, contas em bancos estrangeiros e às propriedades e hoje a detenção de 33 membros da família de Ben Ali. A Suíça congelou os bens do ex-Presidente e de 40 pessoas do seu círculo próximo.

Falar da família Ben Ali é sobretudo falar de Leila Trabelsi, a ex-primeira dama, e dos seus dez irmãos. Os tunisinos podiam não gostar de Ben Ali, mas odiavam sobretudo Leila e o seu clã com uma ganância sem fim, garantiu Mounir Khelifa, um professor que visitava ontem uma das casas abandonadas dos Trabelsi, à norte-americana National Public Radio (NPR).
Leila Trabelsi, antiga cabeleireira, filha de um vendedor de fruta e legumes, tinha crescido num dos mais pobres bairros da medina de Tunes. Casou-se com Ben Ali em 1992, cinco anos depois do golpe sem sangue que colocou o então primeiro-ministro no lugar do Presidente Habib Bourguiba, o herói da independência.
Foi o segundo casamento de ambos: Leila tinha-se casado muito nova e cedo se tinha divorciado; Ben Ali era casado com a primeira mulher quando se envolveu com Leila e ainda quando nasceu a primeira filha de ambos.
Depois de casada com Ben Ali, Leila foi ganhando poder, tornando-se uma figura maquiavélica descrita como a Lady MacBeth da Tunísia, a Imelda Marcos do mundo árabe, a regente de Cartago ou mesmo "a Presidente".
Diz-se que Leila se estaria a preparar para suceder ao marido, entretanto doente. Se estes planos futuros não são claros, é o passado que está cheio de intrigas palacianas, golpes para afastar rivais e casamentos para cimentar alianças. Diz-se, por exemplo, que a filha de Leila se casou com um importante homem de negócios apesar de este ter uma namorada. A namorada saiu do país após ter sido contactada pela polícia, deixando o caminho livre para Nesrine.
Nos últimos tempos, por causa da doença do marido, Leila tinha mesmo dito aos ministros que era melhor falarem com ela primeiro para não aborrecer Ben Ali. O ex-Presidente terá demorado a sair do país porque Leila não percebeu logo a gravidade da situação e filtrou a informação.
A primeira dama cuidava de si e de assegurar que o seu clã participava nos sectores-chave da economia. Os Trabelsi tinham participações em bancos (o FMI alertou para a grande quantidade de bancos em relação à população tunisina), nas multinacionais a operar no país (um dos telegramas da WikiLeaks contava como a McDonald"s não tinha entrado na Tunísia por recusar a parceria com os Trabelsi), concessionários automóveis, companhias aéreas, operadoras de comunicação, cadeias de rádio e televisão, imobiliário, etc.
O próprio Ben Ali teria avisado os genros para os perigos da ganância excessiva do clã. Em 2002, contam os autores do livro La Régente de Carthage, Ben Ali reuniu os Trabelsi para lhes dizer: "Se querem dinheiro, pelo menos sejam discretos. Encontrem testas-de-ferro e empresas de fachada."
Imed, o sobrinho preferido de Leila, foi pouco discreto. Em 2006, terá mandado roubar um iate de luxo da Córsega sem se aperceber das ligações do seu dono, o banqueiro Bruno Roger, ao Governo francês. Roger não descansou enquanto o executivo não pressionou a Tunísia por causa do roubo do iate, que tinha reaparecido no porto de Sidi Bou Said.

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