Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 23 de junho de 2013

O VENENO MORTAL DOS ESTEREÓTIPOS


Os estereótipos andam por aí. Cuidado com esses vírus, tão nefastos como a gripe das aves, tão venenosos como o "antrax", tão mortíferos como os esporos de rícino.
As classificações abusivas, as teorias espúrias e de qualidade duvidosa, expandem-se tanto à esquerda como à direita.
Não há nada como parar para pensar. Os estereótipos envenenam o sangue, enlouquecem quem começa a professar estas ideias. A tendência é diabolizar, criminalizar tudo e todos. Na voragem, esquecem-se os genuinamente corruptos e os seus corruptores. É preciso raciocinar. Desligar do ruido. Ouvir as vozes mais lúcidas. Fechar os estereótipos a sete chaves. Esperar que implodam por si; ou mandá-los lá para uma fortaleza do Ártico, para que só se possam libertar depois de uma catástrofe nuclear. Se calhar nem isso. O que eu quero é estar bem longe dos estereótipos.

A Senhora Dilma Rousseff, do (PT) Partido dos Trabalhadores, e o seu mentor — o ex-Presidente Lula da Silva; o construtor do milagre económico e a sua pupila e protegida, a senhora Presidenta, eleita em 2010 por 56,05% de votos. Até há dias cantavam-se loas ao Brasil e às políticas deste executivo. Que continuava na senda desse milagre. Hoje já não é bem assim. Amanhã os dois serão enviados para uma fortaleza virtual — a do esquecimento — por maus serviços ao país. Nos anais da História, ficarão os retratos a sépia, descoloridos, deste casal, e de um consulado a dois, que pretenderam deixar a sua marca póstuma, imperial, mas que caem em desgraça, sucumbem e são levados à ruína, ao tentarem construir na nuvem, um império de areia, sobre focos disseminados de corrupção, e sonhos dignos de Césares. O tempo se encarregará de efetuar o seu próprio julgamento. Por enquanto estão no purgatório, à espera de reabilitação. Pessoa da minha estima, lá do seu canto, na cidade de S. Paulo, escrevia-me naquele tempo, dizendo: «Amigo, esse Lula é mais do mesmo, a mesma baderna». E mais tarde: «Aqueles dois estão sempre a mancomunar! Eles dão cabo deste Brasil», profetizava a minha amiga, P., no seu bonito português abrasileirado! Ela tinha razão. Ou não? Isso só o brasileiro pode dizer.

O Brasil parecia que vendia saúde. Notícias recentes davam conta que perdoara a dívida a 19 países africanos. Etá, festa rija! Ninguém cuidou. Eu escrevi que o Brasil parecia que nadava em dinheiro, do bom.

Mas lá bem no fundo do caldeirão, o caldo enorme, tenebroso, fervia. A grande mole humana — as classes mais baixas, o operariado e o "lumpenproletariat", o motor, o verdadeiro combustível da revolução — saiu à rua. Estava encontrado e legitimado o júri, nesse supremo tribunal da nação: o povão, na sua autoridade absoluta. Aqueles que, ao contrário da classe média, pensativa e temerosa, não têm nada a perder; que não contabilizam as perdas e danos. Aqui vai a minha homenagem, portanto, a esses rapazes e raparigas, vindos dos confins da grande metrópole, dos arrabaldes, dos muros do desemprego, esses heróis anónimos que, de lenço no rosto, enfrentam, olhos nos olhos, as forças policiais, que dão o peito às balas de borracha, e que vão de encontro aos cassetetes da polícia, e do plexiglás dos escudos, nas lutas de rua. São eles a a guarda avançada da revolução.

Mohamed Bouazizi, o vendedor de fruta que se auto-imolou, na longínqua cidade de Bem Aros, Tunísia, despoletando a  gloriosa Primavera árabe, é o símbolo evidente do caráter popular do movimento. A Primavera Árabe alastra e transmite as suas ondas de choque até ao Brasil, arrastando consigo os pobres e os miseráveis, que transportam o facho da Liberdade e da Democracia.

Os analistas de esquerda, com o cérebro cheio de teorias burguesas, que hoje apressadamente constroem profundas reflexões, esqueceram-se de interpretar os dados críticos. Houve um sinal claro da Standard & Poor´s, que desceu o seu "Outlook" para a dívida brasileira, de estável para negativo, admitindo assim um possível corte no "rating" actual de BBB, dois níveis acima da categoria "junk", nas anteriores semanas à grande explosão de cólera.
Ninguém se apercebeu, nem ligaram para isso. Quem? Aqueles? Com aquela riqueza toda?
As agências de rating e as bolsas de valores, normalmente são os primeiros organismos a acusar a quebra de cotação das ações das grandes empresas multinacionais.

Riots Brasil
 
O mundo está cheio de estereótipos. Formam uma parede que não deixa ver a realidade. Constroem-se imagens e figuras sombrias, a preto e branco, como lanternas projetadas por detrás de um palco transparente; ou projetam tipos e padrões de vida, de sucesso, demasiado otimistas, género postal ilustrado para turista desfrutar. Os meios de difusão, na sua ânsia de tudo explicar, criam e forjam realidades fictícias, tipo telenovela, mundos imaginários em que só eles acreditam. Não olham para o âmago da sociedade. Basta-lhes os números e as projeções, sem alma nem conteúdo. Mas, latente, larvar, o descontentamento grassa na sociedade, à revelia das previsões e das ideias economicistas dos "gurus", que escrevem para o "Economist" e para o "Financial Times," e que os jornalistas sempre atualizados gostam de citar.

Enquanto os craques da economia e do jornalismo antecipam previsões de crescimento, e os "opinion  makers" montam os seus quadros simpáticos para inglês ver, conforme os candidatos e os partidos da sua simpatia, nos corredores dos hospitais, as crianças agonizam por falta de atendimento e os centros de atendimento do Estado abarrotam de gente que espera anos por uma consulta. As escolas rebentam pelas costuras, de mau ensino e de falta de condições e estruturas condignas. Os transportes públicos arrastam-se pelas ladeiras carregados do povão, que enceta a sua tragédia diária, em direção aos fábricas e às cozinhas dos restaurantes.

Para que conste, enumero e denuncio alguns dos estereótipos ultrajantes, que proliferam de boca em boca, pelas cidades, pelas ruas, becos e esquinas da Europa, quiçá do mundo:

O brasileiro saiu agora do torpor e da alienação, do Samba e do Futebol. Devido ao seu novo estatuto social, a novel classe média que antes era bruta, não tinha consciência política, e não sabia nada, agora abriu os olhos e já sabe reivindicar. O brasileiro não gosta de trabalhar, e está metido em bandos de criminalidade organizada.
Elas, as mulheres, vêm para a Europa para se prostituírem, e roubarem os maridos das pobres e sossegadas senhoras púdicas europeias, tementes a Deus.
O Brasil foi, nos últimos anos, um mundo de oportunidades. O "El Dorado", para as classes portuguesas empobrecidas e empurradas para o desemprego, enxotadas para os caminhos da emigração, devido às políticas de endividamento público, à falta de honestidade dos delfins da corte, e aos casos de excesso de protecionismo desse Estado que também aqui, em Portugal, quis construir uma sociedade baseada no investimento público, acarretando a partir daí os custos do fracasso.

O africano é corrupto e o seu grande sonho é vir para a Europa. Gosta de dar nas vistas, de cores berrantes e de mulheres europeias. O europeu vai para África para trabalhar, o africano vem para a Europa para usurpar o lugar de um nacional. Quando o africano investe na Europa, é fatal, é dinheiro sujo, tem a marca dos diamantes de sangue.
As mulheres africanas disputam o pódio da fêmea mais gorda e com maior massa adiposa junto à zona dos glúteos, são adeptas da bruxaria e provocadoras; os homens, querem é farra e cerveja, não gostam de trabalhar; os jovens desafiam e provocam a polícia, fazem a vida negra aos portugueses e não querem respeitar as leis do país de acolhimento. Os africanos são normalmente pouco inteligentes, tipo crianças crescidas, meio inimputáveis, mas exímios na dança e nos desportos  que requerem maiores atributos físicos. Têm propensão para a violência, não conseguem forjar acordos aceitáveis entre as tribos, nos seus próprios países.
Normalmente têm mais que uma mulher.

A velha fórmula albanesa do estado maximizado, orwelliano, ainda preenche o imaginário dos intelectuais da esquerda revisionista. Num país endividado até ao osso, o retrato do cidadão subsidiado pelos fundos públicos, dependente do juízo e do aval dos comissários políticos, guiado pelo Estado benemérito, super protetor e distribuidor da riqueza, de forma plana e igualitária, é o sonho acalentado pela esquerda do reviralho. As tentaculares empresas estatais e as híbridas entre este novo "Leviathan" e as sociedades particulares, dão avultadíssimos prejuízos, devido à má gestão, ao encobrimento e distribuição principesca de favores a este ou àquele interesse privado.
Malgrado o fracasso destas opções, os adeptos do Estado continuam a fazer novenas à Virgem Maria, para que este volte ao seu papel de controlador dos cidadãos.

Quanto ao indivíduo de etnia árabe, normalmente é maldoso e dissimulado. Elas usam a "burka" para esconder artefactos explosivos. Eles chicoteiam-nas diariamente. Faz-se confusão entre o que as mulheres querem ser e o que são obrigadas a ser, por tradições familiares. Para a maioria dos ocidentais, todas querem ser europeias e largar a religião muçulmana. O mundo, para estes fazedores de estereótipos, constitui-se em dois polos distintos, dois hemisférios: o norte e o sul.

Outro estereótipo comum consiste em acreditar no poder reforçado da polícia, quanto às suas prerrogativas de detenção e repressão. Acredita-se que o cidadão deve ser vigiado de perto, controlado à distância, para que não pense em veleidades, nem se estique para os lados. Crê-se, não no incremento da educação, mas no esvaziar contínuo das liberdades como meio de governar na paz e no sossego dos deuses.
Um polícia por cada habitante, e um exército de guarda-costas para cada membro do governo, faz a felicidade de um país deseducado, inculto e mal informado.

 Estes são alguns dos estereótipos mais vulgares do nosso tempo. A situação no Brasil e a Primavera Árabe despoletaram uma nova forma de encarar a imprensa e os "opinion makers".
Se de um lado o clássico jornal, a televisão e a rádio ainda cumprem o seu papel de divulgadores e de mensageiros, por outro, novas formas de comunicação pela internet tornam esses meios desatualizados e obsoletos. A massificação da comunicação abrange um leque mais vasto e é agora mais eficaz. Deixamos de estar à espera do noticiário das 20 h. para recebermos a notícia pelo telemóvel ou pelo portátil.

O mundo muda diariamente, e os novos saltos vão no sentido de uma maior participação dos pobres e dos deserdados, nos processos de decisão. As decisões tomam-se na praça pública, perante milhões, com cobertura ao vivo sob a vigilância e o escrutínio instantâneo das redes sociais.
É isso a verdadeira Democracia, com a participação e a exigência em direto das grandes massas populares, afinal os grandes obreiros das revoluções genuínas.

JLF

 

Sem comentários:

Enviar um comentário