Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

As sentenças de Paulo Bento


O mundo do futebol está cheio de justiceiros, de fundamentalistas, de gente que nunca se engana, de atitudes, acções e sentenças incontestáveis e irreversíveis.
Não concordo nada com Paulo Bento e com o castigo de irradiação da Selecção Nacional que ele impôs a Ricardo Carvalho.

Numa primeira análise R. C. cometeu um grave erro ao abandonar o estágio da selecção. Por isso merece ser castigado. Não se compreende como um atleta do seu nível não se contém quando é contrariado. Não pode haver lugares cativos no seio da selecção. Disso toda a gente sabe. Depois, não contente com o que fez, dá uma conferência de imprensa onde se acha com kilos de razão. Não esperava isso do Ricardo.
P. B. militarista, responde, usa uma terminologia radical, quer lavar a sua  honra e a do país, chama-lhe traidor, desertor e outros epítetos dignos do perfil rígido de um general Patton, nas suas batalhas para libertar a Europa. Por detrás daquela imagem “light,” de lágrima no canto do olho, do seu discurso "dranquilo" e soporífico, esconde-se um indivíduo truculento e vingativo, useiro e vezeiro nestas andanças de pequeninos e miudinhos ódios e sentenças definitivas. No Sporting, tem um longo historial de atritos e de exclusões. Não se compreende como este seleccionador, inábil, não dá espaço a R. C. para que pense, reconsidere, se mostre arrependido e se retrate, como sucede em imensas latitudes da vida humana quotidiana. R. C.  é um futebolista de eleição, um dos melhores centrais do mundo, com 75 internacionalizações, não é um menino que chega agora à selecção, é um dos preferidos de José Mourinho e é, além do mais, um sujeito a quem não se conhecem excessos nem ostentações.

Por ser um veterano, tem mais responsabilidades, é verdade, mas também deve ser olhado de outra forma, com alguma complacência e não com a espada pronta a decepar-lhe a cabeça.

Dentro de alguns anos R.C. poderia receber os louros de uma vida desportiva e o reconhecimanto nacional. Não se ajuda a cair para o abismo alguém nestas condições e que sempre deu o melhor do seu físico ao serviço do país. Com menos esforço outros recebem comendas e faixas honoríficas.

É pena que a nossa “intelligentsia,” doutores, comentadores e jornalistas, alinhem todos pelo mesmo diapasão, e achem bem a sentença de P.B. Nenhum quer ficar mal com P.B. Se um dia as coisas correrem mal na campanha da selecção, serão os primeiros a lançar o seleccionador para a fogueira, para arder no fogo do purgatório.

O “staff” da Selecção Nacional de Futebol, não pode servir apenas para pavonear-se em hotéis de luxo, para mostrar os lindos cortes dos fatos da Fátima Lopes, andar pelas concentrações para louvar e servir de ama-seca ao Cristiano Ronaldo. Têm que estar atentos aos pequenos deslizes dos atletas, às suas quebras psicológicas e apoiá-los nos momentos menos felizes que porventura possam suceder, ou à bipolaridade momentânea a que qualquer homem ou mulher estão sujeitos.
O srs. Carlos Godinho e Amãndio de Carvalho (diretor e vice-presidente), estão há décadas ao serviço da Federação. Antes de P.B lá entrar. Têm plena autonomia para resolver qualquer assunto por mais delicado que ele seja. Conhecem os jogadores como conhecem as suas mãos. Não percebo como ninguém faz, nas horas seguintes à sua saída do hotel, um simples telefonema, ou vá procurá-lo, e aconselhe R.C. a regressar à sua casa que é a Selecção Nacional, para junto dos seus colegas e para junto, enfim, da sua família, do seu espaço privilegiado que é o espaço da selecção.

R.C. deve ser aconselhado a retratar-se, a pedir desculpas públicas aos seus colegas, ao treinador e ao país. Deve ser encontrado um caminho diplomático para que P.B. não perca a face após ditar a sua sentença. Mas parece-me que já é tarde, ninguém quer mexer uma palha.

Alguém disse uma vez, quando P.B. foi eleito seleccionador, que regressamos à idade da pedra. Quase me apetece concordar.

É desta forma execrável que se desbarata um valor nacional incontestável, como se abundassem por aí dezenas de R.C. O povo diz que só valorizamos condignamente os verdadeiros valores depois da sua morte; nada mais acertado, nada mais correcto.

Mas que dolorosa verdade.

José Luis Ferreira

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