O mundo do futebol está cheio de justiceiros, de fundamentalistas, de gente que nunca se engana, de atitudes, acções e sentenças incontestáveis e irreversíveis.
Não concordo nada com Paulo Bento e com o castigo de irradiação da Selecção Nacional que ele impôs a Ricardo Carvalho. Numa primeira análise R. C. cometeu um grave erro ao abandonar o estágio da selecção. Por isso merece ser castigado. Não se compreende como um atleta do seu nível não se contém quando é contrariado. Não pode haver lugares cativos no seio da selecção. Disso toda a gente sabe. Depois, não contente com o que fez, dá uma conferência de imprensa onde se acha com kilos de razão. Não esperava isso do Ricardo.
P. B. militarista, responde, usa uma terminologia radical, quer lavar a sua honra e a do país, chama-lhe traidor, desertor e outros epítetos dignos do perfil rígido de um general Patton, nas suas batalhas para libertar a Europa. Por detrás daquela imagem “light,” de lágrima no canto do olho, do seu discurso "dranquilo" e soporífico, esconde-se um indivíduo truculento e vingativo, useiro e vezeiro nestas andanças de pequeninos e miudinhos ódios e sentenças definitivas. No Sporting, tem um longo historial de atritos e de exclusões. Não se compreende como este seleccionador, inábil, não dá espaço a R. C. para que pense, reconsidere, se mostre arrependido e se retrate, como sucede em imensas latitudes da vida humana quotidiana. R. C. é um futebolista de eleição, um dos melhores centrais do mundo, com 75 internacionalizações, não é um menino que chega agora à selecção, é um dos preferidos de José Mourinho e é, além do mais, um sujeito a quem não se conhecem excessos nem ostentações. Por ser um veterano, tem mais responsabilidades, é verdade, mas também deve ser olhado de outra forma, com alguma complacência e não com a espada pronta a decepar-lhe a cabeça.
Dentro de alguns anos R.C. poderia receber os louros de uma vida desportiva e o reconhecimanto nacional. Não se ajuda a cair para o abismo alguém nestas condições e que sempre deu o melhor do seu físico ao serviço do país. Com menos esforço outros recebem comendas e faixas honoríficas.
É pena que a nossa “intelligentsia,” doutores, comentadores e jornalistas, alinhem todos pelo mesmo diapasão, e achem bem a sentença de P.B. Nenhum quer ficar mal com P.B. Se um dia as coisas correrem mal na campanha da selecção, serão os primeiros a lançar o seleccionador para a fogueira, para arder no fogo do purgatório.
O “staff” da Selecção Nacional de Futebol, não pode servir apenas para pavonear-se em hotéis de luxo, para mostrar os lindos cortes dos fatos da Fátima Lopes, andar pelas concentrações para louvar e servir de ama-seca ao Cristiano Ronaldo. Têm que estar atentos aos pequenos deslizes dos atletas, às suas quebras psicológicas e apoiá-los nos momentos menos felizes que porventura possam suceder, ou à bipolaridade momentânea a que qualquer homem ou mulher estão sujeitos.
R.C. deve ser aconselhado a retratar-se, a pedir desculpas públicas aos seus colegas, ao treinador e ao país. Deve ser encontrado um caminho diplomático para que P.B. não perca a face após ditar a sua sentença. Mas parece-me que já é tarde, ninguém quer mexer uma palha.
Alguém disse uma vez, quando P.B. foi eleito seleccionador, que regressamos à idade da pedra. Quase me apetece concordar.
É desta forma execrável que se desbarata um valor nacional incontestável, como se abundassem por aí dezenas de R.C. O povo diz que só valorizamos condignamente os verdadeiros valores depois da sua morte; nada mais acertado, nada mais correcto.
Mas que dolorosa verdade.
José Luis Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário