O caso Dominique Srauss-Kahn recorda-me um outro, passado há alguns anos e que ainda muita gente se deve lembrar. Refiro-me ao julgamento do facínora O. J. Simpson, ex-astro da NFL, a liga americana de futebol profissional, assassino confesso da esposa Nicole Brown Simpson e do amante desta, Ronald Goldman.
E como posso estabelecer alguma ligação entre os dois actos?
Há dias vi e ouvi a entrevista de Oprah Winfrey a Mark Furham, o polícia que primeiro chegou ao local do crime e contactou com as provas do assassínio. Em traços largos e salvo alguns lapsos de memória foi isto que retive do trabalho de O.W.. Fora os erros da colheita das provas cometidos pelos polícias e as longas e tumultuosas peripécias do julgamento, fiquemos pelo essencial:
M.F.: - fui chamado pelo departamento da LAPD, pelo telefone, atendi e comunicaram-me que ele estava em fuga. Quando chegamos ao local do crime, era tão evidente, estava tudo tão claro e não havia buraco nenhum que a história corria à nossa frente.
O.W.: - sabe, eu não tenho dúvidas nenhumas que O.J. matou os dois, mas olhe, quando começou o julgamento, eu estava em casa, junto ao meu companheiro, Stedman, e o que ele me disse foi: - ele vai safar-se, não vão conseguir prendê-lo.
M.F.: - a partir do momento em que este caso caiu na imprensa e foi mediatizado como foi, acabou, só interessava o que passava para a imprensa e a forma como esta o tratava e chegava às pessoas.
O.W. : houve uma altura nos USA, em que as opiniões estavam tão radicalizadas, que num encontro a dois, se ambos não tivessem a mesma opinião, melhor seria terminar aí o encontro.
Mas onde pretendo eu chegar?
O caso D.S.K. também me pareceu tão lógico, tão facilmente apreensível, que não tive dúvidas sobre a culpabilidade de D.S.K.. Strauss-Kahn tinha fama de conquistador e predador sexual, já tivera uma queixa de uma escritora e jornalista francesa que lhe chamou de “macaco com cio,” mas que fora entretanto retirada. Também foram detectados vestígios de esperma do homem, nas roupas da “maid” do Hotel Sofitel em NYC. No início do julgamento formou-se uma manifestação de “maids” dos hotéis, à porta do tribunal, à entrada de D.S.K.
Mas entretanto, nos últimos dias, há um volte face e a acusadora passa de vítima a criminosa provocadora, prostituta, passadora de droga, amante de um profissional do mesmo ramo e com uma conta bancária choruda, com depósitos feitos recentemente pelo suposto marido. O procurador de Manhattan, Cyrus Vance não consegue sustentar a credibilidade da mulher, o processo parece abanar, e correm rumores de que a queixa contra DSK vai acabar por ser retirada.
Ao mesmo tempo, a jornalista francesa Tristane Banon, que passou estes anos todos (seis) a tentar esquecer o assunto, volta acompanhada da mãe, que carrega nas tintas e chama não sei quê ao violador, quer reabrir o caso, pois segundo a lei francesa só prescreve ao fim de dez anos.
Parece-me que, há muito jogo de bastidores neste, como no caso O.J. Simpson. No caso O.J. pesou a opinião pública, concretamente a comunidade negra, que atemorizou o júri e que fez de tudo aquilo um braço de ferro, onde poderiam lavar a face e mostrar as garras ao poder, representado pela comunidade branca dos EUA.
Forças muito poderosas se agitam. DSK é um homem com um carisma extraordinário e o próprio Jack Lang vem defender a honra e o direito supremo de DSK se candidatar à presidência de França. A imprensa e a opinião pública francesa tomam o caso como uma injustiça praticada pelos brutamontes americanos, e querem salvar o orgulho francês, vilmente atacado , vilipendiado e insultado.
Cyrus Vance, o procurador de Nova York, filho do ex-secretário de estado da presidência de Jimmy Carter resiste, mas está capturado pela esmagadora pressão internacional e já se percebeu qual vai ser o desfecho de tudo isto.
José Luis Ferreira
Queluz, 7 Julho de 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário