O Banco Português de Negócios, um dos intervenientes nesta crise, pelos enormes buracos financeiros que criou |
Existe alguma confusão acerca do que se está a passar na zona euro. Não existe nenhuma crise do euro. O que se está a passar são “crises das dívidas soberanas”, se quisermos ser mais exactos, o que é uma coisa bem diferente. A moeda única continua forte, até demais, está entre as moedas mais fortes do mundo, com uma cotação acima do dólar, prejudicando de certa forma certas economias em dificuldade, que querendo fazer algum “dumping”, isto é, baixar o valor facial da moeda para facilitar as transacções e exportações (pois venderiam mais barato), como o tem feito a China, não o pode fazer, por estar presa às regras apertadas do sistema financeiro da União Europeia.
A UE é composta por vinte e sete países. É o maior projecto de bem-estar social comum-Welfare State- alguma vez experimentado pelo homem. Nos últimos cinquenta anos, após a II Grande Guerra, foi capaz de produzir os mais altos índices de conforto, inovação, riqueza, reformas e futuro garantido para milhões de cidadãos europeus. Alguns, poucos, como a Suécia, UK, Dinamarca, não aderiram à moeda única, e dentro daqueles que aderiram, só três, a saber: a Grécia, Portugal, a Irlanda e a Espanha (esta, sim e não), estão verdadeiramente em dificuldades. Portugal e a Grécia, viram na integração a galinha dos ovos de ouro que lhes iria catapultar para a esfera dos países mais ricos da Europa. Na Grécia, o patinho feio deste triunvirato, isto teve o efeito perverso de forma gigantesca e catastrófica, pois estes cavalheiros entretiveram-se a enganar tudo quanto era autoridade financeira mundial, apresentando números e orçamentos conspurcados e vivendo daquilo que não tinham. A Espanha é uma economia poderosa, com outra dinâmica, que mais facilmente contraria a tendência de afundamento e tem alguma protecção da Alemanha e do Banco Central Europeu, pois sabem que se a Espanha afunda será a catástrofe anunciada. A Irlanda tem uma crise bancária, que vem tentando resolver como pode.
O caso português é diferente. Se nos cingirmos à história dos últimos 30 anos, Portugal teve uma oportunidade de ouro para dar o grande salto em frente, quando após a integração na CEE, na década de oitenta (segunda metade) recebeu milhões e milhões de euros de fundos estruturais, para ajuda a empreendimentos, pontes, auto estradas, projectos de arquitectura e engenharia com financiamento da CEE, e realizações e formação empresariais. Concomitantemente as privatizações também renderam ao Estado milhões de euros. Isto criou nos portugueses uma sensação de riqueza (e realmente houve). Mas em vez de apostar forte na educação e na reconversão da economia, envolveu-se em débeis reformas e mais reformas da educação, todas frustradas e más, abandonou a agricultura e as pescas, por imposição da CEE e do seu sistema de quotas, e não tornou a indústria verdadeiramente competitiva, fazendo as transformações e fornecendo atractivos e facilidades aos grandes investimentos que se impunham e continuando a resguardar-se debaixo do guarda-chuva do Estado proteccionista. Ao invés, construiu uma rede de auto estradas iníquas e sem aproveitamento, fracas e de segunda categoria, dando de bandeja lucros fabulosos às construtoras. Quando acontece a queda do muro de Berlim, a implosão da URSS e a abertura da Ásia com os seus
mercados baratos e a sua mão-de-obra escrava, as grandes empresas multinacionais mudam-se para os países do Leste e para a Ásia, ficando Portugal com o menino nos braços, quero dizer sem agricultura, sem pescas e sem indústria. Somando a isto a ameaça dos países emergentes como a Brasil e a Índia, que lutam pelos mercados e apresentam bons índices de desenvolvimento, Portugal fica com um grave problema entre mãos.
Nos últimos anos, quando se poderia travar a queda em espiral, os dirigentes portugueses ficam cegos com a ânsia de “obras do regime” e disparam com empreendimentos megalómanos, arrastando sempre consigo grandes prejuízos para o Estado. É o regabofe das instituições e fundações, dos aconselhamentos e “advisers”, das “consulting firms” a preços faraónicos, das empresas mistas- as sociedades entre o Estado e entidades particulares que só trazem prejuízo para o erário público- são as obras públicas que sempre apresentam um enorme buraco e onde frequentemente acontecem derrapagens para além do orçamento inicial, etc, etc, etc. Portugal vai assim acumulando um défice macrocéfalo das contas públicas, ao mesmo tempo que se vai endividando nas instituições financeiras internacionais, pagando os altíssimos juros correspondentes. Some-se a isto o envelhecimento da população portuguesa e o aumento dos encargos do estado social, as gigantescas despesas com a saúde e o fraco Produto Interno Bruto (PIB) e temos o cocktail explosivo pronto a deflagrar.
Chegados que estamos aos anos da graça de 2010/2011, começam a soar os alarmes por todos os cantos e já não há dinheiro para mais nada.
Entretanto surge no terreno a grande pecha, o actor que realmente vai ditar o jogo e dar as cartas, e que são as grandes agências de notação financeira internacional. São elas de seu nome completo: Moody´s, Standard & Poor’s, e Fitch. Três grandes e poderosíssimas agências de “rating” que vêm tirando o sono aos portugueses.
E então que fazem estes senhores? Dão notas e avaliam o grau de risco que corre um credor ou investidor quando pensa comprar títulos da dívida pública aos países que precisam de se financiar. Montam um gráfico que vai do Triplo A ao lixo, e vão descendo implacavelmente, aplicando “downgrades” sucessivos conforme acham que é merecido. Resulta daqui que, à medida que vai descendo a avaliação que estes senhores fazem às economias em crise, mais vão
apertando o garrote, criando o ambiente necessário para que seja cortado o financiamento a esses países e obrigando-os à bancarrota, a entrar em “dafault”, que significa incumprimento ou incapacidade de pagar as dívidas contraídas, que é o caso da Grécia e do momento em que esta se encontra, e desconfia-se que é o caminho que Portugal vai seguir. Resta à Grécia pedir sucessivos financiamentos ao FMI, perguntando-se como irá pagar as astronómicas quantias de taxas de juro. Já vai no segundo empréstimo de 100 milhões de euros e não sabe quando irá parar.
Bom, mas qual é a solução para esta enorme e perigosa embrulhada? As economias funcionam como um sistema de vasos comunicantes e o efeito colateral por arrastamento e contágio poderá afetar outras economias da zona euro.
Diz o multimilionário americano George Soros, por excelêncio maior investidor em produtos da bolsa: “Trata-se apenas de uma luta entre sistemas ricos e pobres e os ricos estão a ganhar.” Apenas isto, nú e crú.
A Alemanha e a França, o eixo franco-alemão, o Banco Centra Europeu e a Comissão Europeia têm as rédeas da carruagem e podem reverter a direcção do comboio e evitar o descarrilamento. O BCE pode intervir conforme alguns economistas advogam, e instituir um sistema de “eurobonds”, que sãom obrigações de renda fixa, mas até agora tem a oposição da Alemanha que se vê farta e desesperada para deixar de apoiar as economias periféricas, com sucessivos “bailouts” e injecções de capital.
Outra solução de que também se fala consiste em a EU criar as suas próprias agências de avaliação, como inteligentemente já fez a China, para não ficar dependente dos parâmetros americanos.
Portugal entra em crise de nervos, pois há dois dias que a agência Moody´s baixa o rating português e dos bancos nacionais para lixo.
Em Portugal, não se compreende como a Comissão Europeia continua apática e em letargia total, perante o assalto e a verdadeira pirataria destas agências americanas.
Haverá outras soluções mas todas passam pela intervenção do BCE e da Alemanha, na pessoa da Chanceler Angela Merkel.
Vamos esperar para ver.
José Luis Ferreira
Queluz, 7 de Julho de 2011
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