Sr.Cardeal Ratzinger,
Não sou um homem religioso, a minha fé em Deus foi há muitos anos esvaziada, usurpada , pela vossa intromissão no domínio do sagrado e do religioso.Sempre desconfiei de que algo vai mal no vosso reino.Para mim Deus não tem emissários.Não mantenho diferendos insolúveis com o Criador que necessitem da vossa intermediação,num domínio tão particular e reservado como é a minha fé ou a ausência dela.Não é possivel serem vós próprios a investirem-se de tais poderes.
Dirijo-me a si usando uma terminologia fora dos cãnones religiosos.Talvez devesse usar o termo Sua Santidade,como é o mais aconselhável para quem se dirige a tão alta personalidade, mas não, vou tratá-lo como uma pessoa normal a quem foram designadas responsabilidades incomuns.
Há uma semana que venho lutando contra esta sensação de pura revolta, não consigo minimizar esta língua de fogo que me corta a visão e me atrofia os sentidos.Uma parede de gelo fino cortou como uma lãmina o braço que eu porventura estendia à sua Igreja. Definitivamente.
Num destes dias acordei com uma sensação bastante boa.Achava o mundo um lugar aprazivel, onde bastavam alguns retoques aqui e ali, certas correcções,alguns ajustes,espírito construtivo da parte das grandes potências,em dossiers importantes como a fome, o armamento e o desarmamento nuclear,a poluição,o mar ,o meio ambiente,o espaço,novas tentativas para chegar a consensos,boa vontade de todas as partes e podíamos continuar a desfrutar destes rios fabulosos,destas montanhas magnificas com as suas neves perpétuas,destes continentes virgens com os seus subsolos prenhes de riquezas fabulosas,prolongando indefinidamente no Tempo a nossa efémera passagem pelo planeta Terra. Para isso contariamos com o ser Humano,com a sua inteligência,com homens do gabarito de um Leonardo DaVinci ou Albert Einstein ou Bill Gates, e com a verticalidade prodigiosa de um Nelson Mandela, cuja abnegação e sentido de justiça seriam capazes de mover os glaciares da Antártida.
Mas nesse dia,logo nesse dia,uma notícia me fez perder esse capital de confiança e esperança acumulados.Dizia o jornal que numa diocese americana um padre abusou de 200 crianças surdas durante vários anos. E que o Sr. teve conhecimento dos factos.Um estremecimento percorreu-me a coluna vertebral.Uma sensação de pavor,de terror,de ódio,da mais profunda náusea contra a sua Igreja tomou conta do meu ser.Senti-me enganado, ultrajado, senti-me traído, vilipendiado, agredido, abusado.Uma dor imensa,uma mágoa profunda,um enjoo permanente persegue-me desde esse dia.
Ao longo dos séculos,Vas Exas.têm usado do poder desmesurado de que se investem,para cometer as maiores ignomínias de que é capaz a raça humana.Já não bastavam os conluios nas conquistas de Pizarro e Cortez no continente americano,onde a cruz de Cristo abençoava os maiores genocídios da História, não bastavam as cruzadas,a escravatura onde a sua Igreja sempre se pôs do lado do mais forte,salvo raras e débeis excepções,a Inquisição, o concubinato com os regimes fascistas de Franco, Salazar e Pinochet .Durante a ocupação nazi a sua Igreja pecou pela ausência de acções heróicas,não há relatos de padres opondo-se organizadamente e veementemente contra a besta assassina, como seria expectável da parte de gente com a vossa formação humanista.Os srs.não actuaram nem montaram núcleos e células ou redes de resistência em Aushwitz ou Buchenwald,onde se cozinharam quatro milhões de judeus e ciganos e estropiados e gente que não configurava o modelo hitleriano da raça ariana, como era a vossa obrigação. Pelo contrário, a parcimónia, a discrição, a neutralidade hipócrita e o equilibrio ambíguo,como no caso português, ou italiano com Mussolini foram a vossa marca mais impressiva.Suspeitas existem de colaboracionismo e simpatia aberta pela juventude hitleriana da vossa parte, tal como Kurt Waldeim (former UN secretary general) ou mais recentemente o seu compatriota Günter Grass.
Não bastava isto, este rol de “pecados” e eis que nos entra pela porta dentro mais um.Este de um tamanho inconmensurável.Não deve existir mais perdão para vós.Atinjiram o ponto de não retorno.A partir de agora também eu onde puder far-me-ei ouvir.
Há notícia de que por esse mundo fora,particularmente nos EUA,certas dioceses tem ido à falência e fechado portas devido aos montantes e às altas indemnizações que têm sido pagas às vitimas destes psicopatas. Para ressercir dos males que lhes foram causados?Não senhor, sr.Cardeal,para que calem a boca e para que não façam saber dos factos ocorridos.
Não bastam as desculpas e os discursos filosóficos onde nunca se assume frontalmente e directamente a culpa e nunca se condenam estes agressores.Não queremos ouvir que o padre tal e o arcebispo x mudaram de paróquia, não queremos mais a vossa velha maneira de discursar,os vossos axiomas, as vossa verdades que se demonstram por si mesmas.Nós do mundo, cidadãos normais queremos que estes srs. sejam entregues à justiça.Queremos condenações de 5,6, 7 ou 8 anos de cadeia efectiva para estes pedófilos.Seja em Portugal, seja em Boston, seja na Itália ou no Massechussets.Queremos que a vossa instituição seja a primeira a apontar o dedo a estes monstros.Garanto-lhe que este humilde povo da Terra não fará julgamentos em praça publica se é isso que teme.E já agora que cesse o compadrio , a relação incestuosa com os ministérios publicos e a policia que nunca denunciam não mandam averiguar,nunca investigam,nunca prendem quando se trata de mexer com a vossa instituição.Porquê?Porque é que há sempre esta cortina de silêncio, esta parede invisivel, este sistema de alçapões e escapatórias para ocultar os meandros desta sociedade secreta?Porquê estes fossos para onde caímos em processos inomináveis e absurdos,em que nunca nada compreendemos? Porque se comportam desta forma? O que esconde Cardeal Ratzinger?
O que tem a esconder sr.Cardeal? Que segredos guarda nas catacumbas do Vaticano?Porque V.Exa. se comporta como um padrinho da mafia siciliana,da camorra napolitana que esconde e proteje os seus afilhados?O sr.,o excelso Cardeal Ratzinger que excomungou o padre Leonardo Boff, o sr.,o dignissimo guardião da pureza de princípios e da fé, sempre tão dogmático,tão conservador,o sr.Cardeal sempre na linha da frente na condenação do aborto,do homossexualismo, defensor acérrimo do celibato,que não autoriza a ordenação da mulheres, o homem hipercultivado,que logo nos primeiros dias do seu pontificado soube,metódicamente, ofender o Islão, e que depois tentou disfarçar pela voz dos seus zelosos e iluminados secretários dizendo que apenas se inspirava em máximas do Alcorão,umas vezes ,outras que apenas dava novamente uma aula de filosofia, o que tenta esconder?
Que outros relatórios Murphy ainda não conhecemos?
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