Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sem papas na língua



Manuel José é um homem com ideias próprias. Não manda recados, não tem papas na língua, chama os bois pelos nomes. È idolatrado no Egipto e sabe retribuir esse carinho. Não pode sair à rua, tal é a popularidade que granjeou, e quando sai a pé, chega a reunir à sua volta cem ou duzentos adeptos do clube onde presta serviço. Algarvio dos sete costados, é portanto um homem com a coluna vertebral bem direita.

 Toda a gente sabe o que se passa no Egipto e todos viram na televisão os acontecimentos no estádio de futebol em Port Said, no nordeste, entre o Al Ahly, do Cairo - a equipa que M. J. lidera há muitos anos e que fez dela quatro vezes Campeão Nacional e vencedor de quatro Ligas dos Campeões Africanos, duas Supertaças de África e duas Supertaças do Egipto - e o Al Marsi, o que o torna o treinador com mais títulos internacionais do futebol português.
O Egito atravessa uma fase conturbada, tumultuosa, de golpes e contra golpes, ninguém sabe no que aquilo tudo vai desembocar e vozes a denegrir esse país são mais que muitas. O vox populi nestas alturas vai todo numa só direção: é gente incapaz e só querem é guerra, mortes e chacinas. Também é normal que assim seja, tudo nos leva a duvidar que realmente desejem paz e tranquilidade. Mas as grandes mudanças não se fazem só com palavreado e esperemos que a montanha não para um rato, nem que se dê razão a quem diz que é preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. 

Quando todos esperavam que M J. abandonasse o Egito, alegando falta de condições para trabalhar e com isso exigisse, como todos fazem, choruda indemnização ao Al Ahli, eis que M.J. surpreende-nos com a decisão de voltar já de seguida para perto dos descendentes de Tutankamon, novamente para as areias do deserto, para a terra de Abdel Nasser. Abordado pela imprensa à sua chegada ao aeroporto de Lisboa, M.J. faz um elogio rasgado ao povo egípcio, diz que é um povo caloroso, excecional e que ele próprio tem uma relação com eles de tal maneira intensa que não sabe bem donde é que surge tanta empatia. Faz-nos crer que os espíritos dos faraós se integraram na sua mente e o transformaram num agente da concórdia, acima do bem e do mal. Faz bem M.J., em ter esta forma de estar na vida, sempre independente, direto, frontal, não-alinhado com a previsibilidade e com as opiniões de quem não sabe, não se informa, mas tudo pensa conhecer, tudo pensa dominar.

 M. J. vai continuar no Egito, até quando nem ele sabe, talvez um dia pense passar a sua velhice entre as múmias e as pirâmides, mas uma coisa eu sei: M. J. é um príncipe dos desertos, um homem das Arábias.

 J.L.F.


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