Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Diário de Bordo

                                                                                 
                                                                                                                                             
Querido Diário:                                                                                              
                                                                                                                            
No princípio era o verbo e do verbo se fez expressão


Hoje é um dia diferente, o 1º dia das nossas vidas. Gosto deste dia. O dia em que nascemos e em que de cada vez que acontece, renascem as esperanças de que tudo se transformará com o alvorecer de uma nova manhã: “a new beginning”. Aos cinquenta e sete anos ainda não fazemos balanços nem inventários, queremos só que o tempo decorra lentamente, “in slow motion”. A memória nem sempre é seletiva, é como uma enxurrada, uma avalanche, trás consigo o bom e o mau, não escolhe os dias felizes e inesquecíveis, nem deixa pra trás os momentos mais amargos e que queremos esquecer a todo o custo.

 A criança que eu era ontem, é justamente a que sou hoje. Atrás de um sonho, olhando para a noite cintilante, para Cassiopéia, Orion ou para a Via Láctea. Para lá das montanhas, não à procura de milagres nem de profecias, mas sim de Justiça, Paz e Harmonia. A mais forte impressão que tenho de um aniversário, sucede aos dez anos, quando pedia à minha mãe uma calça de linho azul, com dois bolsos assim e assado e uma camisa de pregas, de manga comprida e o meu júbilo, quando os meus pais me conseguiam satisfazer os desejos.

 Pergunto-me hoje o que é um amigo, quanto valem aqueles ou aquelas que nos acompanham ao longo da vida, que estão ao nosso lado para o bem e para o mal. Pela sua raridade têm um valor incomensurável, não têm preço.  

 Amigo não é a mera casualidade de um cumprimento, de um bom dia, nem a banalidade de um encontro, ou a circunstância de um “parabéns”, mais ou menos afetuoso, no dia do teu aniversário.

Amigo é aquele que partilha e que arrisca, que nos impressiona pela sua constância, mesmo quando as vozes teimam em nos excluir. Eles, esses amigos, são raros, são como pedras preciosas e surgem donde menos esperamos. Trazem consigo gestos bondosos, que nos tocam profundamente. Rendemo-nos a eles e a partir daí sabemos que ali está um amigo verdadeiro.

 Dos outros, daqueles que esperamos alguma coisa, verificamos que se escondem no anonimato e se esquecem, ansiosos por passarem despercebidos, dando o mínimo esfarrapado e trocando a ordem das coisas e dos valores. Na ansia de querer parecer o que não são, são aquilo que não parecem e parecem aquilo que não querem parecer que são.

Amigo é a proteção constante, o escudo necessário, de que precisamos quando soam as trombetas da guerra.

Amigo sacrifica o seu sono, para velar o teu descanso, é a mão que cuida de te ajeitar o caminho para a glória do êxito.

Amigo é aquele que se apaga para que só o teu brilho ofusque a cidade.

Amigo escreve no cantinho da agenda e conta os dias e as horas que faltam para te encher a alma de calor, te enrubescer de felicidade e te rasgar a boca com sorrisos de gratidão. É o prazer puro e simples de dar, de se rever na tua alegria, é o ato fraterno e carinhoso de um beijo ou de um abraço caloroso nesse dia, e nunca a obrigação burocrática de um dever oficioso. Entre amigos não há orgulho, nem superioridade, não há plano inferior nem superior, porque o verdadeiro amor é isento, é o elo da cadeia que os liga inexoravelmente. O amor real, de que o Homem precisa, não está atrás de uma sacristia, nem nos alfarrábios eloquentes de metafísicas obscuras. Não basta apregoar o amor, a seguir deixarmo-nos dominar pela presunção e vivermos de mãos cerradas.

 Amigo não espera o dia para te ferir, mas antes se declara antecipadamente que está pronto para te acompanhar no jogo da vida. Do amigo esperas bastante, nunca menos, e essa expetativa é legítima porque é proporcional áquilo que és capaz e que tens para dar. Só assim os amigos se complementam e se completam, fechando o círculo do sagrado e encerrando o cofre dos tesouros incalculáveis.

Amigo não tem intermitências, é o pronto-socorro com sirene ligada.

Amigo é a urgência do ontem, a inevitabilidade do agora.

Amigo é a sede da água e a fome do pão.


Se encontrei a felicidade? Estou prestes a chegar ao lugar da pedra filosofal, da verdadeira alquimia. Aprendo todos os dias um pouco mais. Chegará o momento em que dominarei a arte de saber viver com o que a vida me põe á frente; caminhar por este mundo de sombras e luzes, sem sonhos de grandeza, nem atrás do supérfluo e do efémero. O meu “Santo Graal”, o cálice sagrado, contém uma biblioteca imaginária, uma arca cheia de livros e conhecimentos, onde cabes tu e todos aqueles que ao longo dos tempos vêm partilhando comigo alegrias e tristezas e que nunca abandonaram essa demanda a meio da jornada.


Para mim, será essa a suprema sabedoria e a felicidade total.

 21Fev2012

J.L.F.

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