Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


sábado, 17 de dezembro de 2011

Ainda o caso Rui Pedro


A actuação da Policia Judiciária, há cerca de catorze anos, na investigação ao desaparecimento de Rui Pedro é difícil de comparar com alguma coisa. É um caso típico do nacional saloismo português. Dificilmente se pode dar provas de tanta incompetência, desleixo e laxismo. É gente que se acoberta por detrás de uma instituição com méritos reconhecidos, se protege e aconchega num pseudo-patriotismo boçal.

Ontem, o telejornal mostrava e tentava entrevistar os agentes que intervieram no caso, à saída do tribunal onde foram narrar aquilo que (nada) fizeram. Um deles fugia, escondido pelas abas do guarda-chuva, envergonhado, um outro dava o dito por não dito, também tapando o rosto com o chapéu verde de bombazina; bastou-me olhar trinta segundos para as imagens para que eu próprio me sentisse constrangido com tanta falta de vergonha.

Partindo das chefias que nada pediam à equipa no terreno, aos inspectores, que hoje se escusam com a clássica desculpa da falta de meios, todos contribuíram para que agora, seja praticamente impossível saber-se o que realmente aconteceu. Provas ocultadas pelos investigadores, pistas que não foram seguidas, testemunhas excluídas e que não foram ouvidas por pura preguiça e incúria, este é o mais acabado exemplo de um processo onde toda a merda se acotovelou para melhor repousar à sombra da bananeira.

Mas uma coisa me emociona quando vejo a família do Rui Pedro: os olhos. Os olhos da mãe que há catorze anos procura incessantemente o seu filho, os olhos e a cara magoada e desiludida do pai, com os seus compatriotas, que lhe mentiam, sonegavam perícias e diligências, quando garantiam tudo estar a fazer. E o amor indefectível do avô, que desembolsava milhares e milhares de euros em investigações paralelas, tentando saber o que aconteceu ao seu querido neto e é enganado por um presidiário e por toda a gama de oportunistas que lhe garantiam saber do paradeiro da criança, e com ele toda a polícia judiciária, tudo aqui é mau demais e retrata o ambiente em Portugal na década anterior .

Tudo isto esteve ao nível das polícias ineficazes e inoperantes nas ditaduras do Magreb árabe. Se transpusessem esta história para o ambiente dos últimos anos no Egipto de Mubarak, não notava diferença nenhuma. Tudo é uma questão de mentalidade. Ainda há um longo caminho a percorrer.

J.L.F.

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