Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Neandertais como nós: ciência descobriu homens vaidosos, sensíveis e com jeito para a cozinha


Cientistas encontram cada vez mais semelhanças entre os antepassados do homem actual.

Em 2010 foram acrescentadas dezenas de páginas à pré-história. Algumas das quais uma surpresa sobre uma população que até aqui se pensava ser intelectualmente inferior. Para os investigadores, não sobram dúvidas de que os Neandertais seriam da mesma espécie que o homem moderno, o homo sapiens, apenas de raça diferente. Um exemplo: cozinhavam vegetais e usavam colares de conchas. Por perceber estarão outros detalhes do quotidiano - em parte por falta de financiamento, afirma ao i o especialista português João Zilhão.

Depois de décadas de caricaturas - e opiniões contracorrente como a do antropologista norte-americano Carleton Coon, que em 1939 ousou dizer que um Neandertal barbeado, de fato e chapéu, passaria despercebido no metro de Nova Iorque - o Neandertal só começou a receber o respeito intelectual há meia dúzia de anos. João Zilhão, recém-chegado ao departamento de Pré-História da Universidade de Barcelona, explica que a tese de que os Neandertais seriam inferiores aos homens modernos se manteve por exclusão de hipóteses: eram a espécie que não tinha sobrevivido, enquanto os primeiros evoluíram até hoje. "Percebeu-se que as diferenças genéticas que reforçavam a tese de espécies diferentes podem resultar do simples facto de, ao contrário da população actual, esta não ter passado pelos últimos 50 mil anos de evolução", explica.
Da confirmação das capacidades cognitivas aos vestígios arqueológicos que validaram uma dieta rica em vegetais confeccionados, a vida dos Neandertais tem vindo a somar contornos dignificantes - depois de uma longa passagem pela Europa, entre 300 mil a.C. e 37 mil a.C., segundo a última datação publicada por Zilhão. Penny Spikins, investigadora da Universidade de York, concorda que já não há dúvidas de que sejam da mesma espécie, até pelas evidências de miscigenação. E resume: "Apesar de uma diferença de aspecto exacerbada, por terem vivido um isolamento prolongado, eram uma raça. Contribuíram para o nosso património genético." O contributo foi visto ao detalhe dos genes em 2010: cada europeu, nos dias de hoje, herda 1% a 4% de ADN Neandertal.
Em aberto Ao i, Spikins explica que desde que descobriu que os Neandertais eram seres sociais - os machos mais unidos - pretendeu descobrir se a sociedade era bem disposta. "Adorava poder saber como eram quando conversavam, para lá da imagem séria com que são retratados sem justificação." Zilhão espera perceber porque é que em zonas específicas da Península Ibérica, Algarve e Sul de Espanha, terão coexistido com os homens modernos durante um período adicional de 5 mil anos. "Seria um ambiente diferente, recursos diferentes?" E diplomacia? "Para isso acho que nunca teremos resposta."
Depois do genoma, novas escavações parecem ser a melhor porta para o passado. "Na Península Ibérica só conhecemos uma pontinha do icebergue", diz o investigador. Em Portugal a situação é catastrófica: "Não há financiamento. Ou descobre-se por acaso ou então quando há obras públicas." Os vestígios serão abundantes. "Se pensarmos no mundo de há 50 mil anos, viveriam na Península Ibérica metade dos habitantes da Europa. De Paris para cima era tudo gelo."

In Jornal "I"

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