Trópico de Capricórnio

É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.


domingo, 11 de julho de 2010

Devemos rezar por Christopher Hitchens?

Semana passada soube-se que Christopher Hitchens, o famoso polemista que xingou Madre Teresa e disse que Deus não é tão grande assim, foi diagnosticado com um câncer no esôfago.
Como diria Conrado Soprano nesses momentos, foi surpreendido pelo big cassino.
Ou não: depois de anos gabando-se de suas bebedeiras, suas carreiras de cocaínas e seus experimentos em waterboarding, alguma coisa tinha de acontecer.
Mas isso é um pensamento vulgar para nos acomodar e – pior – nos confortar para algo que pode acontecer a qualquer um de nós.
Um dos colegas de Hitchens na revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg, faz a impertinente pergunta aos seus leitores mais crentes: Devemos rezar por Christopher?
Antes que os leitores carolas da Dicta resmunguem, este humilde escriba não hesita e diz que a resposta é sim.
Contudo, o texto de Goldberg, leve, ameno, com pitadas de ironias salpicadas até para o próprio doente, mostra sem saber um problema mais profundo: o fato de que, quando alguém se depara com a indesejada, não há outra maneira de enfrentá-la exceto… rezando. Mas para quem?
O detalhe dessa história é que quem se encontrou com a dita-cuja é um intelectual – e quando isso acontece com um, afeta todos os outros.
Afinal, o raciocínio é o seguinte: se aconteceu com ele, um sujeito que se vendia como alguém “bigger than life”, pode muito bem acontecer comigo.
Mas não era um intelectual qualquer. Era um intelectual que negava a possibilidade de qualquer perspectiva metafísica na vida cotidiana.
Logo, quando se está no portão da agonia, a quem apelar? A Deus, este conceito estranho que abarca algo que ninguém na História conseguiu entender direito? Aos deuses da medicina? Aos átomos de Epicuro? Ao Johnny Walker? Não, o intelectual se mantém fechado em sua auto-suficiência e apela para a ironia, para as seitas do Aloha-ei (se não entendeu a referência, leia o texto…) e, no fim, tudo isso se revela como disfarce para esconder a hubris.
O que é algo sintomático da nossa cultura. Se todos rezam por alguma coisa, quem será que vai te atender?
Devemos rezar por Christopher Hitchens? Sim, é óbvio. Mas creio que, antes de tudo, é melhor ter alguém para nos escutar (e, claro, escutá-lo).

In "Dicta & Contradicta" (Blog)

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