"Água Pesada"

Batinas ao vento,aí vem a padralhada! (Iª Parte)


Batinas ao vento,crucifixos polidos,botins engraxados e aí estão eles outra vez. Reclamam a linhagem de Pedro e Paulo.É o padre Ezequias,é o irmão Alberto,é o frade Tobias,é a irmã Anunciação. É a congregação do Espirito Santo,das agostinianas,das beneditinas,das scalabrinianas,das carmelitas descalças tão solteiras como um yogi eremita, a das almas penadas e das que vagueiam por aí envoltas em correntes,com horário fixo ou pós–laboral, assustando as velhinhas e as crianças,dos mortos e dos moribundos ,e dos que assim assim lá se vão aguentando,e dos acometidos de asma, e dos sarnentos,e da osteoporose e do sarcoma de kaposi.

E vem o bispo de sotaque sibilante,bilingue,ou atirando pedregulhos pela boca, ou falando com um acento dificil e complicado de italiano,dos corredores do Vaticano, de Case Cascina, de Napoli ou Abruzzo,Piemonte,ou vizelense e transmontano. Exalando cebola, spaghetti tagliatteli e alho, de arroto fácil e digestão complicada.

Reforce-se o contingente de hóstias que não faltará o tinto e o azeite dos lagares cristãos amigos, ou do Canedo de Braga. Paramentados com a casula, o cingulo e a tunica de linho ,por baixo tapando as partes vergonhosas com decorosos calções a bordejar os joelhos, aproveitando para esconder a carne rasgada e sangrada pelo aço cortante dos espigões e das navalhas,da velha tortura do cilicio,numa disfarçada comunhão antiga com o sacrificio e mortificação da Opus Dei, ou os mais soltos e arejados hábitos e capuz franciscanos e as seculares sandálias do pescador, ou trajando mundanamente com o toque calculado da modernidade,os funcionais fato e gravata do pronto a vestir creditado à Diocese.

Agitam-se atarefados, tresandam a cera, agua benta ,pia batismal e sacristia. Assaltados por vagas incontroláveis de paixão,amor,solicitude e nervoso miudinho,como adolescentes rosados e tocados pelos primeiros sinais da puberdade. A testosterona a correr em velocidade máxima,loucos de excitação beatífica, ditam pequenos discursos,frases amedrontadas e aterrorizadas pelo dogma da fé.

E eis-nos chegados ao dia. Já estão ligados os reactores do Boeig 777,nome de código Shepherd One,com o brasão dourado e as armas da Cidade do Vaticano.O grande chefe vem aí,o líder máximo de sorriso enigmático : Sua Santidade o Pontifice nostro Benedictus XVI, inquisitório, político, persecutório, que legisla e julga ele próprio.Mais poderoso que César,maior que Napoleão,maior que Gengis Cão,mais abrangente que Mao,mais justo que Saladino, mais sábio que Confúcio,o homem dos mil epigramas,cujos poderes intemporais,os duplos poderes, terreno e divino,da bula e da excomunhão,administra conforme convém. Ele,que, estando acima de qualquer força na Terra, transcende o poder,ele é o próprio Poder,ele é a Verdade única e suprema,ele está a chegar!”Esse homem que um dia...”,”...como ele soube pôr de lado...”,...”que nos ama ...”e... ”que tem resistido a tudo...”,”...travando batalhas...” ,”...que está cheio de dor...”,”...como ele sofre...”etc.etc.