
"... a Justiça continuou e continua a morrer
todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao
lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é
como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado,
para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de
esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de
teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu
que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que
sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma
justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o
mais exato e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão
indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do
corpo..."
José Saramago
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