Segundo atesta o laudo médico, publicado pelo jornal “L´Éxpress,” Nafissatou foi estuprada e agredida, apresentando ferimentos na zona da vagina. Também foi detectado o rompimento de um músculo no ombro da empregada do hotel e os fluidos seminais encontrados no seu corpo pertenciam a DSK. Durante a entrevista no hospital de Manhattan, ela manteve a mesma narrativa e apresentava um estado psicológico caracterizado como de “alerta,” diz o relatório médico, constituindo por isso evidências reais de tentativa de violação. Não houve portanto dúvidas nenhumas, da parte do corpo clínico que examinou a camareira. Com base nestes pressupostos, a NYPD (polícia de Nova York), obteve um mandato de detenção contra DSK.
Cyrus Vince, ao esvaziar a queixa de Nafissatou, teve em linha de conta o passado da suposta vítima e a vida trânsfuga e meia marginal da africana. Acusou-a de ter mentido à polícia de imigração, e de ter ligações a um traficante de droga. A figura jurídica “In dubio pro reo”( na duvida, a favor do réu ), ou a presunção de inocência, foi aqui usada no seu limite máximo, esticada conforme quiseram os advogados de DSK.
Para o procurador não foi relevante que não tenha havido oferta de dinheiro para o acto sexual consentido, como seria lógico; também não foi importante a fuga precipitada do hotel de DSK, sem marcação da viagem, para o avião em direcção a França, onde não há acordo de extradição, valendo-se apenas do seu estatuto diplomático. Cyrus Vince não levou a sério o passado de abusador sexual compulsivo de DSK, com várias queixas e testemunhos credíveis, que atestam os seus impulsos e a sua hiperactividade sexual.
Uma equipa de advogados de luxo, com a defesa de Michael Jackson no seu currículo, opera milagres. Contra um advogado desconhecido e titubeante, foi como mudar a fralda a meninos.
A vagina de Nafissatou
DSK está às portas do paraíso. Se chegar a tempo a França, antes de 9 ou 16 de Outubro, data das primárias do Partido Socialista Francês, e depois de resolver estes pequenos entraves, poderá escolher, entre duas lindas mulheres, quem irá apoiar. De um lado está Madame Martine Aubry, presidente da Câmara de Lille, filha de Jacques Delors e actual secretária-geral do PSF. Do outro terá Mademoiselle Segolene Royal, (linda!), candidata derrotada nas últimas eleições, contra Nicolas Sarkosy.
A ala direita do PSF rejubila, à espera de levá-lo em ombros. Reserva-lhe uma subida apoteótica pelos Champs-Elisées em direcção ao Arc de Triomphe.
Daniel Cohn-Bendit já lhe escancarou as portas para o seu regresso.
A quem DSK resolver dar o seu apoio, tem a liderança do Partido garantida, quiçá o Palácio do Eliseu, a presidência da República Francesa.
É este o poder incomensurável da mediatização à escala global.
A vagina de Nafissatou Diallo merecia algum descanso e uma reforma discreta e tranquila, longe dos holofotes, por ter dado uma pequena ajuda.
José Luis Ferreira
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