Trópico de Capricórnio
É a linha geográfica imaginária situada abaixo do Equador. Fica localizada a 23º 26' 27'' de Latitude Sul. Atravessa três continentes, onze países e três grandes oceanos.
sábado, 31 de março de 2012
"Elogio ao Amor", por Miguel Esteves Cardoso
“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso
quinta-feira, 29 de março de 2012
The shooting of Trayvon Martin
Trayvon acabara de sair de uma loja de conveniência, não estava armado e vestia uma camisola com capuz.
Ontem, o congressista do Partido Democrata Bobby Rush, eleito pelo estado do Illionois desde 1993 e antigo membro do grupo Panteras Negras na década de 1960, encenou um protesto em pleno Congresso, ao discursar vestido com um capuz e óculos escuros. "A discriminação racial por parte das autoridades tem de acabar, sr. presidente", declarou o congressista, afirmando depois que "o facto de alguém usar um capuz não faz dele um vadio".
Trayvon Martin, de 17 anos, foi morto numa noite chuvosa quando saiu de casa para ir a uma loja de conveniência. George Zimmerman, o voluntário encarregado da vigilância nocturna de um condomínio privado em Sanford (um subúrbio de Orlando), suspeitou de Trayvon e alertou a polícia. A polícia disse-lhe que ia enviar um agente e pediu-lhe para não fazer nada. Mas Zimmerman seguiu Trayvon. Zimmerman diz que Trayvon tentou atacá-lo. Zimmerman estava armado, Trayvon não. As únicas coisas que tinha consigo eram o pacote de rebuçados e a lata de chá gelado que comprara na loja de conveniência. Trayvon morreu com uma bala no peito.
Zimmerman, de 28 anos, alegou ter atirado em legítima defesa. A polícia disse não ter encontrado nenhum indício que demonstrasse o contrário e deixou Zimmerman partir sem sequer incriminá-lo. Caso encerrado.
Isto aconteceu há quase um mês, a 26 de Fevereiro. Mas o que começou por ser uma história de crime local adquiriu proporções nacionais na última semana. Trayvon Martin era negro, George Zimmerman é branco. A sensibilidade racial do caso trouxe ao de cima memórias da era dos direitos civis na América. Na quarta-feira, os pais de Trayvon, Tracy Martin e Sybrina Fulton, participaram numa marcha com cerca de mil pessoas em Nova Iorque, muitas delas encapuzadas, numa homenagem a Trayvon, que usava uma camisola com capuz na noite em que foi morto. Objectivo: exigir a investigação do caso. Na quinta-feira à noite, umas 30 mil pessoas concentraram-se em Sanford. Há várias concentrações do género noutras cidades americanas anunciadas no Facebook para os próximos dias. Uma petição lançada pelos pais de Trayvon no siteChange.org tinha até ontem quase um milhão e meio de assinaturas e o número estava a crescer rapidamente.
Anteontem, na sua primeira página, o Washington Post referia-se ao início de um movimento.
O Departamento de Justiça, chefiado pelo afro-americano Eric Holder, decidiu investigar os acontecimentos, incluindo a forma como as autoridades locais actuaram. E ontem o Presidente garantiu que o caso será investigado até às últimas consequências. "Se eu tivesse um filho, ele seria parecido com o Trayvon", disse Obama.
A raça importa
"Isto é mais um exemplo de como a América não vive numa era pós-racial", diz ao PÚBLICO Andra Gillespie, professora de Ciência Política na Emory University, na Georgia (Atlanta), especializada em questões raciais. "Toda a gente pensava que quando o Presidente Obama fosse eleito ia ser o fim do racismo e a questão da raça deixaria de ter importância. Mas a raça importa e custou a vida a este jovem."
Não existem muitos detalhes sobre o que aconteceu na noite de 26 de Fevereiro. George Zimmerman, o homem que disparou sobre Trayvon Martin, nunca falou publicamente sobre o caso. Sabe-se que mudou de casa depois de, alegadamente, ter recebido ameaças de morte. O seu pai, Robert Zimmerman, enviou uma carta ao jornal Orlando Sentinel negando acusações de que George é racista. Ele nota que George é um hispânico "com muitos familiares e amigos negros" e que "seria a última pessoa a discriminar alguém por qualquer razão".
A polícia de Sanford divulgou publicamente a gravação do telefonema que George Zimmerman fez para o 911 nessa noite - e que tem alimentado o debate sobre se a sua actuação foi ou não motivada por questões raciais. No telefonema, Zimmerman descreve "um tipo muito suspeito", que "parece estar a preparar alguma ou estar sob o efeito de drogas". Mas o comportamento de Trayvon não parece particularmente suspeito ou ameaçador. Zimmerman diz que "está a chover e ele está a andar e a olhar em volta". A certa altura, Zimmerman nota que Trayvon começou a correr. "Você está a segui-lo?", perguntam-lhe do outro lado da linha. Zimmerman responde afirmativamente. "OK, não precisamos que faça isso." Essa é a mesma gravação que a CNN tem dissecado nos últimos dois dias, para tentar determinar se Zimmerman murmurou ou não um particular epíteto racista durante o telefonema. Apesar dos esforços, o resultado não é conclusivo. Mas, para muitos comentadores afro-americanos, o caso tem um ar de familiaridade. "Para qualquer homem negro na América, do milionário ao mecânico, a tragédia de Trayvon Martin é pessoal. Podia ter sido eu ou um dos meus filhos. Podia ter sido qualquer um de nós", escreveu Eugene Robinson, colunista do Washington Post. Touré, um escritor e jornalista que publicou recentemente um livro sobre a América pós-racial, comentou na revista Time: "A masculinidade negra é uma condição potencialmente fatal."
Numa altura em que o racismo é socialmente condenado, o caso Trayvon Martin parece reflectir um factor mais enraizado na cultura popular americana: a percepção de um negro como uma figura ameaçadora. "Os Estados Unidos têm uma história infeliz de discriminação racial, em que os negros são vistos como sendo mais propensos à criminalidade. Por isso, mesmo que tenham um comportamento normal e rotineiro, têm de lidar com o estereótipo de que estão prestes a cometer um crime", diz Andra Gillespie. Charles Blow, um colunista do New York Times, chamou-lhe "o fardo dos rapazes negros". É por isso que alguns pais afro-americanos ensinam os seus filhos adolescentes a não correr em público com algo nas mãos - para que ninguém pense que cometeram um roubo.
O Departamento de Justiça decidiu abrir o seu próprio inquérito em conjunção com o FBI, depois de as críticas dirigidas ao Departamento de Polícia de Sanford terem subido de tom nas últimas semanas. Mas especialistas notam que muito dificilmente o caso poderá ser julgado como um crime federal. A lei federal de 1964 penaliza crimes de ódio motivados por questões raciais, mas o homicídio de Trayvon Martin não parece aplicar-se a nenhum dos cenários previstos, nota ao PÚBLICO Stephen A. Saltzburg, professor na Faculdade de Direito da Universidade de George Washington.
Um tribunal local da Florida também está a analisar o caso - um grand jury deve pronunciar-se a 10 de Abril sobre a eventual abertura de um processo judicial. Saltzburg acredita que a intenção do Departamento de Justiça é, sobretudo, pressionar o estado da Florida. "O Governo federal está a tentar que a Florida faça o que deve fazer. É verdade que o chefe da polícia de Sanford resolveu tirar uma licença sem vencimento hoje? Quer dizer que está a resultar."
O chefe da polícia Bill Lee anunciou quinta-feira que se ia afastar temporariamente das suas funções. Horas depois, o governador da Florida, Rick Scott, anunciou que o procurador estadual encarregado do caso também se tinha retirado e indicou o nome da nova procuradora.
A morte de um adolescente afro-americano na Florida está a gerar um debate sobre o estado das relações raciais na América na era Obama.
A morte do adolescente Trayvon Martin continua a agitar a sociedade norte-americana. O jovem afro-americano, de 17 anos, foi morto na noite de 26 de Fevereiro com uma bala no peito disparada por George Zimmerman, um voluntário que fazia a vigilância nocturna num condomínio privado em Sanford, nos subúrbios de Orlando. Trayvon acabara de sair de uma loja de conveniência, não estava armado e vestia uma camisola com capuz.
Ontem, o congressista do Partido Democrata Bobby Rush, eleito pelo estado do Illionois desde 1993 e antigo membro do grupo Panteras Negras na década de 1960, encenou um protesto em pleno Congresso, ao discursar vestido com um capuz e óculos escuros. "A discriminação racial por parte das autoridades tem de acabar, sr. presidente", declarou o congressista, afirmando depois que "o facto de alguém usar um capuz não faz dele um vadio".
Zimmerman, de 28 anos, alegou ter atirado em legítima defesa. A polícia disse não ter encontrado nenhum indício que demonstrasse o contrário e deixou Zimmerman partir sem sequer incriminá-lo. Caso encerrado.
Isto aconteceu há quase um mês, a 26 de Fevereiro. Mas o que começou por ser uma história de crime local adquiriu proporções nacionais na última semana. Trayvon Martin era negro, George Zimmerman é branco. A sensibilidade racial do caso trouxe ao de cima memórias da era dos direitos civis na América. Na quarta-feira, os pais de Trayvon, Tracy Martin e Sybrina Fulton, participaram numa marcha com cerca de mil pessoas em Nova Iorque, muitas delas encapuzadas, numa homenagem a Trayvon, que usava uma camisola com capuz na noite em que foi morto. Objectivo: exigir a investigação do caso. Na quinta-feira à noite, umas 30 mil pessoas concentraram-se em Sanford. Há várias concentrações do género noutras cidades americanas anunciadas no Facebook para os próximos dias. Uma petição lançada pelos pais de Trayvon no siteChange.org tinha até ontem quase um milhão e meio de assinaturas e o número estava a crescer rapidamente.
Anteontem, na sua primeira página, o Washington Post referia-se ao início de um movimento.
O Departamento de Justiça, chefiado pelo afro-americano Eric Holder, decidiu investigar os acontecimentos, incluindo a forma como as autoridades locais actuaram. E ontem o Presidente garantiu que o caso será investigado até às últimas consequências. "Se eu tivesse um filho, ele seria parecido com o Trayvon", disse Obama.
A raça importa
"Isto é mais um exemplo de como a América não vive numa era pós-racial", diz ao PÚBLICO Andra Gillespie, professora de Ciência Política na Emory University, na Georgia (Atlanta), especializada em questões raciais. "Toda a gente pensava que quando o Presidente Obama fosse eleito ia ser o fim do racismo e a questão da raça deixaria de ter importância. Mas a raça importa e custou a vida a este jovem."
Não existem muitos detalhes sobre o que aconteceu na noite de 26 de Fevereiro. George Zimmerman, o homem que disparou sobre Trayvon Martin, nunca falou publicamente sobre o caso. Sabe-se que mudou de casa depois de, alegadamente, ter recebido ameaças de morte. O seu pai, Robert Zimmerman, enviou uma carta ao jornal Orlando Sentinel negando acusações de que George é racista. Ele nota que George é um hispânico "com muitos familiares e amigos negros" e que "seria a última pessoa a discriminar alguém por qualquer razão".

Numa altura em que o racismo é socialmente condenado, o caso Trayvon Martin parece reflectir um factor mais enraizado na cultura popular americana: a percepção de um negro como uma figura ameaçadora. "Os Estados Unidos têm uma história infeliz de discriminação racial, em que os negros são vistos como sendo mais propensos à criminalidade. Por isso, mesmo que tenham um comportamento normal e rotineiro, têm de lidar com o estereótipo de que estão prestes a cometer um crime", diz Andra Gillespie. Charles Blow, um colunista do New York Times, chamou-lhe "o fardo dos rapazes negros". É por isso que alguns pais afro-americanos ensinam os seus filhos adolescentes a não correr em público com algo nas mãos - para que ninguém pense que cometeram um roubo.
O Departamento de Justiça decidiu abrir o seu próprio inquérito em conjunção com o FBI, depois de as críticas dirigidas ao Departamento de Polícia de Sanford terem subido de tom nas últimas semanas. Mas especialistas notam que muito dificilmente o caso poderá ser julgado como um crime federal. A lei federal de 1964 penaliza crimes de ódio motivados por questões raciais, mas o homicídio de Trayvon Martin não parece aplicar-se a nenhum dos cenários previstos, nota ao PÚBLICO Stephen A. Saltzburg, professor na Faculdade de Direito da Universidade de George Washington.
Um tribunal local da Florida também está a analisar o caso - um grand jury deve pronunciar-se a 10 de Abril sobre a eventual abertura de um processo judicial. Saltzburg acredita que a intenção do Departamento de Justiça é, sobretudo, pressionar o estado da Florida. "O Governo federal está a tentar que a Florida faça o que deve fazer. É verdade que o chefe da polícia de Sanford resolveu tirar uma licença sem vencimento hoje? Quer dizer que está a resultar."
O chefe da polícia Bill Lee anunciou quinta-feira que se ia afastar temporariamente das suas funções. Horas depois, o governador da Florida, Rick Scott, anunciou que o procurador estadual encarregado do caso também se tinha retirado e indicou o nome da nova procuradora.
A morte de um adolescente afro-americano na Florida está a gerar um debate sobre o estado das relações raciais na América na era Obama.
In "Publico" 29.03.2012
Morreu Millôr Fernandes, aos 87 anos, no Rio de Janeiro
Morreu Chico Anysio
terça-feira, 27 de março de 2012
James Cameron desce ao vale Challenger Deep, na Fossa das Marianas
segunda-feira, 26 de março de 2012
quarta-feira, 14 de março de 2012
Shimon Peres: "Be My Friend For Peace "
Habitualmente sisudo, o Presidente do Estado de Israel, Shimon Peres, aparece neste video-clip afável e descontraído. Será Israel a tentar mudar a imagem de país armamentista e opressor? Agora que há rumores de um ataque às instalações nucleares do Irão, por parte de Israel, esta iniciativa traz alguma distenção.
França: Campanha Presidencial
Nicolas Sarkosy, lider da UMP ( União para o Movimento Popular), recorre ao tema da imigração e supera François Hollande, o candidato do Partido Socialista. Pela primeira vez desde o início da pré-campanha para as presidenciais de Abril, o Presidente francês, aparece à frente dos outros candidatos, na preferência dos eleitores – um desempenho que consegue depois de atacar a União Europeia e defender limites mais rígidos à imigração.
Nicolas Sarkozy só no mês passado oficializou a recandidatura , mas aproveitou a última semana para divulgar um conjunto de medidas controversas, como a introdução de um imposto para os lucros dos grandes grupos económicos ou a redução, para metade, das autorizações de residência atribuídas anualmente a estrangeiros.
Admitiu igualmente retirar a França do espaço Schengen se o acordo de livre circulação europeia não for revisto no sentido de endurecer o combate à imigração ilegal. Ainda no domínio europeu, defendeu a introdução de medidas de protecção da indústria comunitária, mesmo que para tal seja necessário recuperar algumas barreiras à importação. As proposta foram denunciadas pelos socialistas – que as apelidou de populistas – e pela extrema-direita, que acusou Sarkozy de aproveitamento eleitoral.
Admitiu igualmente retirar a França do espaço Schengen se o acordo de livre circulação europeia não for revisto no sentido de endurecer o combate à imigração ilegal. Ainda no domínio europeu, defendeu a introdução de medidas de protecção da indústria comunitária, mesmo que para tal seja necessário recuperar algumas barreiras à importação. As proposta foram denunciadas pelos socialistas – que as apelidou de populistas – e pela extrema-direita, que acusou Sarkozy de aproveitamento eleitoral.
domingo, 11 de março de 2012
Histeria Coletiva
Ao contrário do que é voz
corrente, não considero que as palavras do Sr. Presidente da República, no
prefácio do seu livro “Roteiros”, sejam particularmente ofensivas para a idoneidade
e dignidade do Partido Socialista, nem tão pouco extemporâneas ou desadequadas,
relativamente aos tempos difíceis que o país atravessa. Também não são de modo
algum geradoras de fraturas e clivagens na sociedade portuguesa e não é por
isto que se deixarão de conseguir consensos, entre o Partido Social Democrata e
o Partido Socialista, em áreas fundamentais da ação governativa. O PS assinou o
Memorando de Entendimento da Troika e, de uma forma responsável, não pensa
quebrar o acordo.
É absolutamente necessário que
conheçamos a verdade. Quanto a mim, esta análise vem no momento certo e no
local devido, quando o Presidente faz o resumo daquilo que foi o exercício do
mandato presidencial, no ano transato, tendo portanto todo o direito de
apresentar a sua versão dos fatos, mostrando ao país neutralidade e isenção e
que não está dependente dos jogos partidários, nem preocupado em beneficiar a
sua imagem. Ao entrar no segundo ano do último mandato, o Presidente vai
começando a fazer o balanço e aproveita para clarificar algumas zonas desconhecidas.
Espero, sinceramente, que nada fique por dizer e que a verdade venha à tona,
custe o que custar, doa a quem doer. Não se trata de um ajuste de contas com a
figura do ex-PM, nem tão pouco é um libelo acusatório contra o governo de José
Sócrates. Agora que já passou o período de maior turbulência e indefinição,
quando, bruscamente, tivemos consciência da situação e o país se mostrava
ansioso e especulava sobre qual seriam as imposições da troika, é altura para
se abrir o jogo e conhecermos algumas coisas do que foram os últimos meses,
antes da chegada da ajuda externa. Pelo que se sabe, já entramos numa espécie
de velocidade de cruzeiro, Portugal tem vindo a cumprir o memorando da troika,
a avaliação tem sido positiva e têm sido disponibilizadas as tranches, sem
sobressaltos. Segunda a Diretora do FMI, Cristine Lagarde, parecem estar
dissipadas as nuvens cinzentas da crise sistémica, que ameaçavam a Europa.
Portugal é um país onde a culpa
morre sempre solteira. O antigo PM é um homem acuado por todos os lados e mais
alguns. Suspeições, desconfianças, acusações veladas ou meio provadas, são o
quotidiano, o anedotário nacional e o prato forte da imprensa portuguesa;
cursos, formaturas e diplomas conseguidos em locais e horas duvidosas,
telefonemas e pressões sobre a comunicação social, somas avultadas de dinheiro,
que aparecem em contas de familiares localizadas em paraísos fiscais, escutas
em que é citado e que são mandadas destruir por zelosos juízes do Supremo
Tribunal de Justiça; é a má governação, é uma queda especial para a
mediocridade e para a prepotência, com ambições e tiques ridículos de grande
líder europeu, tudo isto José Sócrates passeou gloriosamente pelo país,
seduzindo alguns, afrontando outros.
Por má governação, o Primeiro-Ministro
da Islândia, Geir Haarde, está a ser julgado por um tribunal especial, para
determinar a sua responsabilidade no colapso do setor bancário e que afundou a
Islândia numa grave crise económico-financeira.
Por pressões sobre a comunicação social e por ter usufruído de férias em casa de um empresário do cinema, numa ilha do mar do Norte, quando ainda era primeiro-ministro da Baixa Saxónia, tendo em contrapartida, o Ministério das Finanças alemão avalizado um empréstimo para a empresa desse empresário amigo, na altura em que ambos desfrutavam juntos o Verão, o Presidente alemão Christian Wulff demitiu-se há poucas semanas.
Por pressões sobre a comunicação social e por ter usufruído de férias em casa de um empresário do cinema, numa ilha do mar do Norte, quando ainda era primeiro-ministro da Baixa Saxónia, tendo em contrapartida, o Ministério das Finanças alemão avalizado um empréstimo para a empresa desse empresário amigo, na altura em que ambos desfrutavam juntos o Verão, o Presidente alemão Christian Wulff demitiu-se há poucas semanas.
O eng. José Sócrates ludibriou os
portugueses, quando apresentou na União Europeia o PEC IV, sem previamente
informar as outras forças partidárias, das posições que iriam ser tomadas pelo
executivo em Bruxelas, num desrespeito pela prática da Assembleia da República.
Do que se queixa o Sr. Presidente da República, é exatamente do mesmo que, na
altura destes acontecimentos, suscitou enorme celeuma e o maior
descontentamento e repúdio por parte da oposição, levando à rejeição do
programa e cavando irremediavelmente um fosso, o que levou ao pedido de
demissão do PM e à consequente dissolução do Parlamento por parte do Presidente da República. Eis o que consta do
prefácio no livro “Roteiros:”

Com acesso ou não a toda e qualquer ionformação adicional, da parte do Banco de Portugal, desde que fosse solicitada pela Presidência da República, esta não deixaria de ser à mesma uma falta grave cometida pelo ex-PM.
Mais à frente, o Prof. Cavaco Silva explica porque anteriormente não dissolveu a Assembleia de República:
“Neste quadro constitucional, …o que se tem verificado, na prática, é os Presidentes da República dissolverem o Parlamento quando entendem que o Governo já não reúne condições para se manter em funções.
Os Portugueses sabem que sou um defensor da estabilidade política, ainda que não a qualquer preço. Mas, como já declarei várias vezes, considero que, gozando o Governo da confiança da Assembleia da República, perante a qual responde politicamente, só em circunstâncias excecionais deve o Presidente proceder à dissolução do Parlamento. Se esta leitura da Constituição é válida em tempos de normalidade, ela ganha relevância acrescida sempre que o País se vê confrontado com uma situação financeira, económica e social que, pela sua inusitada gravidade, reclama ponderação, equilíbrio e sentido de Estado por parte de todos os agentes políticos.
Desde que assumi funções como Presidente da República foram rejeitadas todas as moções de censura ao Governo votadas na Assembleia, incluindo na fase em que o Executivo dispunha apenas de maioria relativa. Os partidos da oposição, embora manifestassem sérias reservas quanto à confiança política que o Governo do Partido Socialista lhes inspirava, não só não rejeitaram o Programa de Governo que este apresentou, na sequência das eleições de 2009, como, em nenhuma ocasião, aprovaram na Assembleia da República uma moção de censura ao Executivo.
Na profunda reflexão que fiz, e que não deixou de atender à circunstância de me encontrar constitucionalmente impedido de dissolver a Assembleia nos últimos seis meses do meu mandato, concluí que não se verificava o pressuposto constitucionalmente necessário para demitir o Governo, já que o regular funcionamento das instituições não se encontrava em causa.”
O Dr. Mário Soares, na qualidade
de fundador do PS, com o seu natural instinto político e a sua conhecida
aptidão para retirar dividendos e louros das mais inesperadas situações, já
revelou que teve uma longa e acesa discussão com o eng. Sócrates, intimando-o,
quase, a solicitar a ajuda externa, pois encontrávamo-nos à beira do precipício
e não há notícia de que alguém, da direção do PS, se tenha insurgido e
criticado, de forma veemente o Dr. Mário Soares.
O PS não se deve mostrar
atingido. Afinal foi o PS quem governou (mal), encaminhando-nos para uma
situação de rutura das finanças públicas, à beira da bancarrota. Esta é que é a
realidade. Tentar mascarar isto é pura demagogia, fuga à responsabilidade
histórica e uma tentativa de encobrimento do passado, através de uma gritaria
inusitada. Aliás, demonstra mesmo completa imoralidade, quando a obrigação de
alguns responsáveis do anterior executivo seria mesmo fazer “mea culpa”,
admitindo que aqui e ali foram cometidos erros e excessos. Talvez dessa forma
ajudassem a limpar a imagem, que se formou dos dirigentes políticos,
desacreditados e apodados de incompetentes, transformando a política, aos olhos
dos seus concidadãos, num mero exercício de distribuição de favores e
administração de interesses.
O Dr. Pedro Silva Pereira,
ex-ministro da Presidência, não tem razão, quando vem a terreiro defender o
governo do seu ex-PM, José Sócrates. Ao boneco de Geppetto, Pinocchio,
crescia-lhe o nariz, quando mentia. Pedro Sila Pereira mentiu, quando no
exercício das suas funções ministeriais não disse aos portugueses qual a
verdadeira situação financeira do país. Não venha agora mostrar-se novamente
angelical, como foi o seu desempenho teatral e o seu discurso, ao longo dos
últimos anos. Para esse peditório já demos. Também esperava algo mais ponderado
de Francisco Assis, que não embarcasse cegamente na defesa do PS e de toda a
direção do Partido. É mau e demonstra falta de independência do pensamento
político, da parte de alguém que vínhamos a seguir e respeitar, como um dos
principais teóricos do partido.
Tem havido nos últimos tempos uma
espécie de histeria coletiva, contra qualquer ação do Presidente da República,
empolando-se tudo o que diz e escreve e exacerbando-se a raiva contra ele. Se
alguma falha houve quando o Presidente se queixou da sua magra reforma, já não
penso que ele se deva submeter - e com ele a dignidade do alto cargo que
desempenha - ao enxovalho de algumas dúzias de adolescentes ranhosos que o
esperavam à porta da Escola António Arroio. Que diriam se o Presidente fosse
brindado com um pacote de farinha e os mais escabrosos insultos? Não, não é por
aí que mostramos a nossa liberdade democrática ou se consegue alterar a forma
de estar e de pensar do Prof. Cavaco Silva.
José Sócrates teve uma época de
intensa luta contra alguns lobbies e interesses instalados; efetuou reformas
importantes, como aliás foi admitido pelo próprio presidente, que chegou a
apelidar o governo de reformista. Mas o autoritarismo, a repetição até á náusea
dos mesmos clichés políticos e o percurso em círculo, levaram-no a um
labirinto, onde se aprisionou e não conseguiu encontrar a saída airosa, ensaiando
uma fuga para a frente, em terreno cada vez mais traiçoeiro e pantanoso e que
nunca quis admitir.
Hoje José Sócrates vive em
França, estudando e aumentando a sua cultura em Filosofia. Voltará um dia à
vida política ativa, esperemos que menos confuso, mais esclarecido e seguro,
menos prepotente, com mais honestidade e simplicidade na sua ligação aos
verdadeiros interesses coletivos do seu país. Só lhe fará bem. Como homem na
sua dimensão humana integral e como político, naquilo que a política tem de
mais nobre.
J.L.F.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Pobreza

O Dr. Basílio Horta faz muito bem, em impor a sua autoridade, em mostrar o seu descontentamento e a sua irritação, com estas medidas e com o rumo que algumas coisas levam. Já se percebeu que o governo PSD/CDS tem uma forte tendência para resvalar, numa deriva perigosa, para um tipo de sociedade onde os ricos se perpetuam incólumes e os pobres viverão das esmolas, das sopas e dos cartões de racionamento, catalogados e registados nos serviços da Segurança Social.
Com o agravamento das taxas da saúde e com o corte nas pensões dos reformados, já temos um aumento exponencial do número de mortos; e porque o Estado baixou a fasquia do critério e da exigência, fabricando leis que permitem o elevar do número de idosos nas instituições de caridade, temos agora também os utentes amontoados em lares de duvidosa qualidade. O mesmo para as creches, onde idênticas medidas terão efeitos e consequências nefastas para as crianças, a breve prazo.
Em tudo o que este governo mexe, logo põe a nu a crueza da desigualdade social, o estigma e o ferrete da condição de pobre, da indigência e da pobreza rotulada e afixada em tabuleta. Em vez de uma sociedade tendendo para a igualdade transversal dos cidadãos, temos o corte longitudinal e abrupto dividindo o tecido social, gerador de descontentamento e mal-estar.
J.L.F.
segunda-feira, 5 de março de 2012
A Cortina de Ferro
Sir Winston Churchill recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 195 pela suas memórias de guerra e pelo seu trabalho literário e jornalistico, antes de ocupar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido.
Em 1963, aos 89 anos foi homenageado com o título de cidadão honorário dos Estados Unidos, pelo então presidente John Kennedy.
Morreu em Hide Park Gate, em Londres a 24 de janeiro de 1965.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Ressonâncias e Reverberações
"Nenhuma lei deve ser obedecida se for injusta, nenhuma regra deve ser obedecida se desprezar a virtude, nenhum regime político deve ser obedecido se for tirânico e assassino".

Além do volte face nas declarações, das contradições das testemunhas e da negação pura e simples, publicamente, do que anteriormente fora dito e que não é tomado em linha de conta, porque, segundo a lei, não existe matéria de fato suficientemente relevante que leve à revisão do processo, o que já de si é limitador do exercício do direito de defesa dos arguidos; assim, como se tudo isto não bastasse, eis senão quando a magistratura portuguesa vem inovar e inaugurar um novo código ético e de valores, para a Justiça.
A sra. juíza que preside ao coletivo de juízes neste caso,
condena um indivíduo, não por fatos e provas reais, objetivas e cientificamente
comprovadas, mas porque pressentiu uma “ressonância da verdade”, nesses
testemunhos. É exatamente esta, a expressão usada no acórdão que dita a
sentença do arguido Carlos Cruz. O que já era complicado, mais tortuoso e
sombrio se tornou. Poderá a justiça tornar-se uma complicada teia e um enredo de
formulações de palpites, sensibilidades e pressentimentos? Se esta figura de
estilo e esta linguagem fizerem história, tornando-se frequentes no léxico
jurídico, ou se porventura se transformarem em jurisprudência, teremos vitimas,
defesa e ministério público a formularem os seus depoimentos, a partir dos
mesmos pressupostos.
Veremos um julgamento nestes termos:
- baseando-me na minha experiência de anos de pressentimentos…
- meritíssimo juiz, a testemunha acusa o meu constituinte
baseada numa suposição e numa mera intuição de que iria ser violada..
- a testemunha está no pleno uso das suas prerrogativas
legais e constitucionais, vejo uma ressonância da verdade no que diz a
testemunha, portanto condene-se o réu!
Numa era em que cada vez mais, nos países do primeiro mundo, a
justiça é baseada na ciência forense, em recolhas de ADN, em análises médicas e
perícias microscópicas de tecidos, fibras e fluidos, na prova inequívoca, em suma, em Portugal caminha-se em
sentido contrário, tornando as sensações e impressões, o eixo fulcral de um
julgamento e de uma sentença definitiva.
A partir de agora, derrubam-se os pilares essenciais de um
estado de direito e tudo o que vimos aprendendo sobre o respeito pelos valores
humanos e pelos direitos fundamentais de alguém suspeito de crime, cai por
terra, porque surge a nova figura jurídica da Ressonância e da Reverberação.
Teremos por aí também reverberações e fenómenos do
transcendental? Estará a nossa justiça a ser orientada por ecos, vislumbres, reflexos,
frequências, ondas eletromagnéticas ou sinais e fórmulas estranhas vindas do
espaço exterior? Ou será apenas uma manifestação da excentricidade, da
megalomania e do desregramento de uma juíza que não consegue conter dentro de
parâmetros concretos o seu absolutismo?
Estaremos de volta ao Big Brother, ou haverá quem queira
formar um novo Estado - a República Independente da Ressonância e da
Reverberação. Será assim?
J.L.F.
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